domingo, 2 de março de 2025

Ascendência de Manoel Lourenço de Barros

 

De São Gens / Salamonde, em Vieira do Minho (Portugal), em meados do século XVIII, partiu Manoel Lourenço de Barros para o além-mar, para multiplicar sua descendência em Barbacena-MG, Santa Rita do Ibitipoca-MG, Quilombo [atual Bias Fortes-MG] e Rosário de Minas [distrito de Juiz de Fora-MG].

No tocante a descendência do dito povoador, a saudosa pesquisadora Bartyra SETTE (2016) já a descreveu no sítio do Projeto Compartilhar, em publicação que leva o nome de “Manoel Lourenço de Barros” (vide referências). No texto aqui presente, vamos estudar a ascendência do referido, até então não pesquisada.

Na supracitada referência, temos que Manoel Lourenço de Barros se casou em Barbacena-MG, aos 06 de junho de 1756 com Maria do Rosário, filha dos açorianos Antônio Dias Novaes e Ana Maria de Jesus. No registro de matrimônio, Manoel consta como filho natural de João de Barros Pereira e Custódia Lourença (ou sejam os pais não eram casados). Sua naturalidade consta como São Gens de Salamonde no Arcebispado de Braga-PT.

No site “Nossas Famílias e Suas Histórias” (tiltedlogic.org), constam registros dos filhos do casal e indicação do registro de batismo do próprio Manoel (Lourenço de Barros). O referido foi batizado a 05/11/1721, na freguesia de São Gens de Salamonde, filho de Custódia Lourença, e, sem qualquer menção ao seu pai.

Após o matrimônio de Manoel Lourenço de Barros com Maria do Rosário em Barbacena, em 1756, temos o registro de dez filhos do casal. Dentre os filhos, destaco o registro de batismo de Prudente, batizado em Barbacena/Matriz a 27/03/1767. O registro, além de informar os pais, menciona os avós e a naturalidade de todos, ou seja, rico em informações e oportuno no auxílio de pesquisas posteriores. No batismo de Prudente, consta que o pai, Manoel Lourenço de Barros era natural da freguesia de São Gens de Salamonde de Braga, e, seus avós paternos eram João de Barros Pereira, natural de São Martinho de Ruivaens e Custódia Lourença natural de São Gens.

Na Tese de título “Indignos de servir: os candidatos rejeitados pelo Santo Ofício português (1680-1780)”, de autoria de Luiz Fernando Rodrigues LOPES (2018), há uma lista de candidatos ao Santo Ofício em Minas Gerais, cujos processos não foram concluídos. Dentre a longa lista de nomes, lá estava Manoel Lourenço de Barros. De minha parte, fui verificar se este era o nosso antepassado ou apenas um homônimo.

No site da Torre do Tombo, dentre as Habilitações Incompletas, acessei o documento; logo, na página inicial, vi os dados e verifiquei que o habilitando era o mesmo povoador de Barbacena, com os mesmos pais e naturalidade. O processo, em ótimo estado de conservação e boas condições de leitura, apresentaram muitas informações interessantes, em especial quanto ao teor genealógico.

Em resumo, o processo de Habilitação nos traz as principais informações (síntese):

 

Imagem 01:

- identificação do requerente, Manoel Lourenço de Barros, natural da freguesia de Salamonde, Conselho da Ribeira de Soaz, comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga, e morador na Freguesia de Nº Srª da Piedade da Borda do Campo, Minas Gerais, Bispado de Mariana, filho natural de João de Barros Pereira, já falecido, cirurgião da Vila de São Martinho de Ruivaens, Comarca de Bragança e de Custódia Lourença.

- desejo de servir a Deus e ao Sº Ofício no emprego de Familiar.

- neto pela parte paterna de João de Barros natural da vila de Ruivaens e Maria Pereira, natural de Cerdeira, freguesia de Santa Maria de Salto Concelho de Barroso.

- neto pela parte materna de Jacinto Lourenço e Maria Martins, já defuntos, naturais e moradores na freguesia de Salamonde.

- declara que o avô paterno João de Barros era irmão de Ignácio de Barros Pereira da Vila de Ruivaens era Familiar do Sº Ofício na Inquisição de Coimbra no ano de 1711, e o avô materno Jacinto Lourenço teve uma filha casada com o D.or Francisco Nunes da Roza, Familiar do Sº Ofício na Inquisição de Évora. [OBS: estas informações de parentesco estão equivocadas; nas páginas seguintes é dada a informação precisa].

 

Imagem 08:

- Manoel Lourenço de Barros tinha por mãe Custódia Lourenço, “naquele tempo solteira”.

 

Imagem 09:

- Os avós maternos viviam de sua fazenda e bens. A avó materna era cristã-velha, porém, havia rumor / fama quanto ao avô materno, Jacinto Lourenço.

- Ele (Jacinto Lourenço) era filho legítimo de Antônio Lourenço, natural de Rozário de Louredo e se casou em Salamonde com Madalena de Araújo, em que desta vêm o rumor; era irmã inteira de Antônio de Araújo, ambos de Salamonde, filhos de Domingos (*) Pires e Guiomar de Araújo.

(*): o nome correto é Antônio Pires, como se observará adiante.

- Antônio de Araújo teve por filho Brás de Araújo, que teve por filha Senhorinha “moça”, que, se ausentou para a Vila de Arraiolos para casa de seu tio João de Moraes; ao receber sacramento, mudou o nome para Maria de Moraes; mudando de nome, foi habilitada para casar-se com o D.or Francisco Nunes da Roza.

 

Imagem 10:

- O sacerdote do hábito de São Pedro, Pe Manoel Ribeiro, é neto do dito Jacinto Lourenço.

 

Imagem 12:

- O pai, João de Barros Pereira, era ali casado; a mãe era solteira, de “parto adulterino”, e se casou depois.

- A avó materna se chamava Maria Gomes ou Maria Gomes Martins.

- Por parte de pai é cristão-velho, porém “Jacinto Lourenço padecia infâmia ou fama de judeu” pelas testemunhas. Um antepassado era de Quintas de Lavradas, da freguesia de Bessa, Concelho de Barroso.

 

Imagem 13:

- para aquele lugar viera Francisco Pires de Araújo, filho de Jacinto Lourenço, de Salamonde, e lá teve filhos. Um dos filhos foi Custódio de Araújo, cirurgião de um navio, foi para Lisboa, e se casou com Eva, filha do capitão do mesmo navio, homem de negócios.

- Padre Manoel Ribeiro era primo carnal de Manoel Lourenço de Barros (...).

- De seu antepassado Antônio Pires, casado com Guiomar de Araújo não havia notícia por passar mais de 130 anos. Destes nasceu: Madalena Pires de Araújo, Antônio de Araújo, religioso na Ordem de S. Domingos no Convento de Elvas, Lourenço Pires e Francisco Pires de Araújo.

 

Imagem 14:

- De Francisco Pires de Araújo, houve os filhos:

Antônio Pires / ou Araújo, pai de Custódio de Araújo, Familiar do Sº Ofício em Lisboa.

Brás de Araújo, pai de “Senhorinha” ou “Maria Josefa”, casada com o D.or Francisco Pereira da Roza.

- De Madalena Pires nasceu Jacinto Lourenço, pai de Custódia Lourença e Anna Lourença, esta mãe do Pe. Manoel Ribeiro, “primo carnal em 2º grau de consanguinidade” do habilitando.

- O habilitando e nenhum de seus ascendentes foram presos; não foi casado e não teve filhos ilegítimos. [OBS: somente depois deste processo ele se casou em Barbacena].

- Inquirições na Freguesia de Bessa, Quinta dos Reis e Rabo de Ovelha. Eram locais de má-fama, mas não houve informações específicas de lá.

 

Imagens 15 e 16: lista das testemunhas / nome completo e idade.

 

Imagens 17 e 18: Manoel Lourenço de Barros sabia ler e escrever, tinha cavalos, mercador, trabalhou como sapateiro, tinha disponibilidade de $ 6 mil Cruzados, idade 36 anos, solteiro, sem filhos ilegítimos, ascendência em conformidade.

Lista de depoentes em Barbacena e assinatura do Pe. Feliciano Pitta de Castro.

 

Disto, o processo não teve prosseguimento e conclusão, e, infelizmente, não saberemos a razão pela qual ele não foi adiante e concluído.

