domingo, 25 de junho de 2023

Raízes de um mineiro

 [uma poesia genealógica]


Raízes do sangue e do nome

Raízes de família e História

Raízes de poder e dor

Raízes de riqueza e servidão

Raízes da nossa construção

 

Dos simples avós roceiros

Até velhos coronéis

Passando pelo tropeiro e escravo

Cujo sangue ilustrou o ouro

E suor a lavoura irrigou

E o Caminho Novo cavou

Dos brutos bandeirantes

Do qual andou reinóis e ilhéus

Para formar as Minas Gerais

 

De São Paulo surgiu

Pela força e astúcia

Os mestiços bandeirantes

De luso sangue e brasílica língua

Brutos e rudes

Forjados pela luta

Com gotas de fidalguia

E um mar de gentios

Regados a impureza de Abraão

Com temor do Santo Ofício

Todos filhos de Portugal

 

Do Tejo e do Douro

De Trás-os-Montes e Alentejo

Saíram os Heróis do Mar

De todas virtudes e crimes

De todas qualidades e vícios

De todas as naturezas

De todas classes e ofícios

Da nação valente e imortal

Rumo ao desconhecido

 

Dos sem fidalguia

Das origens não se sabe

E seus velhos avós

Na História não mais existem

 

E os filhos da gente simples

Gonçalves, Lopes, Pires, Rodrigues

Jogaram uma pitada

De Viana, Braga, Porto e Lisboa

Para mostrar a sua origem

E seus nomes melhorar

 

E em fiapos de raízes

Surgem alguns Filhos de Algo

Conhecidos por Fidalgos

Cuja memória se conserva

Pelos suspeitos brasões

E incertos Nobiliários

 

Dos senhores de solares

Aos Fidalgos do Paço

Servidores D’El Rei

Da Nobre e Leal Lisboa

Guardada pelos Cavaleiros

E todo o Reino com as bençãos

De seus Homens de Deus

Muitos destes fidalgos

Com suas servas e mancebas

Semearam suas sementes

 

E na terra lusa

De tantos feitos e dívidas

Surgiu a cegueira fanática

Que condenou as Sinagogas

No infame decreto Venturoso

Os filhos de Abraão

Que pelas águas se espalharam

Doutros se fizeram

Novos nomes e nova crença

Mas as raízes continuam

E nas sombras há Judá

Até o vil vizinho entregar

O parente delatar

E a fogueira revelar

 

E no passado ficou

As brumas da memória

Dos tempos de João boa memória

E da glória de Aljubarrota

Donde antigos nobres caíram

E novos nobres vieram

Se recria a velha nação

Por Afonso Henriques fundada

Por Viriato concebida

Por Roma batizada

Forjada na mão bárbara

Conquistada pelo mouro

Retomada por Leão

No espólio de Sousões

E dos brutos Braganções

De Ribadouros, Maias e Baiões

Surge a nação-mãe

De Brasil, Portugal e Algarve!

 

Saulo Franco

25 de junho de 2023

segunda-feira, 1 de maio de 2023

OS CRISTÃOS-NOVOS E POVOAMENTO DO BRASIL: Resumo da obra de José Gonçalves Salvador

 

Neste espaço, apresento o resumo de minha leitura da obra “Os Cristãos-Novos: Povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-1680)”, do pesquisador e escritos José Gonçalves Salvador. A referida leitura e anotações, de minha lavra, foram finalizadas em 23 de março de 2021, e agora faço a publicação destas notas.

José Gonçalves Salvador, nascido em Lins-SP aos 08/09/1916, era formado em Teologia em 1939, com conhecimentos de grego e hebraico; exerceu ministério na Igreja Metodista e posteriormente graduou-se em Geografia e História na USP e obteve seu título de Doutor em 1967, na área de Ciências Humanas. Realizou diversas pesquisas na Europa e em Portugal, e publicou vinte obras bibliográficas, várias relacionadas a História do Brasil e a temática dos cristãos-novos, cujo assunto, foi um dos pioneiros.

Neste resumo, alterei a posição dos temas, de modo a construir todo um “fluxo cronológico” dos fatos narrados. Sempre as anotações são seguidas do número da página do livro cuja informação foi extraída.

As anotações enfatizam os fatos históricos, ao invés de peculiaridades específicas de cada cristão-novo, em que Gonçalves Salvador, em diversas vezes, o faz.

