sábado, 22 de agosto de 2020

BARBOSAS: De Celorico de Basto-POR para Juiz de Fora-BRA

 

Os irmãos Maria da Conceição Barbosa, casada com José Lopes da Silva, Júlia Maria Barbosa casada com Procópio Lopes da Silva e Manoel Luiz Barbosa casado em 09/10/1909, no Rosário, com Rita Cândida da Silva, com seus respectivos matrimônios, geraram considerável descendência “Lopes da Silva – Barbosa”, sendo os filhos destes três casais muitos primos-irmãos (Os Lopes da Silva já foram descritos em artigos anteriores, neste blog).

 

O pai destes três irmãos Barbosas era Manoel Luiz Barbosa da Cunha, português, nascido cerca de 1838 na freguesia de São Miguel de Carvalho, concelho de Celorico de Basto, arcebispado de Braga, Portugal. Imigrou para o Brasil por volta de 1870-1875. Manoel Luiz faleceu em 23/05/1902, Paula Lima, Juiz de Fora-MG com 64 anos de idade e inventário aberto em 04/06/1902. Sua esposa, Maria Luíza da Conceição pertencia a família Pereira Lisboa (Já descrita neste mesmo blog).

 

O dito Manoel veio para o Brasil com os irmãos Domingos Luiz Barbosa (nascido em 29/12/1838, batizado no dia seguinte, no lugar da Ribeira, freguesia de São Miguel do Carvalho, Celorico de Basto-PT) e João Luís Barbosa da Motta, na companhia de Abílio Luís Barbosa, filho do anterior, também português, falecido em Chapéu D’Uvas, Juiz de Fora-MG aos 30/05/1892, com 18 anos de idade, de febre, cujo declarante do óbito foi o tio Domingos. Maria Barbosa da Motta, irmã de Manoel, Domingos e João, também imigrou para o Brasil, com o marido Antônio Ribeiro, e posteriormente casou-se novamente. Alguns irmãos permaneceram em Portugal (Teresa, José, Antônio e Joaquina).

 

As informações acerca dos irmãos de Manoel Luís Barbosa da Cunha me foram repassadas pelo pesquisador e amigo Sérgio Marinho, também descendente dos Barbosas. Na ocasião, recebi do mesmo a ascendência destes cadastrada no site Family Search. Fiz a conferência de todos registros de batismo e casamento, para confirmar as informações do dito site. Em alguns ramos, pude avançar ainda mais, encontrando, inclusive, uma intersecção de ascendência no Nobiliário das Famílias de Portugal, de Felgueiras Gayo, conforme descrito no decorrer do texto.

 

 

A ascendência da família, em formato AHMENTAFEL, é a seguinte:

  

1 – Manoel Luís Barbosa da Cunha, nascido cerca de 1838 na freguesia de São Miguel de Carvalho, concelho de Celorico de Basto, arcebispado de Braga, Portugal. Imigrou para o Brasil por volta de 1870-1875. Falecido em 23/05/1902, Paula Lima, Juiz de Fora-MG com 64 anos de idade e inventário aberto em 04/06/1902.

 

PAIS

2 – José Luiz Barbosa, batizado em São Miguel de Carvalho, Celorico de Basto-PT, a 30/05/1811, casado na mesma localidade, em 29/10/1834, com:

3 – Maria da Motta {em casada, Maria da Motta Barbosa}, batizada em em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT, a 25/12/1813.

 

AVÓS

4 – José Luiz Barbosa, batizado em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT, a 08/10/1768.

5 – Ana da Cunha, natural da Borda da Montanha, C. de Basto-PT

6 – Manoel da Motta, batizado em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT, a 16/11/1777.

7 – Maria Teixeira, batizada em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT, a 10/09/1785.

 

BISAVÓS

8 – Luiz Antônio Barbosa, batizado na freguesia de Santa Tecla, C. de Basto-PT a 25/08/1739. Se casou em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 25/12/1767 com

9 – Maria Teixeira da Cunha, batizada em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 25/11/1746.

10 – Francisco da Cunha, batizado em Carrazedo, C. de Basto-PT a 05/08/1726.

11 – Senhorinha Domingues.

12 – Gervásio da Motta, batizado na localidade de Inchouzelas, freguesia de Caçarilhe, C. de Basto-PT em 29/09/1736. Casou em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 05/01/1777 com

13 – Rosa Mª Teixeira Gonçalves, batizada em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT, 28/02/1760.

14 – Antônio Cerqueira, batizado em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 05/11/1749.

15 – Mariana Teixeira Gonçalves, batizada em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 23/11/1752.