 

Visto que Manoel Lourenço de Barros era sobrinho de Ignácio de Barros Pereira, familiar do Santo Ofício, pesquisei o processo de Habilitação do referido, formalizado em 1711. O processo traz importantes informações:

 

Imagem 05:

- identificação do requerente: Ignácio de Barros Pereira, natural de Vila de Ruivaens, freguesia de São Martinho, comarca de Bragança, Arcebispado de Braga, filho legítimo de João de Barros, natural e morador na dita vila e Maria Pereira, do lugar de Cerdeira, matizada na freguesia de Sª Mª de Salto, Concelho de Monte Alegre e moradora em Ruivaens; neto paterno de Ignácio de Barros, morador na Vila de Ruivaens e Izabel Dias, natural de Salamonde, freguesia de São Gens, concelho da Ribeira de Soares e moradora na vila de Ruivaens; neto materno de João Gonçalves natural de São Pedro Fins de Ponderas Concelho da Vila de Monte Alegre e morador na Cerdeira, freguesia de Sª Mª de Salto, Monte Alegre e Izabel Gonçalves, natural e moradora em Sª Mª de Salto.

- casado com Maria de Moraes, natural de Campos, lugar da Vila de Ruivaens, filha de Antônio Pires, natural do dito lugar e Domingas João, natural de Soutelos e batizada em Sº Martinho de Ruivaens; neta paterna de Domingos Pires e Catarina Afonso e neta materna de João Gonçalves e Domingas Jorge.

- requisição para se tornar Familiar do Santo Ofício.

 

Imagens 110, 111 e 112:

- transcrição do batismo de Izabel Gonçalves, avó materna do habilitando, na Igreja de Sª Maria de Salto. Foi batizada a 05/10/1631, pelo Pe Antônio Pereira, filha de Domingos [Lage] e “de sua mulher”.

- transcrição do casamento de João Gonçalves e Izabel Gonçalves, realizado em Cerdeira, a 14/06/1648 (a transcrição do registro não informa os pais dos nubentes).

- transcrição do batismo de Maria Pereira, a 11/02/1649 em Sª Maria do Salto, Monte Alegre, filha de João Gonçalves e “sua mulher”, do lugar de Cerdeira; foram padrinhos Pedro, solteiro, filho de Maria Gonçalves, viúva do mesmo lugar e Maria Dias, mulher de Balthazar Pereira.

- transcrição do casamento de João de Barros de Ruivaens com Maria Pereira, realizado em Sª Mª de Salto a 11/05/1678, celebrado pelo Pe. Gonçalo Barroso Pereira.

 

Imagens 135 e 137:

- Não foi encontrado o batismo do avô materno do habilitando (João Gonçalves).

- Não foi encontrado o batismo da avó paterna do habilitando (Izabel Dias), porém, o Pe. Gervásio Antunes, de Salamonde, informou que a dita Izabel Dias era filha de Álvaro Dias e Águeda de Araújo.

- Não foi encontrado o casamento da referida Izabel Dias com Ignácio de Barros.

 

Ignácio de Barros Pereira foi considerado “habilitado e limpo de sangue”, e tornou-se Familiar do Santo Ofício da Inquisição de Coimbra.

 

Além das informações supracitadas, procurei diversos registros nas freguesias de São Gens de Salamonde e São Martinho de Ruivães, ambas localizadas no Concelho de Vieira do Minho-PT. Nas pesquisas, foi possível obter mais informações da família e trajetória dos Lourenço e Pereira de Barros na região:



Além destes registros inerentes ao período em que João de Barros Pereira e Custódia Lourença viveram, encontrei também registros mais antigos, concernentes a ascendência de ambos, em Salamonde:


- Falecimento de Maria de Araújo, a 05/03/1634 em Salamonde. O registro cita escritura ao “genro Álvaro Dias”.

- Izabel, batizada em Salamonde a 17/11/1628, filha de Álvaro Dias e Águeda de Araújo.

- Casamento em Salamonde, a 26/07/1622 de Álvaro Dias e Águeda de Araújo. Testemunhas: Fernando Dias, João de Araújo e outros. O registro não cita os pais dos noivos.

- Casamento em Salamonde, a 11/06/1609 de Antônio Araújo e Maria de Araújo; ele, filho de Gonçalo de Araújo e Branca [ilegível]; ela, filha de Pedro Araújo e Catarina Vaz.

OBS: encontrei apenas esta Maria de Araújo casada com este Antônio de Araújo. Não encontrei o batismo de Águeda de Araújo, esposa de Álvaro Dias; no entanto, sabemos que a dita Águeda de Araújo era filha de uma Maria de Araújo.

 

- Óbito e testamento de Jacinto Lourenço, em Salamonde, a 17/02/1734.

- Casamento em Salamonde a 31/12/1721 de Custódio Vieira da Motta e Custódia Lourença, filha de Jacinto Lourenço e Maria Martins.

- Óbito de Antônio Lourenço em Salamonde, a 19/06/1670.

- Casamento em Salamonde, a 30/01/1650 de Antônio Lourenço e Madalena Pires de Araújo. Testemunhas: João Lourenço, Domingos Lourenço e Francisco João.

- Óbito de Guiomar de Araújo em Salamonde, a 01/10/1668; citou o genro Antônio Lourenço como herdeiro.

- Casamento em Salamonde, a 20/05/1631 de Antônio Fernandes com Guiomar de Araújo, “viúva de Antônio Pires”.

- Batismo em Salamonde, a 10/02/1623 de Madalena, filha de Antônio Pires e Guiomar de Araújo.

 

Com todas as informações coletadas no processo de Manoel Lourenço de Barros [1754] e registros paroquiais encontrados, podemos descrever a família dos Pires de Araújo / Lourenço. Aqui desenvolvo:

Guiomar de Araújo foi casada com Antônio Pires, residentes em Salamonde. Em 20/05/1631, viúva, casou-se segunda vez com Antônio Fernandes. Faleceu na mesma localidade, a 01/10/1668. Com Antônio Pires, teve os filhos:

F1. Antônio de Araújo, natural de Salamonde. Religioso na Ordem de São Domingos no Convento de Elvas. Filho:

F2. Madalena Pires de Araújo, batizada em Salamonde a 10/02/1623, casou-se na mesma localidade a 30/01/1650 com Antônio Lourenço, natural de Rozário de Louredo. João Lourenço, Domingos Lourenço e Francisco João foram testemunhas do matrimônio. Antônio foi citado como herdeiro da sogra Guiomar de Araújo, no registro de 01/10/1668, e faleceu em Salamonde a 19/06/1670. Filhos:

F2N1. Jacinto Lourenço, com “infâmia ou fama de judeu” citada no processo de seu neto Manoel Lourenço de Barros em 1754, cuja fama era oriunda de seus avós maternos, mas, não comprovada, conforme depoimentos. Faleceu com testamento em Salamonde, em 17/02/1734, proprietário de terras e somas em dinheiro. Foi casado com Maria Martins {Gomes}, com pelo menos os seguintes filhos:

F2N1B1. Custódia Lourença, casada em Salamonde a 31/12/1721 com Custódio Vieira da Motta; antes do matrimônio, quando solteira, teve “parto adulterino”, cujo pai foi o cirurgião João de Barros Pereira, natural de Ruivães. Filho:

F2N1B1Tr1. Manoel Lourenço de Barros, indivíduo em voga neste texto.

F2N1B2. Anna Lourença. Não é mencionado o nome de seu marido no processo, mas é dado por filho:

F2N1B2Tr1. Pe Manoel Ribeiro, sacerdote do Hábito de São Pedro.

F2N1B3. Manoel Lourenço, casado com Izabel Dias. Citados no testamento de Jacinto Lourenço.

F3. Lourenço Pires, casado em Campos de Lama Longa, Concelho de Ruivães.

F4. Francisco Pires de Araújo, com os filhos:

F4N1. Antônio Pires {ou Araújo}, com o filho:

F4N1B1. Custódio de Araújo, cirurgião, casado com Eva, filha de um capitão de navio, homem de negócios. Familiar do Sº Ofício em Lisboa.

F4N2. Brás de Araújo. Teve por filha:

F4N2B1. Senhorinha. Se ausentou para a vila de Arraiolos, para casa de seu tio João de Moraes; ao receber o sacramento, mudou seu nome para “Maria de Moraes” ou “Maria Josefa”. Posteriormente, foi habilitada para se casar com o D.or Francisco Nunes da Roza, familiar do Sº Ofício da Inquisição de Évora.


No tocante a ascendência de Manoel Lourenço de Barros, natural de Salamonde, habilitando ao Santo Ofício em 1754, e, posteriormente casado com Maria do Rozário em Barbacena, Minas Gerais, temos a seguinte árvore de costados:




Aqui encerro a pesquisa acerca da ascendência de Manoel Lourenço de Barros, português de São Gens/Salamonde, Braga e povoador de Minas Gerais, em específico Barbacena, Ibitipoca, Bias Fortes e do distrito de Rosário/Juiz de Fora, na expectativa futura de continuar os estudos e encontrar mais informações.