Na leitura, recomendo ao leitor atentar-se para as siglas:

XN = cristão-novo;

XV = cristão-velho;

 

Aqui dou início as considerações:

 

ESPANHA: RECONQUISTA e SURGIMENTO DA INQUISIÇÃO:

- Reconquista envolveu a construção da nação espanhola, aclamação racial e religiosa contra todos aqueles não-católicos (p. 21).

- Massacre de Sevilha (1391) contra judeus. Obrigações posteriores de batismo e conversão (p. 21).

- Proibição de Cargos Públicos (1408) aos XNs, pelo Rei Afonso, o Sábio (p. 21).

- Uso de sinais distintivos (1412), por ordem do Rei Henrique II (p. 21).

- Profissões de boticário, físico e cirurgião eram “meios para cometerem abusos”, os XNs, segundo Gonçalves Salvador (p. 21).

- Organização do Tribunal do Santo Ofício em 1478. Demanda da velha nobreza em desabono a florescente burguesia e prestamistas, contratadores, comerciantes, médicos, sacerdotes e funcionários públicos. Clero tinha muitos cristãos-novos (p. 22).

- Novo morticínio de XNs na Espanha em 1481 (p. 22).

- Corporações religiosas aumentam o rigor da “limpeza de sangue” para o Ingresso nas ordens (p. 22).

- Decreto de Expulsão dos Judeus em 1492 (p. 22).

- Fernando e Isabel: proibição de impressão de livros em latim e romance. Obras necessitavam de exame e permissão. Condições de “fidelidade a fé católica” (p.213).

- Grande controle de estrangeiros nas colônias espanholas; até os aragoneses eram submetidos a controle e restrições nas colônias (p.85). Temores quanto a espionagem (p.86).

- 1558: Papa Paulo IV impediu XNs de ingressarem no Hábito de São Francisco, e tornou oficial a exigência de pureza de sangue (p. 24).

- 1598: Papa Clemente VIII determinou que não houvesse impedimento para descendentes de judeus e hereges; mas Felipe, da Espanha, fez objeções a determinação do Papa (p. 24).

- 1600: exclusão dos XNs até o sétimo grau dos canonicatos, prebendas, dignidades eclesiásticas, benefícios e curas das almas (p. 24).

- 1611 a 1614: expulsão dos mouriscos (gerou problema de mão-de-obra) (pag. 92).

- Campanhas militares em Flandres (Países Baixos): grande demanda de recursos militares e financeiros dos cofres reais da Espanha (p.92).

- Filipe III a 11/03/1628 decretou permissão de casamentos mistos, graças a elevada quantia oferecida pelos judeus; houve grande reação e o Rei teve de voltar atrás (p. 4).

 

PORTUGAL e a INQUISIÇÃO PORTUGUESA:

- Revoluções e guerras “reciclam” a Nobreza. Muitos no campo de Ourique (1139) foram guinados a nobreza, quando apoiaram D. Afonso Henriques; A ascensão de D. João I e sua vitória em Aljubarrota (1385) promoveu grande mudança no perfil da Corte (p. 19).

- Enlaces matrimoniais e serviços ao Reino também eram formas de indivíduos alçarem a Nobreza (p. 20).

- D. Teresa Lourenço e D. Inês de Castro, amantes de D. Pedro I de Portugal eram judias (p. 3). NOTA de SAULO FRANCO: em pesquisas, não encontrei evidências de que ambas fossem XNs.

- D. Antônio, prior do Crato, era filho de D. Luís e de uma judia (p.4). NOTA de SAULO FRANCO: em pesquisas, não encontrei evidências de que ambas fossem XNs.

- Final do século XV – população estimada de Portugal: 1 milhão e 200 mil pessoas, dos quais 200 mil seriam judeus (p.45).

- Busca do saber, sinagogas secretas, fortalecimento da língua, incentivo a endogamia; por dois séculos, os judeus se mantiveram inassimiláveis. Trabalhos manuais não são castigos! (p.211).

- Capacidade, inteligência e pioneirismo judaico em vários ramos, os levavam a abusos, e atraíam a antipatia de alguns XVs e inveja de outros, segundo Gonçalves Salvador (p.213).

- Medievalismo permaneceu em Portugal e Espanha. O Renascimento e a Imprensa não tiveram fácil entrada na península (p.213).