 

TRISAVÓS

16 – Luís Antônio Barbosa, batizado em Fervença, C. de Basto-PT a 05/07/1711. Casou em Santa Tecla a 22/07/1733 com

17 – Mariana Leite de Moraes, natural de Nogueira, C. de Basto-PT.

18 – Manoel Teixeira, batizado em S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT a 31/10/1700.

19 – Fabiana da Cunha, batizada em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 02/04/1710.

24 – Antônio Mendes.

25 – Ângela da Motta (solteira).

26 – Domingos Teixeira, natural da Ribeira, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

27 – Ângela Gonçalves, natural da Ribeira, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

28 – Francisco Cerqueira, natural de Rebalde, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

29 – Maria Gonçalves, natural de Rebalde, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

30 – Domingos Gonçalves, natural de Rebalde, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

31 – Maria Teixeira, natural de Rebalde, S. M. de Carvalho, C. de Basto-PT.

 

TETRAVÓS

32 – Manoel Barbosa, já falecido em 1733.

33 – Ana Clemente, natural de Fervença, C. de Basto-PT.

34 – Antônio Leite Pereira, batizado em Crespos, S. P. Britelos-PT a 24/01/1677 (sua procedência é informada no batismo de um dos netos). Era solteiro, falecido após 1733.

35 – Mariana Álveres, natural do lugar de São Martinho, freguesia de Santa Tecla, C. de Basto-PT.

36 – Domingos João.

37 – Maria Teixeira.

38 – Belchior da Cunha, natural da Lavandeira, Sª Tecla, C. de Basto-PT.

39 – Izabel Francisca, batizada em Sª Tecla, C. de Basto-PT a 03/05/1672.

50 – Gonçalo Gonçalves, natural de Sobreiro, S. Tiago, faleceu em Inchouzelas, C. de Basto-PT a 10/02/1731. Antes, casou-se em Caçarilhe, C. de Basto-PT a 14/10/1697 com

51 – Maria da Motta, batizada em Inchouzelas, C. de Basto-PT a 25/03/1677, falecida na mesma localidade, em 11/01/1740.

52 – Domingos Teixeira, natural de Barregã.

53 – Úrsula Leite, natural de Mendroniz.

54 – Luís Gonçalves, natural de Robalde.

55 – Maria Gonçalves, natural de Robalde.

56 – Antônio Cerqueira, natural de Rebordãos, Freguesia de Infesta, C. de Basto-PT, casou na mesma localidade a 21/12/1692 com

57 – Luzia Leite (ou Francisca), natural de Rebordãos, Freguesia de Infesta, C. de Basto-PT.

58 – Domingos Gonçalves, natural de Rebalde, S. Miguel de Carvalho, C. de Basto-PT.

59 – Ana Teixeira, natural de Rebalde, S. Miguel de Carvalho, C. de Basto-PT.

60 = 58

61 = 59

62 – Manoel Teixeira, natural do Cazal, casou em 20/02/1708 com

63 – Ângela Gonçalves, natural de Rebalde, S. Miguel de Carvalho, C. de Basto-PT.

 

PENTAVÓS

68 – Antônio Lopes Leite, casado em Crespos, S. P. Britelos a 28/05/1672 com

69 – Maria Nogueira.

78 – Antônio Francisco, batizado em S. Tecla, C. de Basto-PT a 29/07/1637.

79 – Paula Francisca, de Arnóia, C. de Basto-PT.

102 – Padre Pedro da Motta, com exercício em Inchouzelas, Caçarilhe, C. de Basto-PT entre aproximadamente 1632-1669. Teve vários filhos naturais.

103 – Catarina Domingues.

112 – Gonçalo Martins, natural da freguesia de Infesta, C. de Basto-PT, casou na mesma localidade a 22/07/1670 com

113 – Ana Cerqueira, natural da freguesia de Infesta, C. de Basto-PT.

114 – Antônio Gonçalves, natural da Barreira, Caçarilhe, C. de Basto-PT.

115 – Maria Francisca, natural da freguesia de Infesta, C. de Basto-PT.

124 – Antônio Gonçalves.

125 – Maria Teixeira.

126 – Jerônimo (Hierônimo) Gonçalves.

127 – Catarina Gonçalves.

 

HEXAVÓS

136 – Cristóvão Leite (Pereira), natural da freguesia de São Salvador de Fervença, C. de Basto-PT.

137 – Maria Lopes, natural da freguesia de São Salvador de Fervença, C. de Basto-PT.