 

REFERÊNCIAS:

 

SETTE, Bartyra. Manoel Lourenço de Barros. Projeto Compartilhar. Disponível em: http://www.projetocompartilhar.org/Familia/ManoelLourencodeBarros.htm

 

Manoel Lourenço de Barros in “Nossas Famílias e Suas Histórias”. Disponível em:

https://tiltedlogic.org/Familia/getperson.php?personID=I7553&tree=Miriam01

 

Batismo de Prudente, Barbacena/Matriz, 27/03/1767. Family Search. Disponível em:

https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-65MQ-K5D?view=index&personArk=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3AQL99-MNGZ&action=view&cc=2177275&lang=pt

 

Diligência de Habilitação de Manoel Lourenço de Barros. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações Incompletas, doc. 4286. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2348311

 

Diligência de Habilitação de Ignácio Pereira de Barros. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Inácio, mç. 3, doc. 48. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2329794

 

Tombo.pt . Registros Paroquiais Portugueses:

Braga  > Vieira do Minho >  Salamonde: https://tombo.pt/f/vrm15

Braga  > Vieira do Minho >  Ruivães: https://tombo.pt/f/vrm14

 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

AVISO para clientes (CIL) - 30 janº 2025

 Prezados Clientes (CIL),

Por meio deste, informo a todos:

Estamos a ter um número grande de pedidos da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), cujas solicitações são contínuas e exaustivas.

Visto que:

- A CIL está levando mais de dois anos para emitir uma primeira análise ou solicitação, e, em raríssimas ocasiões, o certificado é emitido sem ocorrer pedidos ou solicitações de documentação adicional.

- A CIL está a pedir revisão das árvores genealógicas, solicitando que sejam retirados “datas e local desconhecidos” para eventos (batismo, casamento e óbitos) quando não temos tais informações, sendo que, esta era a orientação de preenchimento no próprio site da instituição e modelo de árvore genealógica da própria CIL.

- Temos vivenciado situações em que, muitas vezes, pessoas da mesma família que iniciaram processos na CIL com o mesmo relatório genealógico, tem resultados diferentes, como, por exemplo, um membro da família receber a certificação e o outro não, sendo que entraram com a mesma documentação.

- Em diversas ocasiões, mesmo quando uma ligação familiar está bem embasada, com um inventário ou outro documento, a CIL solicita documentos adicionais (geralmente certidão de casamento), sendo que, muitas vezes, estes documentos não existem ou não possuem a informação requisitada pelos mesmos (por exemplo, registros de casamento que não mencionam os pais dos noivos – omissão muito comum no Séc. XIX).

- Bibliografias, antes aceitas, não são mais. Apenas a Genealogia Paulistana têm sido aceita, para gerações mais antigas.

- Os critérios de avaliação foram alterados consideravelmente, sem aviso prévio e sem publicação no site da instituição.

 

Todas estas mudanças se aprofundaram a partir de setembro/2022. O governo português, na época, imputou para a CIL maior responsabilização no processo de certificação, o que alterou as emissões de certificados. Infelizmente NÃO existe nenhuma garantia de que o processo será bem-sucedido, visto que a própria instituição (CIL), não considera aquilo que ela mesma já aprovou. A considerar que é uma entidade que não tem obrigatoriedade jurídica para emissão do certificado, cabe-nos tentar cumprir o que se pede. A lembrar que estamos no âmbito do direito português.

 

Processos Familiares - Comunicado:

- Quanto aos pedidos de revisão de árvore genealógica, vou efetuá-las apenas uma primeira e única vez, e enviar o arquivo em WORD para os senhores, para que possam efetuar os ajustes posteriores requisitados pela CIL.

 

- Do momento que envio este aviso adiante, NÃO VOU RESPONDER A CIL pedidos de documentação complementar para gerações já aprovadas no certificado “matriz”. Quando fui contratado para o processo familiar, o objetivo era apenas a formalização deste, e não fui pago para pesquisa documental e genealógica complementar nas gerações antigas / já aprovadas (que requer buscas de certidões e documentos – quando existem).

 

SE VOCÊ RECEBEU ALGUMA SOLICITAÇÃO DA CIL, siga abaixo as instruções:

 

1.         Pendência que exige nova árvore genealógica (modelo B):

Entrar em contato através do meu e-mail saulo_franco@yahoo.com.br e solicitar a árvore genealógica em WORD, para que o senhor(a) faça a formatação de acordo com o solicitado pela CIL. Quando houver a recomendação de retirar da árvore a expressão “data e local desconhecidos”, você deve substitui-la por “Minas Gerais, Brasil” ou “Ceará, Brasil”, “São Paulo, Brasil” ou “Portugal”, a depender da geração e contexto dos antepassados.

 

2.         Pendência que exige envio de nova procuração:

Verificar com advogado(a) ou modelo de procuração no próprio site da CIL.

 

3.         Pendência que exige o novo envio do formulário:

Verificar com advogado(a) ou formulário (modelo) no site da CIL.

 

4.         Pendência que exige uma nova autorização familiar:

A CIL está a exigir que somente o requerente que pagou € 500,00 de donativo possa assinar a autorização familiar. Por anos, não foi assim; várias pessoas que receberam os certificados transmitiam a autorização – o que não aceitam mais. Então, deverá verificar com quem lhe forneceu a autorização familiar a seguinte informação: quem foi a pessoa que fez o pagamento dos 500 euros na linha? Essa pessoa deverá compartilhar bisavós com você e assinar nova autorização.

Caso não possua isso, eventualmente deverá fazer o complemento do donativo restante.

 

5.         Exigência / solicitação de documentação da linha – documentos adicionais:

Verificar informações / documentos em cartórios (após 1889) ou Inventários/Fóruns Regionais, Igrejas/Dioceses (anterior a 1889) ou registros/digitalizações no Family Search. Verificar também com o familiar que deu a autorização a documentação utilizada no relatório genealógico inicial.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Hilário – Fernandes (Simão Pereira)

 

Hilário [Africano / da Silva] e Lúcia (ou “Luiza Parda”) [Maria de Jesus], assim identificados no registro de casamento dos próprios em Simão Pereira a 26/05/1855 (Liv. Casamentos 1820/1863 folha 28), no batismo da filha Eva e no registro civil de nascimento da neta Emília, respectivamente, eram escravizados e “propriedades” de Felicíssimo José de Oliveira. Posteriormente, “pertenceram” a Antônio Francisco Alves Rosadas, até a ocasião em que o Comendador Cristóvão Francisco Alves Rosadas, irmão de Antônio Francisco, “adquiriu-os” em leilão, junto com outros escravizados.

Felicíssimo José de Oliveira, proprietário de terras em Simão Pereira, foi casado com D. Francelina, de cujo matrimônio teve os filhos Antônio Felicíssimo de Oliveira, Pedro José de Oliveira e Anna, casada com Paulino Meirelles da Silva Netto.

Quando estes filhos ainda eram menores, Felicíssimo tinha dívida superior a $ 40 Contos de Réis junto a Antônio Francisco Alves Rossadas, e, após o falecimento de Felicíssimo, a viúva Francelina contraiu matrimônio justamente com o dito Antônio Francisco. Na ocasião, como os filhos eram menores, o Comendador Cristóvão Francisco Alves Rossadas (irmão de Antônio Francisco) se tornou tutor dos órfãos e administrador do espólio, no ano de 1862. Após isto, o padrasto Antônio Francisco, obtendo sentença judicial de execução de bens, arrematou os bens do espólio de Felicíssimo José de Oliveira. O irmão Cristóvão Francisco foi escuso da tutoria dos órfãos em 28 de março de 1870, após prestar constas.

Para pagamento de dívidas próprias, Antônio Francisco, efetuou leilão de seus bens [antes pertencentes a Felicíssimo José de Oliveira] em Maio/1874, arrematados justamente pelo seu irmão (e credor) Cristóvão Francisco. Portanto, tanto o casamento, quanto a tutoria e os arremates de bens foram vantajosos para os irmãos Rossadas, em prejuízo dos filhos de Felicíssimo José de Oliveira. Visto os acontecimentos, os herdeiros receberam cotas que não chegavam a 1/7 do que, teoricamente, deveriam receber do espólio.

Visto os acontecimentos, ocorreram disputas judiciais entre os herdeiros e o Comendador Cristóvão Alves Rossadas, com sentenças em 19/12/1879 (Juiz de Fora – 1ª Instância), com decisão favorável ao comendador; 12/10/1880 (Ouro Preto – 2ª Instância), com decisão favorável aos herdeiros, e 16/11/1881 (Rio de Janeiro – STF), revisão de decisão e encaminhamento novo julgamento; sem informações adicionais.

Antes deste contexto de disputas judiciais, os escravizados Hilário e Lúcia estavam inclusos nos “bens”, o que explica a mudança de “propriedade” do casal sob seus “senhores”.