- Portugal não tinha a aversão a hebreus que existia na Espanha. Mas, D. Manuel é obrigado a assumir o compromisso de banimento dos judeus para se casar com Isabel, filha dos Reis Católicos. Posteriormente, obrigou os judeus ao batismo e não-inquirições por 20 anos, mas, tão logo decretado, os XVs se apoiaram nos privilégios e logo veio o Tribunal (p. 23).

- Tratado de Tordesilhas: negociações complexas. D. João II, administrador da Ordem de Cristo, usou sua prerrogativa para pleitear a linha. Vantajoso para Portugal (p.283).

- Principais destinos dos XNs expulsos de Portugal: Brasil, Norte da África, Grécia, Turquia e Holanda (p.45).

- 1562: vedação aos XNs nos serviços públicos e profissões de físico-mor e médico (p. 24).

- 1564: restrições a publicações de livros (p.213).

- Ascensão do Cardeal D. Henrique ao trono e acirramento da Inquisição portuguesa – tensão aos XNs (p.159).

 

ARRENDAMENTO (1501-1516) DO BRASIL AO CONSÓRCIO E FEITORIAS:

- 1501 a 1516: Brasil foi arrendado a um consórcio de XNs, chefiados por Fernando de Noronha. Muitos dos pioneiros no povoamento foram XNs, (p.5).

- Quatro Feitorias: Porto Seguro, Cabo Frio (já existia em 1511), Pernambuco, Porto das Naus (S. Vicente) (pag. 237).

- Aproximação inicial com silvícolas e primeiras uniões conjugais, importante para a futura assimilação (pag. 238).

- 1526: embarque de açúcar de Pernambuco para o Reino (pag. 238).

 

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS x CAPITANIAS REAIS:

- Donatários (12): recebiam poderes extraordinários, conforme a Carta de Doação e o Foral. Poderes para nomear determinados cargos, arrendamento de passagens, licenças para construção de engenhos, distribuição de sesmarias, recebimento de dízimas e taxas (p. 242 e 243).

- Nas capitanias hereditárias haviam certas restrições quanto aos próprios donatários e parentes; nas capitanias reais os representantes da Coroa gozavam de maior “largueza” [ex: Correias de Sá, no Rio de Janeiro] (pag. 244).

 

NOBREZA “DA TERRA”:

- Indígenas consideravam uma honra ter filhas casadas com portugueses, de acordo com relato de Anchieta, a 16/04/1553 (p. 6).

- Os pioneiros, eram muito pobres, sem nobreza, dentre os quais muito degredados. Mas seus filhos e netos passaram a gozar de melhor situação social e econômica, e se aliaram por matrimônio a nobres e fidalgos que posteriormente vinham (p. 7).

- Pirâmide Social: Elite (alta administração) > Burguesia (militares graduados, senhores de engenho, clérigos, mercadores, profissionais liberais) > Povo Comum (artesãos, feitores, capatazes) > Negros e Ameríndios (p. 16).

 

RELAÇÕES FAMILIARES – XVs E XNs:

- Sempre houveram casamentos mistos. Várias famílias XV tinham também membros XNs (p. 4).

- Havia considerável carência de mulheres brancas na colônia, no Séc. XVI (p. 6).

- XNs gostavam de ter genros XVs, para maior segurança familiar (p. 12).

 

PROCESSOS DE HABILITAÇÃO:

- Interessavam muito aos XNs, assim como as ordens religiosas. Conferiam vantagens, privilégios e tranquilidade, permitindo elevação social e aproximação da Nobreza, isentando-os de certos impostos, contribuições forçadas e trabalhos indignos (p. 24).

- Parentes não podiam testemunhar. O processo durava meses ou anos, e tinha de haver pagamento inicial (p. 25).

- Consideráveis subornos e corrupção nos cartórios e nobilitações. Com o tempo, Ordens Militares e diversas mercês até entraram em descrédito (p. 27-28).

- D. João IV, restaurador: grande distribuição (venda) de mercês. Portugal precisava de recursos para as guerras contra espanhóis e holandeses (p. 29).

- Garcia Rodrigues Paes, construtor do Caminho Novo, não conseguiu a Habilitação a Ordem de X, por causa da avó materna; no entanto, o filho conseguiu, e este com o neto conseguiram se tornar fidalgos da Casa Real (p. 31-32).

 

QUESTÕES SUCESSÓRIAS QUANTO A CAPITANIA DE SÃO VICENTE:

- Sucesso inicial de São Vicente: clima, existência de povoação, participação pessoal do Donatário, presença de João Ramalho no planalto, boatos de minérios, instalação da indústria açucareira (p.370).

