Nos dias atuais, a pesquisa
genealógica no Brasil experimenta grande interesse e crescimento, em especial,
pela busca de antepassados cristãos-novos/judaizantes.
Hoje, no presente texto,
apresentarei a ascendência paterna do paulista Gaspar Ribeiro, batizado em
02/09/1648, posteriormente casado com Catarina do Prado. O referido casal é
citado na Genealogia Paulistana, obra original de Silva Leme, no Volume 3º,
Título PRADOS, Capítulo 9º, página 367.
No texto do ilustre autor, apenas
a ascendência de Catarina do Prado é desenvolvida. A descendência do casal e a
ascendência de Gaspar Ribeiro não são estudadas na referida obra. Quanto a
estas informações, os pesquisadores modernos Marta Amato e Fabrício Guerín
realizaram descobertas importantíssimas quanto a família.
Quanto a descendência do casal,
um dos netos, Gaspar Ribeiro do Prado, povoou Minas Gerais, na região de
Barbacena, onde uma filha deste, Luzia Soares Ribeiro se casou com o
terceirense (Nove Ribeiras – Ilha Terceira - Açores) Antônio Dias Tostes (I),
com vasta descendência. Foram povoadores do Quilombo (atual Bias Fortes-MG),
cujo um dos netos, Antônio Dias Tostes (III) foi sogro do engenheiro alemão
Henrique Guilherme Ferdinando Halfeld, ambos considerados fundadores de Juiz de
Fora – MG. Maiores detalhes de toda a descendência destes encontra-se no artigo
de F. Guerín, no sítio do Projeto Compartilhar (vide referências).
Aqui, neste espaço, a razão maior
é desenvolvermos a ascendência deste Gaspar Ribeiro, marido da referida
Catarina do Prado. A pesquisadora Marta Amato, menciona o seu batismo, na Sé de
São Paulo, em 02/09/1648, onde costa que o mesmo era filho de Manoel Preto de
Moraes e Inês Ribeira. A autora, em sua obra, desenvolve a ascendência materna:
Inês Ribeira era filha do licenciado Gaspar Manuel Salvago e Ana Ribeiro, neta
materna de Pedro Martins “o velho” e Isabel Nunes.
Manoel Preto de Moraes, pai de
Gaspar Ribeiro, tem sua filiação revelada no documento de casamento com Inês
Ribeira, em 28/11/1642, em São Paulo, conforme pesquisa de Fabrício Guerín.
Neste, observou-se que o dito Manoel Preto de Moraes era natural de Beja-PT,
filho de Manoel Dias e Isabel Ramos.
Quando verifiquei a filiação do
Manoel Preto de Moraes e inseri sua localidade de origem e o nome dos pais no
Google [instinto natural de qualquer pesquisador em genealogia, quando descobre
antepassados novos], encontrei três resumos/extratos de processos inquisitoriais
da Torre do Tombo (Arquivo Histórico de Portugal). Estes arquivos/documentos,
mostraram que uma irmã (Maria das Neves), a mãe (Isabel Ramos) e avó (Francisca
Dias) do dito Manoel Preto de Moraes foram presas, processadas e sentenciadas
pelo Santo Ofício, todas pelos crimes de “judaísmo, heresia e apostasia”. A
documentação encontrada é vasta, com grande riqueza de informações, via
testemunhos, de onde depreende-se hábitos, parentescos, genealogia, as
acusações e sentenças. As páginas, digitalizadas, estão disponíveis no sítio da
Torre do Tombo (vide referências). Ainda estou lendo e estudando esses
processos, mas, adiantarei aqui algumas informações, de maior destaque e relevância.
No primeiro processo, de Maria
das Neves (irmã de Manoel Preto de Moraes), presa em 23/08/1628, sentenciada e
com auto-de-fé em 01/04/1629, encontramos informações de grande valor entre as
páginas 39 e 42. Breve resumo:
Isabel
Ramos (mãe de ambos) e Francisca Dias (avó) também foram processadas, sob
acusações dos mesmos crimes: “judaísmo, heresia e apostasia”. Nas páginas 93 e
43 (respectivamente) de ambos os processos constam as seções de genealogia,
onde é possível avançar ainda mais na ascendência da família. Ainda estou a
estudar os processos de ambas.
Visto as informações processuais coletadas até o momento, é possível reconstituir a genealogia de toda a família, além de verificar a linhagem materna, cuja herança judaizante é demonstrada:
“(...)