138 – Miguel Gaspar, natural de Crespos, casou na mesma localidade a 10/02/1634 com

139 – Joana Nogueira.

156 – Brás Francisco, batizado em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 02/02/1609. Na mesma localidade, a 06/05/1629 casou com

157 – Senhorinha Catarina Martins.

158 – Domingos Francisco Gonçalves.

159 – Maria Francisca João.

224 – Antônio Martins.

225 – Maria Gonçalves.

226 – Antônio Cerqueira, casou-se em Infesta, C. de Basto-PT a 17/04/1640 com

227 – Margarida Antônia.

 

HEPTAVÓS

276 – Gaspar Pires.

277 – Guiomar Fernandes.

278 – Garcia Nogueira.

279 – Maria [ilegível].

312 – Amaro Francisco, batizado em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 20/01/1580. Na mesma localidade, a 10/02/1602 casou com

313 – Maria Domingues.

314 – Pedro Martins, batizado em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 12/03/1581. Na mesma localidade, a 03/02/1608 casou com

315 – Maria Pires, batizado em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 10/04/1586.

452 – Francisco Cerqueira, natural de Infesta, C. de Basto-PT. Certamente, é o mesmo Francisco Cerqueira de Infesta descrito por Felgueiras Gayo como “cazado na m.ma fregª c.g.” (Nobiliário das Famílias de Portugal – F. Gayo – Título CERQUEIRAS § 101 N 8). A freguesia de Infesta era pequena, com poucos registros nos livros de batismos e casamentos. A cronologia e todo o contexto são compatíveis para inferirmos que estes “Franciscos Cerqueiras” são a mesma pessoa.

453 – Senhorinha Francisca.

454 – Antônio Gonçalves.

455 – Maria Álvares.

 

OCTAVÓS

624 – Sebastião João.

625 – Maria Alves Gonçalves.

628 – Francisco Martins, casado em Santa Tecla, C. de Basto-PT a 08/09/1579 com

629 – Maria Fernandes.

630 – Pedro Gonçalves.

631 – Maria Pires.

904 – Manoel Cerqueira, “Reitor de Infesta” (Nobiliário das Famílias de Portugal – F. Gayo – Título CERQUEIRAS § 101 N 8).

905 – “de sua manceba” (Nobiliário das Famílias de Portugal – F. Gayo – Título CERQUEIRAS § 101 N 8).

 

NONAVÓS

1.258 – Pedro Fernandes

1.808 – Sebastião Pires “da Porção”, natural da Borda da Montanha (Nobiliário das Famílias de Portugal – F. Gayo – Título CERQUEIRAS § 7 N 7).

1.809 – Francisca Moniz Cerqueira (Nobiliário das Famílias de Portugal – F. Gayo – Título CERQUEIRAS § 7 N 7).

 

A referida Francisca Moniz Cerqueira era irmã do Licenciado André Cerqueira descrito por F. Gayo como “Capelão do Rei” e “Confessor da Rainha D. Catarina”. Estes são respectivamente D. João III e sua esposa D. Catarina da Áustria. O reinado do dito monarca compreendeu os anos de 1521 a 1557. A cronologia está compatível com o que foi descrito.

A ascendência de ambos encontra-se no Nobiliário das Famílias de Portugal, de Felgueiras Gayo (vide referências). A obra é de domínio público e encontra-se digitalizada, para consulta. O leitor poderá encontrar toda a ascendência destes Cerqueiras, até os primórdios da nação lusitana e da Europa.

Os ditos Cerqueiras, além de sua própria origem, através das ligações familiares minuciosamente descritas por Felgueiras Gayo, descendem de troncos/famílias fundadoras do Reino, em especial: Freitas, Sampayos, Pereiras, Carvalhaes, Vilarinho, Novaes, Vasconcelos, Ribeiros, Silvas, Sousas, Coelhos, Machados, Portocarreros, Bayoens, Azevedos, Alcoforados, Peixotos, Aguiares, Mogudos, Soverosas, Pachecos, Nóbregas, Cunhas, Espinhéis, Teixeiras, Pimentéis, Barretos, Velhos, Alvarengas, Meirelles, Valadares, Alões, Barbosas e o próprio D. Afonso Henriques (1109-1185), primeiro Rei de Portugal e toda a ascendência que o mesmo traz (D. Afonso VI, Rei de Castela, Carlos Magno, Imperador Franco, etc) ESTÃO EM NOSSA ASCENDÊNCIA (Nobº de F. Gayo).