- D. Francisco de Faro, Conde de Vimioso, era marido de D. Mariana de Sousa da Guerra, Condessa de Vimieiro (herdou em 1611 a Capitania de São Vicente, do irmão Lopo de Sousa) – (p. 298). D. Francisco de Faro, foi contra os reis espanhóis. Ele e suas sete irmãs foram presos (p. 298).

- 1620: litígios de posse e demarcação – Conde de Monsanto x Condessa de Vimieiro (p.79). Demarcação em 1622, entre as Capitanias de Santo Amaro e São Vicente. São Paulo, Santos e São Vicente se tornou de Santo Amaro, sob o Conde de Monsanto; com a Condessa de Vimieiro, ficou apenas a vila de Itanhaém (p. 299).

- Fernão Vieira Tavares foi procurador da Condessa de Vimieiro até 1622, mas desentendeu-se com ela e foi substituído; passou a servir o Conde de Monsanto, e foi nomeado provedor da fazenda (p. 299).

- 1753: D. José I indeniza D. Carlos Carneiro de Sousa e Faro. São Paulo se torna Capitania Real (MINHA NOTA).

 

SÃO PAULO – ASPECTOS GERAIS:

- Colégio de Manuel da Nóbrega (1554): surgimento da povoação de São Paulo (p. 250).

- Em 1560: anexação de Santo André a São Paulo (guerras com silvícolas) (p. 250).

- Final do Sécº XVI: ataques de corsários a Santos/São Vicente – decadência dos núcleos (p.138).

- 1591: 140 fogos (São Paulo);

- 1606: 190 fogos, aproximadamente 950 moradores (São Paulo) – (p.290);

- Proporção estimada: 1.000 índios para 100 brancos. Prestígio de mamelucos, que reuniam os dois elementos (p.291).

- 1637: 600 habitações (São Paulo);

- 1660: 3 mil homens (São Paulo) - (informações do grupo de Salvador Correia de Sá); (p.62).

 

SÃO PAULO – CRISTÃOS-NOVOS:

- No início, o planalto paulista oferecia asilo, segurança e liberdade contra a Inquisição (p. 7).

- Primeiras cobranças de fintas em São Paulo, em 1606 (Atas da Câmara); (pag.58).

- Procedimentos em bandeiras: destruição de igrejas, objetos de culto, desacato a padres, prisão e assassinato de índios. Desrespeito a dias santos e jejuns. Os chefes das bandeiras sempre eram de linhagem sefardita ou aparentados com tais (p.53).

- Famílias com sangue semita: descendentes de Lopo Dias, Fernandes Povoadores, Garcia-Velhos, Dinis (entroncados com Camacho, Costa e Paiva), Estevão e Martim da Costa (ramificados via Mota, Colaço, Machado, Godoi Moreira e Lopes de Siqueira), Diogo Gonçalves Castelão, Branca Mendes, Vales, Vaz de Barros, Martim Rodrigues Tenorio, Geraldo da Silva, Francisco Lopes Pinto, Manuel Godis Malafaia, Tomás Freira, Gaspar Gomes, etc. Posteriormente, os Tavares – segundo Gonçalves Salvador (p. 62).

- José de Anchieta era em parte XN (p.81).

- Assinatura em cruz: nem sempre era sinal de analfabetismo (p.231).

- Apesar de algumas visitações e prisões, os XNs, no geral, jamais foram molestados coletivamente, e muitos eram influentes. A maioria, era de elementos comuns e pobres, mas houveram alguns da pequena nobreza, como os Vaz de Barros e os Correia de Sá (p. 371).

 

FUNDAÇÕES DE VILAS NO ESTADO DE SÃO PAULO:

- 1611: Fundação de Mogi-das-Cruzes (p.252).

- 1614: fundação de Curitiba, por Gabriel de Lara. Paranaguá elevada a vila em 1653 (p.289).

- 1620: Igrejinha de Sant’Ana do Paranaíba, por André Fernandes e sua mãe (p.255).

- 1643: Taubaté é vila, com Jaques Félix como fundador (p.254).

- 1651: Pelourinho em Guaratinguetá, por Domingos Dias Leme (p. 254).

- 1653: Jacareí elevava a vila, com petição do Cap. Diogo de Fontes (p.254).