Hilário e Lúcia, casados a 26/05/1855, conforme registros nos livros de Simão Pereira [1856 a 1892], são citados no inventário [1861] de Felicíssimo José de Oliveira. Hilário tinha 30 anos de idade em 1861 e foi “avaliado” em 2:000§000 (dois contos de Réis); Lúcia “parda” tinha 28 anos de idade e foi “precificada” em 1:800§000; foram pais de:

- Eva Maria [Fernandes], batizada em 23/10/1859 (Liv. Batismos Simão Perª 1839/1872, folha 7); foi citada no inventário de 1861 de Felicíssimo José de Oliveira, como filha de “Hilário da Nação” e “Lúcia parda”, com 2 anos de idade e “avaliada” em 850§000. Em 12 de junho de 1869, foi transferida para a “posse” de José Felicíssimo de Oliveira, um dos herdeiros de Felicíssimo J. de Oliveira.

Posteriormente Eva viveu em Simão Pereira com o português José Antônio Fernandes, filho de Manoel José Fernandes e Rosa Maria, n. aprox. 1837 e falecido a 15 set 1894, em Simão Pereira, com inventário. No batismo de seu segundo filho, Fernando, Eva o teve como filho natural, ou seja, não era formalmente casada; no registro civil de sua filha Emília, em 1892, constava como casada com José Antônio Fernandes.

As fontes orais de família, são divergentes: De acordo com uma das versões, José Antônio Fernandes “comprou” Eva e posteriormente se casou com ela, ou, segundo outra narrativa, a “roubou”. No tocante a Eva, não consegui até o momento encontrar documentos que demonstram a transição da vida cativa para a vida livre e as circunstâncias de sua união conjugal com José Antônio.

Quando o marido faleceu em 15 set 1894, Eva estava grávida, cuja criança nasceu em 28 de outubro, natimorta (pág. 300 do inventário), ou seja, pouco mais de 1 mês após o falecimento do marido, o que demonstra o contexto de sofrimento e dificuldades da matriarca da família.

Na ocasião do inventário, o Monte-Mór foi de 21:511 $ 000, consistindo em uma casa no arraial de S. Pedro de Alcântara de 6 janelas e 1 porta, em frente à Igreja e divisa com Bento da Rocha e José Antônio de Azevedo, e também móveis, 1 cavalo, 4 vacas e 2 novilhas, e lotes/terras com pés de café.

Do casal, houve os seguintes filhos, citados no inventário [1894] de José Antônio Fernandes:

- Francisco José Fernandes, solteiro, 17 anos em 1894; nasc. apr. 1877.

- Fernando José Fernandes, nascido em 14/12/1883, batizado a 13/04/1884, como “filho natural de Eva Lúcia de Jesus”, ou seja, sem menção ao pai. Teve por padrinhos Ernesto de Barros Machado da Silva e D. Gabriella de Barros Machado da Silva. Durante o inventário de seu pai, deu-se a maioridade de Fernando, razão pela qual foi transcrito seu registro de batismo, no inventário.

- Jovelino José Fernandes, 13 anos; n. ap. 1881. Posteriormente casado com Emília Júlia Fernandes, e falecidos antes de 10/05/1905. Tiveram a filha:

- Carmém, com 2 anos de idade em 1905. O tio Francisco José Fernandes, em nome de Eva Maria de Jesus, requisitou a tutoria da neta em seu nome, no inventário de José Antônio Fernandes.

- Francisca Rosa Fernandes, 9 anos; n. ap. 1885.

- Florinda Rosa Fernandes, 8 anos; n. ap. 1886.

- Ernesto José Fernandes, 6 anos; n. ap. 1888. Casou-se posteriormente com Elvira Rodrigues {Fernandes}, nascida em Simão Pereira a 02/09/1890, filha de Cesário Rodrigues de Morais e {Ana} Felismina de Almeida Campos; neta paterna de José da Costa Rodrigues e Anna Antônia da Conceição; neta materna de Antônio {José} Campos {Fiuza} e Francisca {Ignácia} de Almeida {Campos}. Pais de:

- Milton Fernandes, barbeiro. Em vida, foi filiado ao Partido Comunista do Brasil. Com geração.

- Ruth Rodrigues Fernandes, casada com Geraldo de Azevedo. Filhos:

- Geraldo Fernandes de Azevedo, casado com Dejanira. Filha:

- Janaína Azevedo

- Gílson Fernandes de Azevedo, falecido. Casado primeira vez com Maria Helena Loureiro, com os filhos:

- Gílson

- Geraldo José

Casou-se segunda vez com Lúcia Moreira, com os filhos:

- Marlon

- Fernanda

- Ruth Aparecida de Azevedo Franco, casada com Sebastião Lopes Franco. Filhos:

- Leila Maria de Azevedo Franco

- Livia Maria de Azevedo Franco

- Saulo Henrique de Azevedo Franco. Autor do texto.

- Ernesta (Tatina), casada com Onofre Almeida. Pais de:

- Maria Lúcia, “Lucinha”

- Elvira Lane

- Nina, falecida em 2012.

- Elvira, casada com Sebastião Belozzi, “Tatão”.

- Geraldo “Periquito”, casado, com geração.

- Irene

- Nélson

- Armando

- Emília Rosa Fernandes, 2 anos de idade; nascida em 08 de agosto de 1892. Certidão civil de nascimento no Cartório de Simão Pereira, termo 142 (ou 1158). No documento, seus pais constavam como casados.

 

- João, nascido aprox. em 1863, falecido com dois anos, a 13/05/1865 (Liv. Óbitos Simão Perª p. 02v).

- Custódia, falecida a 30/07/1864 (Liv. Óbitos Simão Perª p. 01), com registro de óbito no dia seguinte. Criança.

- Roque, batizado a 05/08/1866 (Liv. Batismos Simão Perª 1839/1872 folha 22). Sem informações posteriores.

- Alfredo, nascido aprox. em 1871, falecido com 4 anos e 3 meses, a 24/09/1875 (Liv. Óbitos Simão Perª p. 53). OBS: neste registro, os pais são citados como escravos de Cristóvão Francisco Alves Rosadas.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

Certidão de Casamento de “Hilário Africano” com “Luzia Parda” e outros. Simão Pereira-MG, 26/05/1855. Livro Casamentos 1820/1863 folha 28. Arquidiocese de Juiz de Fora.

 

Certidão de Batismo de Eva, filha de Hilário e Lúcia, escravos de Felicíssimo José de Oliveira. Simão Pereira-MG, 23/10/1859. Livro Batismos 1839/1872, folha 7. Arquidiocese de Juiz de Fora.

 

Consulta Presencial a Livros de Batismo, Casamentos e Óbitos (disponíveis) de Simão Pereira-MG. Arquidiocese de Juiz de Fora.

 

Revista Mensal de Legislação, Doutrina e Jurisprudência. Ano X – 1882. 27º Volume. Revista Civil n. 9772, p. 71-79. Recorrente: Cristóvão Francisco Alves Rossadas. Recorridos: Antônio Felicissimo de Oliveira e outros.

 

Inventário de Felicíssimo José de Oliveira [1861]. Fundo Benjamin Collucci. Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

 

Inventário de José Antônio Fernandes [1894]. Fundo Benjamin Collucci. Arquivo Histórico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

 

Certidão de Nascimento de Emília: 08/08/1892. Cartório de Simão Pereira-MG.

 

Certidão de Nascimento de Elvira: 02/09/1890. Cartório de Simão Pereira-MG.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Censos Populacionais de Juiz de Fora 1865-1870

 

Prezados leitores,

Por meio da presente postagem, disponibilizo a todos links de acesso para fotografias das páginas das listas nominativas / populacionais dos Censos realizados entre 1865 a 1870, nos distritos de Rosário, Chapéu D’Uvas (ambos situados em Juiz de Fora - MG) e São Pedro de Alcântara (atual município de Simão Pereira - MG).

As fotografias foram feitas em 04 de junho de 2024, no Arquivo Histórico da Prefeitura de Juiz de Fora, devidamente autorizadas.

Ressalto aqui a postagem das fotografias e informações sem fins lucrativos, apenas com intuito de disponibilizar tão rico e importante acervo, cujos originais se encontram no supracitado arquivo.