DISSE CHAMAR-SE MARIA DAS NEVES, QUE TEM 1/8 DE CRISTÃ-NOVA, SOLTEIRA, DE IDADE
DE 19 ANOS, NATURAL DA CIDADE DE BEJA, E AÍ MORADORA AO TEMPO DA SUA PRISÃO, E QUE SEU PAI É JÁ DEFUNTO, E SE CHAMOU
MANOEL DIAS, CRISTÃO-VELHO, LAVRADOR, E ERA NATURAL DO TERMO DE BEJA, E QUE SUA MÃE SE CHAMA ISABEL RAMOS,
QUE TEM ¼ DE CRISTÃ-NOVA, E É MORADORA EM BEJA, DE ONDE É NATURAL, E QUE SEUS AVÓS PATERNOS SÃO JÁ DEFUNTOS, E
SE CHAMARAM JOÃO FERNANDES, LAVRADOR, E LEONOR DIAS, CRISTÃOS-VELHOS, E FORAM
NATURAIS DO TERMO DE BEJA, E QUE SEU
AVÔ MATERNO É JÁ DEFUNTO, E SE CHAMOU MANOEL RODRIGUES, CRISTÃO-VELHO,
LAVRADOR, NATURAL DO TERMO DE BEJA, E QUE SUA AVÓ POR ESTA PARTE SE CHAMA
FRANCISCA DIAS, QUE OU TEM ¼ DE CRISTÃ-NOVA, OU É MEIO-QUARTO (...) E QUE ELA TEM UM IRMÃO INTEIRO, QUE SE CHAMA MANOEL PRETO, SAPATEIRO,
SOLTEIRO, DE 16 ANOS, QUE SE AUSENTOU DE BEJA NÃO SABE PARA ONDE, NEM SE É VIVO,
E QUE ELA TEM MAIS UMA MEIA-IRMÃ (...), QUE SE CHAMA MARIA, DE 5 ANOS, E É DO
SEGUNDO QUE TEVE A DITA SUA MÃE, QUE ERA DEFUNTO, E SE CHAMOU FRANCISCO
FERNANDES, CRISTÃO-VELHO, BARBEIRO (...).”
As informações supracitadas são de grande valia. Além do atesto de parentesco com
seu irmão Manoel Preto, é citada sua ascendência, até seus avós.
Na
página 120 do processo, consta a sentença (03/04/1629): foram dados os
sacramentos dos Santos Evangelhos, foi mandado querela nos cárceres da prisão,
hábito penitencial de ouvir missa e pregação nos domingos e dias santos.
“Querela”,
tem por significado “lamentação, expressão de sofrimento; queixa”, podendo
também ser entendido como “denúncia”, em termos jurídicos. No contexto do
processo aqui referido, não tenho conhecimento sobre as características
processuais do Santo Ofício (Inquisição) para entender o real e exato
significado do dito termo.
Visto as informações processuais coletadas até o momento, é possível reconstituir a genealogia de toda a família, além de verificar a linhagem materna, cuja herança judaizante é demonstrada:
Além da genealogia ser prazerosa,
quanto a sua pesquisa e entendimento, vi este estudo e texto como uma missão.
Resgatar a história de antepassadas que foram presas e sentenciadas, em razão
de perseguições religiosas, é como imortalizar seus nomes e impedir o
esquecimento de suas vidas e sofrimentos, por parte de seus descendentes,
genealogistas e historiadores. E que não esqueçamos os tortuosos e difíceis
caminhos trilhados por estes homens e mulheres, que fazem parte de nossa
história e nossas vidas.
BIBLIOGRAFIA:
Pedro Martins. Fabrício Guerín e
Bartyra Sette. Projeto Compartilhar. Atualização em 30-maio-2017. Disponível
em: http://www.projetocompartilhar.org/Familia/PedroMartins.htm
Gaspar Ribeiro Salvago – Aportes
a Genealogia Paulistana. Fabrício Guerín. Projeto Compartilhar. Atualização em
19-dezembro-2015. Disponível em: http://www.projetocompartilhar.org/Familia/GasparRibeiroSalvago.htm
GENEALOGIA PAULISTANA - Luiz Gonzaga da Silva Leme (1903 - 1905).
Reedição coordenada por Marta Amato
(2002). Conteúdo original: 9 volumes. Correções e Acréscimos: 2 volumes.
1 CD-ROM. Correção e Acréscimo
citado: Maria C. Exner Godoy Isoldi, Vol. 10º – páginas 1197 a 1204.
PROCESSOS (INQUISIÇÃO) – TORRE DO TOMBO:
Maria das Neves:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363489
Isabel Ramos:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366803
Francisca Dias:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366837
Caro primo, descendo desse ramo também. Sendo Luzia Ribeiro Soares minha 7ª avó, e seu 3º marido, o João Braz de Almeida meu 7º avô. Meu avô paterno ainda tinha sobrenome Almeida.
ResponderExcluirAbraços,
Sergio Marinho