Para este autor, traçar nossa ascendência até os primórdios das primeiras famílias do reino português em fontes confiáveis e fidedignas é motivo de satisfação e orgulho.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

Registros paroquiais portugueses. Disponível em:

https://hades.tombo.pt/f/cbt07

 

 

GAIO, Felgueiras, 1750-1831. Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em: http://purl.pt/12151

  

sábado, 4 de abril de 2020

RIBEIRO SALVAGO: ASCENDÊNCIA JUDAIZANTE



Nos dias atuais, a pesquisa genealógica no Brasil experimenta grande interesse e crescimento, em especial, pela busca de antepassados cristãos-novos/judaizantes.
Hoje, no presente texto, apresentarei a ascendência paterna do paulista Gaspar Ribeiro, batizado em 02/09/1648, posteriormente casado com Catarina do Prado. O referido casal é citado na Genealogia Paulistana, obra original de Silva Leme, no Volume 3º, Título PRADOS, Capítulo 9º, página 367.
No texto do ilustre autor, apenas a ascendência de Catarina do Prado é desenvolvida. A descendência do casal e a ascendência de Gaspar Ribeiro não são estudadas na referida obra. Quanto a estas informações, os pesquisadores modernos Marta Amato e Fabrício Guerín realizaram descobertas importantíssimas quanto a família.
Quanto a descendência do casal, um dos netos, Gaspar Ribeiro do Prado, povoou Minas Gerais, na região de Barbacena, onde uma filha deste, Luzia Soares Ribeiro se casou com o terceirense (Nove Ribeiras – Ilha Terceira - Açores) Antônio Dias Tostes (I), com vasta descendência. Foram povoadores do Quilombo (atual Bias Fortes-MG), cujo um dos netos, Antônio Dias Tostes (III) foi sogro do engenheiro alemão Henrique Guilherme Ferdinando Halfeld, ambos considerados fundadores de Juiz de Fora – MG. Maiores detalhes de toda a descendência destes encontra-se no artigo de F. Guerín, no sítio do Projeto Compartilhar (vide referências).

Aqui, neste espaço, a razão maior é desenvolvermos a ascendência deste Gaspar Ribeiro, marido da referida Catarina do Prado. A pesquisadora Marta Amato, menciona o seu batismo, na Sé de São Paulo, em 02/09/1648, onde costa que o mesmo era filho de Manoel Preto de Moraes e Inês Ribeira. A autora, em sua obra, desenvolve a ascendência materna: Inês Ribeira era filha do licenciado Gaspar Manuel Salvago e Ana Ribeiro, neta materna de Pedro Martins “o velho” e Isabel Nunes.
Manoel Preto de Moraes, pai de Gaspar Ribeiro, tem sua filiação revelada no documento de casamento com Inês Ribeira, em 28/11/1642, em São Paulo, conforme pesquisa de Fabrício Guerín. Neste, observou-se que o dito Manoel Preto de Moraes era natural de Beja-PT, filho de Manoel Dias e Isabel Ramos.

Quando verifiquei a filiação do Manoel Preto de Moraes e inseri sua localidade de origem e o nome dos pais no Google [instinto natural de qualquer pesquisador em genealogia, quando descobre antepassados novos], encontrei três resumos/extratos de processos inquisitoriais da Torre do Tombo (Arquivo Histórico de Portugal). Estes arquivos/documentos, mostraram que uma irmã (Maria das Neves), a mãe (Isabel Ramos) e avó (Francisca Dias) do dito Manoel Preto de Moraes foram presas, processadas e sentenciadas pelo Santo Ofício, todas pelos crimes de “judaísmo, heresia e apostasia”. A documentação encontrada é vasta, com grande riqueza de informações, via testemunhos, de onde depreende-se hábitos, parentescos, genealogia, as acusações e sentenças. As páginas, digitalizadas, estão disponíveis no sítio da Torre do Tombo (vide referências). Ainda estou lendo e estudando esses processos, mas, adiantarei aqui algumas informações, de maior destaque e relevância.
No primeiro processo, de Maria das Neves (irmã de Manoel Preto de Moraes), presa em 23/08/1628, sentenciada e com auto-de-fé em 01/04/1629, encontramos informações de grande valor entre as páginas 39 e 42. Breve resumo:


“(...) DISSE CHAMAR-SE MARIA DAS NEVES, QUE TEM 1/8 DE CRISTÃ-NOVA, SOLTEIRA, DE IDADE DE 19 ANOS, NATURAL DA CIDADE DE BEJA, E AÍ MORADORA AO TEMPO DA SUA PRISÃO, E QUE SEU PAI É JÁ DEFUNTO, E SE CHAMOU MANOEL DIAS, CRISTÃO-VELHO, LAVRADOR, E ERA NATURAL DO TERMO DE BEJA, E QUE SUA MÃE SE CHAMA ISABEL RAMOS, QUE TEM ¼ DE CRISTÃ-NOVA, E É MORADORA EM BEJA, DE ONDE É NATURAL, E QUE SEUS AVÓS PATERNOS SÃO JÁ DEFUNTOS, E SE CHAMARAM JOÃO FERNANDES, LAVRADOR, E LEONOR DIAS, CRISTÃOS-VELHOS, E FORAM NATURAIS DO TERMO DE BEJA, E QUE SEU AVÔ MATERNO É JÁ DEFUNTO, E SE CHAMOU MANOEL RODRIGUES, CRISTÃO-VELHO, LAVRADOR, NATURAL DO TERMO DE BEJA, E QUE SUA AVÓ POR ESTA PARTE SE CHAMA FRANCISCA DIAS, QUE OU TEM ¼ DE CRISTÃ-NOVA, OU É MEIO-QUARTO (...) E QUE ELA TEM UM IRMÃO INTEIRO, QUE SE CHAMA MANOEL PRETO, SAPATEIRO, SOLTEIRO, DE 16 ANOS, QUE SE AUSENTOU DE BEJA NÃO SABE PARA ONDE, NEM SE É VIVO, E QUE ELA TEM MAIS UMA MEIA-IRMÃ (...), QUE SE CHAMA MARIA, DE 5 ANOS, E É DO SEGUNDO QUE TEVE A DITA SUA MÃE, QUE ERA DEFUNTO, E SE CHAMOU FRANCISCO FERNANDES, CRISTÃO-VELHO, BARBEIRO (...).”


As informações supracitadas são de grande valia. Além do atesto de parentesco com seu irmão Manoel Preto, é citada sua ascendência, até seus avós.

Na página 120 do processo, consta a sentença (03/04/1629): foram dados os sacramentos dos Santos Evangelhos, foi mandado querela nos cárceres da prisão, hábito penitencial de ouvir missa e pregação nos domingos e dias santos.

“Querela”, tem por significado “lamentação, expressão de sofrimento; queixa”, podendo também ser entendido como “denúncia”, em termos jurídicos. No contexto do processo aqui referido, não tenho conhecimento sobre as características processuais do Santo Ofício (Inquisição) para entender o real e exato significado do dito termo.

Isabel Ramos (mãe de ambos) e Francisca Dias (avó) também foram processadas, sob acusações dos mesmos crimes: “judaísmo, heresia e apostasia”. Nas páginas 93 e 43 (respectivamente) de ambos os processos constam as seções de genealogia, onde é possível avançar ainda mais na ascendência da família. Ainda estou a estudar os processos de ambas.

Visto as informações processuais coletadas até o momento, é possível reconstituir a genealogia de toda a família, além de verificar a linhagem materna, cuja herança judaizante é demonstrada:




Além da genealogia ser prazerosa, quanto a sua pesquisa e entendimento, vi este estudo e texto como uma missão. Resgatar a história de antepassadas que foram presas e sentenciadas, em razão de perseguições religiosas, é como imortalizar seus nomes e impedir o esquecimento de suas vidas e sofrimentos, por parte de seus descendentes, genealogistas e historiadores. E que não esqueçamos os tortuosos e difíceis caminhos trilhados por estes homens e mulheres, que fazem parte de nossa história e nossas vidas.


BIBLIOGRAFIA:

Pedro Martins. Fabrício Guerín e Bartyra Sette. Projeto Compartilhar. Atualização em 30-maio-2017. Disponível em: http://www.projetocompartilhar.org/Familia/PedroMartins.htm

Gaspar Ribeiro Salvago – Aportes a Genealogia Paulistana. Fabrício Guerín. Projeto Compartilhar. Atualização em 19-dezembro-2015. Disponível em: http://www.projetocompartilhar.org/Familia/GasparRibeiroSalvago.htm

GENEALOGIA PAULISTANA - Luiz Gonzaga da Silva Leme (1903 - 1905). Reedição coordenada por Marta Amato (2002). Conteúdo original: 9 volumes. Correções e Acréscimos: 2 volumes.
1 CD-ROM. Correção e Acréscimo citado: Maria C. Exner Godoy Isoldi, Vol. 10º – páginas 1197 a 1204.

PROCESSOS (INQUISIÇÃO) – TORRE DO TOMBO:

Maria das Neves:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363489

Isabel Ramos:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366803

Francisca Dias:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366837