 

Links de Acesso:

 

Chapéu D’Uvas 1866:

https://drive.google.com/drive/folders/1ZvUg0vLUmGCF1qKzUNIdQyB8RmJ2mBvx?usp=drive_link

 

Rosário de Minas 1865-1870:

https://drive.google.com/drive/folders/10ws5FbMSuGM0AeRgIB_X4hDEf6seAvw9?usp=drive_link

 

São Pedro de Alcântara 1870:

https://drive.google.com/drive/folders/1Qmy_OI7SluicabZxPZUbyaTKrxrSaNk9?usp=drive_link

 

Atenciosamente,

Saulo Franco

domingo, 25 de junho de 2023

Raízes de um mineiro

 [uma poesia genealógica]


Raízes do sangue e do nome

Raízes de família e História

Raízes de poder e dor

Raízes de riqueza e servidão

Raízes da nossa construção

 

Dos simples avós roceiros

Até velhos coronéis

Passando pelo tropeiro e escravo

Cujo sangue ilustrou o ouro

E suor a lavoura irrigou

E o Caminho Novo cavou

Dos brutos bandeirantes

Do qual andou reinóis e ilhéus

Para formar as Minas Gerais

 

De São Paulo surgiu

Pela força e astúcia

Os mestiços bandeirantes

De luso sangue e brasílica língua

Brutos e rudes

Forjados pela luta

Com gotas de fidalguia

E um mar de gentios

Regados a impureza de Abraão

Com temor do Santo Ofício

Todos filhos de Portugal

 

Do Tejo e do Douro

De Trás-os-Montes e Alentejo

Saíram os Heróis do Mar

De todas virtudes e crimes

De todas qualidades e vícios

De todas as naturezas

De todas classes e ofícios

Da nação valente e imortal

Rumo ao desconhecido

 

Dos sem fidalguia

Das origens não se sabe

E seus velhos avós

Na História não mais existem

 

E os filhos da gente simples

Gonçalves, Lopes, Pires, Rodrigues

Jogaram uma pitada

De Viana, Braga, Porto e Lisboa

Para mostrar a sua origem

E seus nomes melhorar

 

E em fiapos de raízes

Surgem alguns Filhos de Algo

Conhecidos por Fidalgos

Cuja memória se conserva

Pelos suspeitos brasões

E incertos Nobiliários

 

Dos senhores de solares

Aos Fidalgos do Paço

Servidores D’El Rei

Da Nobre e Leal Lisboa

Guardada pelos Cavaleiros

E todo o Reino com as bençãos

De seus Homens de Deus

Muitos destes fidalgos

Com suas servas e mancebas

Semearam suas sementes

 

E na terra lusa

De tantos feitos e dívidas

Surgiu a cegueira fanática

Que condenou as Sinagogas

No infame decreto Venturoso

Os filhos de Abraão

Que pelas águas se espalharam

Doutros se fizeram

Novos nomes e nova crença

Mas as raízes continuam

E nas sombras há Judá

Até o vil vizinho entregar

O parente delatar

E a fogueira revelar

 

E no passado ficou

As brumas da memória

Dos tempos de João boa memória

E da glória de Aljubarrota

Donde antigos nobres caíram

E novos nobres vieram

Se recria a velha nação

Por Afonso Henriques fundada

Por Viriato concebida

Por Roma batizada

Forjada na mão bárbara

Conquistada pelo mouro

Retomada por Leão

No espólio de Sousões

E dos brutos Braganções

De Ribadouros, Maias e Baiões

Surge a nação-mãe

De Brasil, Portugal e Algarve!

 

Saulo Franco

25 de junho de 2023

segunda-feira, 1 de maio de 2023

OS CRISTÃOS-NOVOS E POVOAMENTO DO BRASIL: Resumo da obra de José Gonçalves Salvador

 

Neste espaço, apresento o resumo de minha leitura da obra “Os Cristãos-Novos: Povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-1680)”, do pesquisador e escritos José Gonçalves Salvador. A referida leitura e anotações, de minha lavra, foram finalizadas em 23 de março de 2021, e agora faço a publicação destas notas.

José Gonçalves Salvador, nascido em Lins-SP aos 08/09/1916, era formado em Teologia em 1939, com conhecimentos de grego e hebraico; exerceu ministério na Igreja Metodista e posteriormente graduou-se em Geografia e História na USP e obteve seu título de Doutor em 1967, na área de Ciências Humanas. Realizou diversas pesquisas na Europa e em Portugal, e publicou vinte obras bibliográficas, várias relacionadas a História do Brasil e a temática dos cristãos-novos, cujo assunto, foi um dos pioneiros.

Neste resumo, alterei a posição dos temas, de modo a construir todo um “fluxo cronológico” dos fatos narrados. Sempre as anotações são seguidas do número da página do livro cuja informação foi extraída.

As anotações enfatizam os fatos históricos, ao invés de peculiaridades específicas de cada cristão-novo, em que Gonçalves Salvador, em diversas vezes, o faz.

Na leitura, recomendo ao leitor atentar-se para as siglas:

XN = cristão-novo;

XV = cristão-velho;

 

Aqui dou início as considerações:

 

ESPANHA: RECONQUISTA e SURGIMENTO DA INQUISIÇÃO:

- Reconquista envolveu a construção da nação espanhola, aclamação racial e religiosa contra todos aqueles não-católicos (p. 21).

- Massacre de Sevilha (1391) contra judeus. Obrigações posteriores de batismo e conversão (p. 21).

- Proibição de Cargos Públicos (1408) aos XNs, pelo Rei Afonso, o Sábio (p. 21).

- Uso de sinais distintivos (1412), por ordem do Rei Henrique II (p. 21).

- Profissões de boticário, físico e cirurgião eram “meios para cometerem abusos”, os XNs, segundo Gonçalves Salvador (p. 21).

- Organização do Tribunal do Santo Ofício em 1478. Demanda da velha nobreza em desabono a florescente burguesia e prestamistas, contratadores, comerciantes, médicos, sacerdotes e funcionários públicos. Clero tinha muitos cristãos-novos (p. 22).

- Novo morticínio de XNs na Espanha em 1481 (p. 22).

- Corporações religiosas aumentam o rigor da “limpeza de sangue” para o Ingresso nas ordens (p. 22).

- Decreto de Expulsão dos Judeus em 1492 (p. 22).

- Fernando e Isabel: proibição de impressão de livros em latim e romance. Obras necessitavam de exame e permissão. Condições de “fidelidade a fé católica” (p.213).

- Grande controle de estrangeiros nas colônias espanholas; até os aragoneses eram submetidos a controle e restrições nas colônias (p.85). Temores quanto a espionagem (p.86).

- 1558: Papa Paulo IV impediu XNs de ingressarem no Hábito de São Francisco, e tornou oficial a exigência de pureza de sangue (p. 24).

- 1598: Papa Clemente VIII determinou que não houvesse impedimento para descendentes de judeus e hereges; mas Felipe, da Espanha, fez objeções a determinação do Papa (p. 24).

- 1600: exclusão dos XNs até o sétimo grau dos canonicatos, prebendas, dignidades eclesiásticas, benefícios e curas das almas (p. 24).

- 1611 a 1614: expulsão dos mouriscos (gerou problema de mão-de-obra) (pag. 92).

- Campanhas militares em Flandres (Países Baixos): grande demanda de recursos militares e financeiros dos cofres reais da Espanha (p.92).

- Filipe III a 11/03/1628 decretou permissão de casamentos mistos, graças a elevada quantia oferecida pelos judeus; houve grande reação e o Rei teve de voltar atrás (p. 4).

 

PORTUGAL e a INQUISIÇÃO PORTUGUESA:

- Revoluções e guerras “reciclam” a Nobreza. Muitos no campo de Ourique (1139) foram guinados a nobreza, quando apoiaram D. Afonso Henriques; A ascensão de D. João I e sua vitória em Aljubarrota (1385) promoveu grande mudança no perfil da Corte (p. 19).

- Enlaces matrimoniais e serviços ao Reino também eram formas de indivíduos alçarem a Nobreza (p. 20).

- D. Teresa Lourenço e D. Inês de Castro, amantes de D. Pedro I de Portugal eram judias (p. 3). NOTA de SAULO FRANCO: em pesquisas, não encontrei evidências de que ambas fossem XNs.

- D. Antônio, prior do Crato, era filho de D. Luís e de uma judia (p.4). NOTA de SAULO FRANCO: em pesquisas, não encontrei evidências de que ambas fossem XNs.

- Final do século XV – população estimada de Portugal: 1 milhão e 200 mil pessoas, dos quais 200 mil seriam judeus (p.45).

- Busca do saber, sinagogas secretas, fortalecimento da língua, incentivo a endogamia; por dois séculos, os judeus se mantiveram inassimiláveis. Trabalhos manuais não são castigos! (p.211).

- Capacidade, inteligência e pioneirismo judaico em vários ramos, os levavam a abusos, e atraíam a antipatia de alguns XVs e inveja de outros, segundo Gonçalves Salvador (p.213).

- Medievalismo permaneceu em Portugal e Espanha. O Renascimento e a Imprensa não tiveram fácil entrada na península (p.213).

- Portugal não tinha a aversão a hebreus que existia na Espanha. Mas, D. Manuel é obrigado a assumir o compromisso de banimento dos judeus para se casar com Isabel, filha dos Reis Católicos. Posteriormente, obrigou os judeus ao batismo e não-inquirições por 20 anos, mas, tão logo decretado, os XVs se apoiaram nos privilégios e logo veio o Tribunal (p. 23).

- Tratado de Tordesilhas: negociações complexas. D. João II, administrador da Ordem de Cristo, usou sua prerrogativa para pleitear a linha. Vantajoso para Portugal (p.283).

