domingo, 25 de junho de 2023

Raízes de um mineiro

 [uma poesia genealógica]


Raízes do sangue e do nome

Raízes de família e História

Raízes de poder e dor

Raízes de riqueza e servidão

Raízes da nossa construção

 

Dos simples avós roceiros

Até velhos coronéis

Passando pelo tropeiro e escravo

Cujo sangue ilustrou o ouro

E suor a lavoura irrigou

E o Caminho Novo cavou

Dos brutos bandeirantes

Do qual andou reinóis e ilhéus

Para formar as Minas Gerais

 

De São Paulo surgiu

Pela força e astúcia

Os mestiços bandeirantes

De luso sangue e brasílica língua

Brutos e rudes

Forjados pela luta

Com gotas de fidalguia

E um mar de gentios

Regados a impureza de Abraão

Com temor do Santo Ofício

Todos filhos de Portugal

 

Do Tejo e do Douro

De Trás-os-Montes e Alentejo

Saíram os Heróis do Mar

De todas virtudes e crimes

De todas qualidades e vícios

De todas as naturezas

De todas classes e ofícios

Da nação valente e imortal

Rumo ao desconhecido

 

Dos sem fidalguia

Das origens não se sabe

E seus velhos avós

Na História não mais existem

 

E os filhos da gente simples

Gonçalves, Lopes, Pires, Rodrigues

Jogaram uma pitada

De Viana, Braga, Porto e Lisboa

Para mostrar a sua origem

E seus nomes melhorar

 

E em fiapos de raízes

Surgem alguns Filhos de Algo

Conhecidos por Fidalgos

Cuja memória se conserva

Pelos suspeitos brasões

E incertos Nobiliários

 

Dos senhores de solares

Aos Fidalgos do Paço

Servidores D’El Rei

Da Nobre e Leal Lisboa

Guardada pelos Cavaleiros

E todo o Reino com as bençãos

De seus Homens de Deus

Muitos destes fidalgos

Com suas servas e mancebas

Semearam suas sementes

 

E na terra lusa

De tantos feitos e dívidas

Surgiu a cegueira fanática

Que condenou as Sinagogas

No infame decreto Venturoso

Os filhos de Abraão

Que pelas águas se espalharam

Doutros se fizeram

Novos nomes e nova crença

Mas as raízes continuam

E nas sombras há Judá

Até o vil vizinho entregar

O parente delatar

E a fogueira revelar

 

E no passado ficou

As brumas da memória

Dos tempos de João boa memória

E da glória de Aljubarrota

Donde antigos nobres caíram

E novos nobres vieram

Se recria a velha nação

Por Afonso Henriques fundada

Por Viriato concebida

Por Roma batizada

Forjada na mão bárbara

Conquistada pelo mouro

Retomada por Leão

No espólio de Sousões

E dos brutos Braganções

De Ribadouros, Maias e Baiões

Surge a nação-mãe

De Brasil, Portugal e Algarve!

 

Saulo Franco

25 de junho de 2023

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