- Principais destinos dos XNs expulsos de Portugal: Brasil, Norte da África, Grécia, Turquia e Holanda (p.45).

- 1562: vedação aos XNs nos serviços públicos e profissões de físico-mor e médico (p. 24).

- 1564: restrições a publicações de livros (p.213).

- Ascensão do Cardeal D. Henrique ao trono e acirramento da Inquisição portuguesa – tensão aos XNs (p.159).

 

ARRENDAMENTO (1501-1516) DO BRASIL AO CONSÓRCIO E FEITORIAS:

- 1501 a 1516: Brasil foi arrendado a um consórcio de XNs, chefiados por Fernando de Noronha. Muitos dos pioneiros no povoamento foram XNs, (p.5).

- Quatro Feitorias: Porto Seguro, Cabo Frio (já existia em 1511), Pernambuco, Porto das Naus (S. Vicente) (pag. 237).

- Aproximação inicial com silvícolas e primeiras uniões conjugais, importante para a futura assimilação (pag. 238).

- 1526: embarque de açúcar de Pernambuco para o Reino (pag. 238).

 

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS x CAPITANIAS REAIS:

- Donatários (12): recebiam poderes extraordinários, conforme a Carta de Doação e o Foral. Poderes para nomear determinados cargos, arrendamento de passagens, licenças para construção de engenhos, distribuição de sesmarias, recebimento de dízimas e taxas (p. 242 e 243).

- Nas capitanias hereditárias haviam certas restrições quanto aos próprios donatários e parentes; nas capitanias reais os representantes da Coroa gozavam de maior “largueza” [ex: Correias de Sá, no Rio de Janeiro] (pag. 244).

 

NOBREZA “DA TERRA”:

- Indígenas consideravam uma honra ter filhas casadas com portugueses, de acordo com relato de Anchieta, a 16/04/1553 (p. 6).

- Os pioneiros, eram muito pobres, sem nobreza, dentre os quais muito degredados. Mas seus filhos e netos passaram a gozar de melhor situação social e econômica, e se aliaram por matrimônio a nobres e fidalgos que posteriormente vinham (p. 7).

- Pirâmide Social: Elite (alta administração) > Burguesia (militares graduados, senhores de engenho, clérigos, mercadores, profissionais liberais) > Povo Comum (artesãos, feitores, capatazes) > Negros e Ameríndios (p. 16).

 

RELAÇÕES FAMILIARES – XVs E XNs:

- Sempre houveram casamentos mistos. Várias famílias XV tinham também membros XNs (p. 4).

- Havia considerável carência de mulheres brancas na colônia, no Séc. XVI (p. 6).

- XNs gostavam de ter genros XVs, para maior segurança familiar (p. 12).

 

PROCESSOS DE HABILITAÇÃO:

- Interessavam muito aos XNs, assim como as ordens religiosas. Conferiam vantagens, privilégios e tranquilidade, permitindo elevação social e aproximação da Nobreza, isentando-os de certos impostos, contribuições forçadas e trabalhos indignos (p. 24).

- Parentes não podiam testemunhar. O processo durava meses ou anos, e tinha de haver pagamento inicial (p. 25).

- Consideráveis subornos e corrupção nos cartórios e nobilitações. Com o tempo, Ordens Militares e diversas mercês até entraram em descrédito (p. 27-28).

- D. João IV, restaurador: grande distribuição (venda) de mercês. Portugal precisava de recursos para as guerras contra espanhóis e holandeses (p. 29).

- Garcia Rodrigues Paes, construtor do Caminho Novo, não conseguiu a Habilitação a Ordem de X, por causa da avó materna; no entanto, o filho conseguiu, e este com o neto conseguiram se tornar fidalgos da Casa Real (p. 31-32).

 

QUESTÕES SUCESSÓRIAS QUANTO A CAPITANIA DE SÃO VICENTE:

- Sucesso inicial de São Vicente: clima, existência de povoação, participação pessoal do Donatário, presença de João Ramalho no planalto, boatos de minérios, instalação da indústria açucareira (p.370).

- D. Francisco de Faro, Conde de Vimioso, era marido de D. Mariana de Sousa da Guerra, Condessa de Vimieiro (herdou em 1611 a Capitania de São Vicente, do irmão Lopo de Sousa) – (p. 298). D. Francisco de Faro, foi contra os reis espanhóis. Ele e suas sete irmãs foram presos (p. 298).

- 1620: litígios de posse e demarcação – Conde de Monsanto x Condessa de Vimieiro (p.79). Demarcação em 1622, entre as Capitanias de Santo Amaro e São Vicente. São Paulo, Santos e São Vicente se tornou de Santo Amaro, sob o Conde de Monsanto; com a Condessa de Vimieiro, ficou apenas a vila de Itanhaém (p. 299).

- Fernão Vieira Tavares foi procurador da Condessa de Vimieiro até 1622, mas desentendeu-se com ela e foi substituído; passou a servir o Conde de Monsanto, e foi nomeado provedor da fazenda (p. 299).

- 1753: D. José I indeniza D. Carlos Carneiro de Sousa e Faro. São Paulo se torna Capitania Real (MINHA NOTA).

 

SÃO PAULO – ASPECTOS GERAIS:

- Colégio de Manuel da Nóbrega (1554): surgimento da povoação de São Paulo (p. 250).

- Em 1560: anexação de Santo André a São Paulo (guerras com silvícolas) (p. 250).

- Final do Sécº XVI: ataques de corsários a Santos/São Vicente – decadência dos núcleos (p.138).

- 1591: 140 fogos (São Paulo);

- 1606: 190 fogos, aproximadamente 950 moradores (São Paulo) – (p.290);

- Proporção estimada: 1.000 índios para 100 brancos. Prestígio de mamelucos, que reuniam os dois elementos (p.291).

- 1637: 600 habitações (São Paulo);

- 1660: 3 mil homens (São Paulo) - (informações do grupo de Salvador Correia de Sá); (p.62).

 

SÃO PAULO – CRISTÃOS-NOVOS:

- No início, o planalto paulista oferecia asilo, segurança e liberdade contra a Inquisição (p. 7).

- Primeiras cobranças de fintas em São Paulo, em 1606 (Atas da Câmara); (pag.58).

- Procedimentos em bandeiras: destruição de igrejas, objetos de culto, desacato a padres, prisão e assassinato de índios. Desrespeito a dias santos e jejuns. Os chefes das bandeiras sempre eram de linhagem sefardita ou aparentados com tais (p.53).

- Famílias com sangue semita: descendentes de Lopo Dias, Fernandes Povoadores, Garcia-Velhos, Dinis (entroncados com Camacho, Costa e Paiva), Estevão e Martim da Costa (ramificados via Mota, Colaço, Machado, Godoi Moreira e Lopes de Siqueira), Diogo Gonçalves Castelão, Branca Mendes, Vales, Vaz de Barros, Martim Rodrigues Tenorio, Geraldo da Silva, Francisco Lopes Pinto, Manuel Godis Malafaia, Tomás Freira, Gaspar Gomes, etc. Posteriormente, os Tavares – segundo Gonçalves Salvador (p. 62).

- José de Anchieta era em parte XN (p.81).

- Assinatura em cruz: nem sempre era sinal de analfabetismo (p.231).

- Apesar de algumas visitações e prisões, os XNs, no geral, jamais foram molestados coletivamente, e muitos eram influentes. A maioria, era de elementos comuns e pobres, mas houveram alguns da pequena nobreza, como os Vaz de Barros e os Correia de Sá (p. 371).

 

FUNDAÇÕES DE VILAS NO ESTADO DE SÃO PAULO:

- 1611: Fundação de Mogi-das-Cruzes (p.252).

- 1614: fundação de Curitiba, por Gabriel de Lara. Paranaguá elevada a vila em 1653 (p.289).

- 1620: Igrejinha de Sant’Ana do Paranaíba, por André Fernandes e sua mãe (p.255).

- 1643: Taubaté é vila, com Jaques Félix como fundador (p.254).

- 1651: Pelourinho em Guaratinguetá, por Domingos Dias Leme (p. 254).

- 1653: Jacareí elevava a vila, com petição do Cap. Diogo de Fontes (p.254).

- 1660: Paraty elevada a vila, por Jorge Fernandes da Fonseca (p.254).

- 1661: Capela em Sorocaba, por Balthazar Fernandes (p.255).

 

UNIÃO IBÉRICA e IMPACTOS em PORTUGAL e BRASIL:

- D. Antônio, bastardo e meio XN, foi rechaçado. Felipe II enviou um exército a Portugal e “comprou” a consciência de vários. Quanto a União, houve respeito aos estatutos, foros e privilégios pelos Habsburgos, exceto por Felipe IV. Poucos casos de espanhóis ocupando cargos em Portugal e no Brasil. A União trouxe maus frutos: inimizade com outras nações (Holanda, França e Inglaterra), feitorias portuguesas se tornaram alvos no exterior, colapso da marinha junto com a “Invencível Armada” em 1588, tributos excessivos, etc (p.295).

- 1581: planos (feitos em Paris) de aclamar D. Antônio rei no Brasil e instaurar o novo governo português (não era Independência, era uma alternativa aos Habsburgos) – (pag. 319).

- Espanha queria confinar a colonização lusa dentro dos limites de Tordesilhas. No entanto, os sertanistas paulistas ignoraram tal intenção “não concretizada” [espanhóis estavam mais atentos a prata no Peru] – (p.287).

- Aumento do fluxo de espanhóis e contingentes militares no Brasil, após a união das coroas. Por que muitos espanhóis desejaram se estabelecer em São Paulo, ao invés do riquíssimo Peru? A segurança [contra a Inquisição] explica (p.91).

- 42 indivíduos (cabeças de famílias) espanhóis chegaram na Capitania de São Vicente entre 1580 a 1640, dos quais 24 foram entre 1580 a 1600 (p.92).

- Suspeitos de etnia hebreia: Bartolomeu Bueno, Diogo de Onhate, Balthazar de Godoi, Diogo Sanches, Martim Rodrigues Tenorio, Francisco Maldonado, Jorge de Barros Fajardo, Bernardo de Quadros, João Bernal, Diogo Árias de Aguirre, Lucas Rodrigues de Córdoba, Diogo de Lara, Gaspar Manuel Salvago, Belchior Ordas de Leão, Álvaro Gomes Godinez, Barnabé de Contreras, Geraldo de Medina, Diogo Rodrigues de Salamanca, Bartolomeu de Torales, Pedro Fernandes Aragonês, Rendons de Quebedo, João Garcês e os Portes D’El-Rey.

- A Dinastia Filipina nunca gozou da simpatia dos portugueses e tampouco dos colonos em São Paulo, em especial devido ao ocorrido com D. Francisco, Conde de Vimioso e donatário de S. Vicente (p. 298).

- Inacianos preferiam D. Felipe, ferrenho católico. Paulistas, dos quais muitos cristãos-novos, eram contrários a Espanha (p. 301).

- A simpatia da alta nobreza e do clero português pelos Felipes decresceu paulatinamente. Portugal se enfraquecia com os Habsburgos. Por isso, as autoridades em Lisboa e Bahia “fecharam” os olhos as bandeiras predadoras organizadas por São Paulo e também “recalcitraram” sempre quando Felipe III (II de Portugal) insistia em organizar o Tribunal do Santo Ofício no Brasil. As autoridades portuguesas sabiam que se atendessem o rei espanhol, inúmeros judeus abandonariam o Brasil e a indústria açucareira, comercio, descobrimentos mineralógicos e a expansão territorial iriam decair (p. 302 e 303).

- Felipe (III de POR) nomeia a Duquesa de Mantua como regente de Portugal. Foi considerado desrespeitoso aos portugueses. Combustível para a revolta (p. 346).

- 1639: esquadra luso-espanhola sofre derrota no Canal da Mancha, contra franceses (p. 347).

- 1640 (1º Dez): Aclamação de D. João IV, Duque de Bragança, como Rei de Portugal. É a Restauração, inaugurando a Dinastia de Bragança (p. 347).

 

RESTAURAÇÃO – DINASTIA DE BRAGANÇA:

- Tensões entre portugueses e espanhóis na colônia. Prisões e sequestro de bens (p. 101).

- Empréstimos e suporte de XNs aos Braganças, em especial para as guerras contra Espanha e Holanda, incluindo intermediação do Pe. Vieira. Este pleiteava a volta dos XNs expatriados.

- 1652 (1º dez): Duarte da Silva, financiador da causa portuguesa, apesar de tudo, sai em auto-de-fé, com finanças diminuídas e desorganizadas; Manuel Fernandes Vieira, um dos paladinos da Restauração, é condenado à fogueira. Foi evidenciado conflito de interesses entre a Igreja e o Estado português; foi um “aviso” do Santo Ofício a D. João IV (p. 358-359).

 

VISITAÇÕES DO SANTO OFÍCIO AO BRASIL:

- Visitações do Santo Ofício (BA e PE): 1591, 1618 e 1627 (p.63).

- Visitação em São Paulo em 1628, licenciado Pires da Veiga. Paulistas tinham má-fama (p.147).

 

RIVALIDADE PIRES-GARCIA x CAMARGOS:

- Não são conhecidas as intrigas iniciais; até 1635 os Pires possuem maior influência. Camargos afastam Raposo Tavares (genro de Manuel Pires) da ouvidoria e Simão Borges de Cerqueira (ligados aos Lemes, Dias Pais e Taques). Aclamação de Amador Bueno (1640) foi gerida pelos Camargos (p. 10).

- Os Pires tinham muitos apoiadores XNs (p. 10).

- Aclamação de Amador Bueno, suportada pelos Camargos e espanhóis em 1640 foi uma “rebelião” contra a recém-empossada Dinastia de Bragança (p.297).

 

CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS DAS BANDEIRAS:

- Branco (XV ou XN) no comando; indígenas, mamelucos como auxiliares, e sacerdote. Expertise indígena na exploração do sertão, obtenção de alimentos, localização. Cultivo de milho, feijão, mandioca, amendoim; canjica, mingau e farinha. Frutas silvestres, caça, pesca, uso de canoas/troncos (p.268).

- Para o Ibérico, era desonroso o trabalho servil e braçal. Por isso, a busca de indígenas, para o trabalho nas lavouras (p.292).

- 1562: descoberta de ouro no Jaraguá, próximo a vila de São Paulo (p.269).

- 1570: ouro em Paranaguá (Curitiba) (p.269).

- 1573 a 1578: expedições pelo Rio São Francisco. Sebastião Fernandes Tourinho pode ter encontrado pedras em Diamantina; Antônio Dias Adorno captura 7 mil indígenas e obtém pedras preciosas (p.269).

- 1601: expedição de Wilhelm Jost Glimmer, mineiro holandês, pelo vale do Paraíba e Mantiqueira (p.274).

- Vale do Paraíba e Bacia do Paraguai: corredores de bandeiras. Devastação e ocupação (p.274).

- Maria da Costa [madrasta de Antônio Raposo Tavares] em 1618 é presa com o pai, quando tentaram embarcar em Lisboa. Pobre, passa 6 anos presa. Bens foram confiscados, em razão do desvio de 600$000 de Fernão Vieira Tavares da Bula da Cruzada, quando tesoureiro em Beja. Profundos ressentimentos na família (p. 146).

- 1604 e 1618: Belchior Dias Moréia (neto do Caramuru) atingiu Chapada Diamantina (p.271).

- Antônio Raposo e o pai residiam na Bahia, de início, onde Fernão Tavares, o pai, era contador; vai em 1622 com o filho para o sul, em designação (p. 145);

- Missões (seis povos): entrave aos planos de expansão paulista (p.294); significava menos territórios, menos escravos e embaraços para se alcançar os territórios paraguaios e peruanos (p. 307).

- 1628: expedição de Raposo Tavares (p. 307). Noventa homens (mamelucos na maioria) e 2.200 índios, aliados. Chefes: Antônio Raposo Tavares, Brás Leme, André Fernandes, Manuel Pires (sogro de Raposo Tavares), Pascoal (meio-irmão de Raposo Tavares), alguns Bicudos, Sebastião de Freitas (p.308-309).

- Sobre a expedição (1628), D. Luís Xería, governador, foi conivente, apesar de ser representante da Espanha. Ele recebeu 200 escravos das Missões e tinha relações de “presentes” com os bandeirantes. Graças aos estragos causados pelos bandeirantes, D. Luís foi submetido a processo (p. 308).

- 1637-1641: grandes expedições de Raposo Tavares e Manuel Pires na região Sul e Paraguai. Após esta data, os paulistas focaram o Nordeste, contra invasores holandeses (p.288-289).

- Período pouco anterior a Restauração: intenções de instaurar o Santo Ofício na Bahia e Rio de Janeiro; criação da Diocese do Rio de Janeiro; restauração das Missões e ordem de prisão a Raposo Tavares, para julgamento pela Inquisição. A aclamação de D. João IV foi uma grande vitória para os paulistas (p. 313). NOTA de SAULO FRANCO: não foi dado prosseguimento na ordem de prisão a Raposo Tavares, graças a sua influência.

- 1665: expedição de Brás Rodrigues de Arzão e Fernão Pais de Barros, em busca de riquezas nos sertões do Sabaraboçu. Incentivos de Afonso VI para novas expedições (p.275).

- 1674: expedição de Fernão Dias Paes, o filho Garcia Rodrigues Pais e o genro Borba Gato a Minas Gerais. Locais de roças deram origem a povoados. Fernão Dias morre em 1681, no retorno, a margem do Rio das Velhas, em delírio por supostamente ter encontrado esmeraldas (p.276).

- Assassinato de Rodrigo de Castelo Branco, administrador das Minas, por Borba Gato (p.277).

- Legado do Sertanismo: envolvimento de todos os elementos étnicos e sociais da sociedade paulista, espírito de liberdade e desenvolvimento nos paulistas, exportação de excedentes das lavouras paulistas, desbravamento dos sertões, descobrimento de minérios; porém, grande redução populacional e aniquilamento da cultura indígena (p. 314).

 

MINAS GERAIS – EXPEDIÇÕES e POVOAMENTO:

- Paulistas consagraram-se a mineração, e substituíram o indígena pelo negro africano (p.278);

- Grande povoamento das vilas, abalando a estrutura das vilas sulinas (paulistas);

- Maiores cuidados na Administração do Rio de Janeiro, por ser o porto das Minas;

- Caminho Novo, por Garcia Rodrigues Pais. Ataques franceses no litoral, em 1710 e 1711;

- Ligação Bahia-Minas pelo Rio São Francisco;

- Deslocamento de muitos sefarditas para a região das Minas. Diluição da crença e do sangue;

- Guerra dos Emboabas. Manual Nunes Viana (XN), proclamado governador pelos Emboabas e o sargento-mór Bento do Amaral Coutinho participam em 1708-fev do “Capão da Traição”. Viana, por ser rico, escapa da justiça. Bento morre no Rio, lutando contra os franceses. NOTA de SAULO FRANCO: não pesquisei ainda a suposta origem XN de Manuel Nunes Viana.

- Ação rigorosa do Santo Ofício no Rio após 1705, em razão do surto aurífero nas Minas (p.279).

 

RIO DE JANEIRO: MISCIGENAÇÃO, ECONOMIA e CRISTÃOS-NOVOS:

- Maior miscigenação que São Paulo, em especial, com africanos (p. 373).

- Economia carioca: riqueza imobiliária, engenhos. Diferente de São Paulo, que predominava a policultura, sertanismo e comércio (p. 374).

- Século XVIII: em razão de ser o porto de escoamento do ouro, o Santo Ofício apertou o cerco contra os XNs lá residentes (p. 375).

 

INVASÕES DE OUTRAS NAÇÕES EUROPÉIAS:


FRANCESES:

- Francisco Casado de Paris, Luís Fernandes Francês, Estevão Furquim e João Porrate: poderiam ser XNs, visto que conquistaram a amizade de portugueses (p.87).

- Sempre incursionaram no litoral brasileiro. Maior ameaça, em termo de pirataria. Muitas relações, inclusive de mestiçagem, com indígenas (p. 324-325).

- França Antártica (Rio de Janeiro, 1555). Ações de Mem de Sá e Jerônimo Leitão, no Cabo Frio (p. 326); Ocupantes da Paraíba; expulsos em 1585 por Martim Leitão, e, início do povoamento português na dita região (p. 326); França Equinocial (Maranhão, 1594-1615): derrotados por Diogo de Campos e Jerônimo de Albuquerque (p. 327).

 

INGLESES:

- Quando instaurada a União Ibérica, havia uma comunidade de judeus na Inglaterra, dos quais a maioria nascidos em Portugal e Holanda (p. 320).

- Foram raros os ingleses, principalmente em razão da inimizade com espanhóis. Henry Barrawell é citado na Genealogia Paulistana (p.87).

- Ataques de Edward Fenton (1583) e Thomas Cavendish (1588, 1591 e 1592) no litoral paulista, em razão de boatos de ouro e prata em São Vincente [na verdade, no Jaraguá] – (p.272).

- João Gago e Manoel de Oliveira Gago estiveram envolvidos no contrabando de pau-Brasil com ingleses (p.323).

 

HOLANDESES – PRIMÓRDIOS até 1640:

- Tinham boas relações com Portugal até a ascensão de Felipe II. Os Lemes, os Taques, Cornélio D’Arzão, Manuel Vandale são exemplos. Trabalhos com siderurgia (p.89).

- Entre 1600 – 1650: persistência dos holandeses no corso na costa brasileira. Em 1616, os holandeses prenderam 28 navios de carreira no Brasil (p. 330).

- 1624: poderosa expedição a Bahia, com pouca resistência dos baianos (Brasil e Portugal sob domínio Habsburgo). Grande auxílio de judeus em toda a empreitada, em especial, Diogo Lopes de Abrantes, Gonçalo Homem de Almeida e Manoel Rodrigues Sanches. Abandono de Madrid e culpa atribuída aos judeus (p. 333, 334 e 335).

- Tentativa de conquista da Angola (suprimento de escravos), mas forte resistência e retorno. Tentam na volta a conquista do Espírito Santo, mas são derrotados por Salvador Correia de Sá (p. 336).

- Reconquista da Bahia pelos portugueses, por volta de 1626. Amizades, prestígio e dinheiro conseguiram salvar os judeus (p. 337).

- 1628: fragilidade de Pernambuco, grande produtor de açúcar: milícia de menos de 400 homens a serviço de Portugal. Cartas interceptadas pelos holandeses (p. 339).

- 1630 (14 fev): 67 navios, 3 mil homens, conquista de Olinda. Auxílio de XNs (pag. 340). Temores espanhóis de futuro ataque no Peru (prata). Pernambuco vivenciava problemas, com fuga de comerciantes, aumento de taxas e descaso espanhol (p. 341).

- 1631: Armada 5 navios portugueses e 16 navios espanhóis. Recrutamento de criminosos. Comando de D. Antônio de Oquendo. Luta no litoral baiano. Morte do comandante holandês Adrian Pater e vitória luso-espanhola. Porém, holandeses mantém Recife.

- 1633: Holanda, que já tinha a posse de feitorias no Oriente, conquista a Mina (África) – (p. 342).

- 1638: esquadra de Fernando de Mascarenhas, Conde da Torre, vai para a Bahia, ao invés de Pernambuco, em socorro as investidas anteriores do Conde Maurício de Nassau.

- 1640: derrota sofrida por Fernando de Mascarenhas. Holandeses planejam assalto a Santos. Fernão Dias Paes e Garcia Rodrigues Paes ficam de sobreaviso (p. 347).

- Revés sofrido por expedição terrestre de paulistas ao Nordeste, entre eles, os Vaz de Barros e Raposo Tavares (p. 350).

- 1641-1648: conquista e domínio de Luanda (Angola) pelos holandeses. Portugueses ficam com poucos redutos no interior (p. 351).

- D. João IV: aconselhado a aproximação com Holanda, por Jerônimo Henrique da Veiga, possivelmente cristão-novo (p. 352). Dois meses de conferência, tratado de 35 artigos. Mas as cláusulas não preveem devolução dos territórios conquistados.

- Apesar do Tratado, holandeses se apossam de São Tomé, Luanda e Maranhão (p. 353).

- Levante do Maranhão em 1644 (fev); ocupação de Olinda em 1645 (set); porém, derrota portuguesa no mar, sob comando de Serrão de Paiva (p. 354).

- Empréstimos de XNs a D. João IV. Assumem também o fornecimento de alimentos e suprimentos aos exércitos portugueses (p. 355).

- 1645: Bernardo Aires de Aguirre e João Mendes de Vasconcelos chefiam força de 500 soldados, para socorrer Pernambuco. Vitória na batalha das Tabocas [3 de Agosto] – (p. 356).

- 1648 (19 de abril): grande vitória luso-brasileira em Guararapes, próximo a Recife (p. 357).

- 1648 (agosto): Salvador Correia de Sá ataca Angola e a reconquista, contra holandeses (p.357).

- Fatores da vitória lusa: participação de brasileiros, suporte financeiro de judeus, desgaste dos holandeses em conflito naval com a Inglaterra (p. 360).

- 1661 (6 de agosto): Tradado de paz com Holanda. Indenização por 16 anos, custoso. Mas Portugal pôde reaver os territórios no Brasil e na África, integralmente.

 

Aqui encerro o resumo da obra de Gonçalves Salvador, de grande valor histórico e informações acerca do povoamento brasileiro no centro-sul, com considerável riqueza nos assuntos referentes a Portugal e Espanha.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Decreto Legislativo nº 456 de 04 de março de 1993. Prefeitura de São Bernardo do Campo-SP. Concessão de Título de cidadão são-bernardense ao Sr. José Gonçalves Salvador. Consulta em 01/05/2023. Disponível em:

https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-bernardo-do-campo/decreto-legislativo/1993/46/456/decreto-legislativo-n-456-1993-dispoe-sobre-concessao-de-titulo-de-cidadao-sao-bernardense-ao-sr-jose-goncalves-salvador

 

SALVADOR, J.G. Os cristãos-Novos: Povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-1680). São Paulo: Editora Pioneira, 1976. 406 p.