- 1660: Paraty elevada a vila, por Jorge Fernandes da Fonseca (p.254).

- 1661: Capela em Sorocaba, por Balthazar Fernandes (p.255).

 

UNIÃO IBÉRICA e IMPACTOS em PORTUGAL e BRASIL:

- D. Antônio, bastardo e meio XN, foi rechaçado. Felipe II enviou um exército a Portugal e “comprou” a consciência de vários. Quanto a União, houve respeito aos estatutos, foros e privilégios pelos Habsburgos, exceto por Felipe IV. Poucos casos de espanhóis ocupando cargos em Portugal e no Brasil. A União trouxe maus frutos: inimizade com outras nações (Holanda, França e Inglaterra), feitorias portuguesas se tornaram alvos no exterior, colapso da marinha junto com a “Invencível Armada” em 1588, tributos excessivos, etc (p.295).

- 1581: planos (feitos em Paris) de aclamar D. Antônio rei no Brasil e instaurar o novo governo português (não era Independência, era uma alternativa aos Habsburgos) – (pag. 319).

- Espanha queria confinar a colonização lusa dentro dos limites de Tordesilhas. No entanto, os sertanistas paulistas ignoraram tal intenção “não concretizada” [espanhóis estavam mais atentos a prata no Peru] – (p.287).

- Aumento do fluxo de espanhóis e contingentes militares no Brasil, após a união das coroas. Por que muitos espanhóis desejaram se estabelecer em São Paulo, ao invés do riquíssimo Peru? A segurança [contra a Inquisição] explica (p.91).

- 42 indivíduos (cabeças de famílias) espanhóis chegaram na Capitania de São Vicente entre 1580 a 1640, dos quais 24 foram entre 1580 a 1600 (p.92).

- Suspeitos de etnia hebreia: Bartolomeu Bueno, Diogo de Onhate, Balthazar de Godoi, Diogo Sanches, Martim Rodrigues Tenorio, Francisco Maldonado, Jorge de Barros Fajardo, Bernardo de Quadros, João Bernal, Diogo Árias de Aguirre, Lucas Rodrigues de Córdoba, Diogo de Lara, Gaspar Manuel Salvago, Belchior Ordas de Leão, Álvaro Gomes Godinez, Barnabé de Contreras, Geraldo de Medina, Diogo Rodrigues de Salamanca, Bartolomeu de Torales, Pedro Fernandes Aragonês, Rendons de Quebedo, João Garcês e os Portes D’El-Rey.

- A Dinastia Filipina nunca gozou da simpatia dos portugueses e tampouco dos colonos em São Paulo, em especial devido ao ocorrido com D. Francisco, Conde de Vimioso e donatário de S. Vicente (p. 298).

- Inacianos preferiam D. Felipe, ferrenho católico. Paulistas, dos quais muitos cristãos-novos, eram contrários a Espanha (p. 301).

- A simpatia da alta nobreza e do clero português pelos Felipes decresceu paulatinamente. Portugal se enfraquecia com os Habsburgos. Por isso, as autoridades em Lisboa e Bahia “fecharam” os olhos as bandeiras predadoras organizadas por São Paulo e também “recalcitraram” sempre quando Felipe III (II de Portugal) insistia em organizar o Tribunal do Santo Ofício no Brasil. As autoridades portuguesas sabiam que se atendessem o rei espanhol, inúmeros judeus abandonariam o Brasil e a indústria açucareira, comercio, descobrimentos mineralógicos e a expansão territorial iriam decair (p. 302 e 303).

- Felipe (III de POR) nomeia a Duquesa de Mantua como regente de Portugal. Foi considerado desrespeitoso aos portugueses. Combustível para a revolta (p. 346).

- 1639: esquadra luso-espanhola sofre derrota no Canal da Mancha, contra franceses (p. 347).

- 1640 (1º Dez): Aclamação de D. João IV, Duque de Bragança, como Rei de Portugal. É a Restauração, inaugurando a Dinastia de Bragança (p. 347).

 

RESTAURAÇÃO – DINASTIA DE BRAGANÇA:

- Tensões entre portugueses e espanhóis na colônia. Prisões e sequestro de bens (p. 101).

- Empréstimos e suporte de XNs aos Braganças, em especial para as guerras contra Espanha e Holanda, incluindo intermediação do Pe. Vieira. Este pleiteava a volta dos XNs expatriados.

- 1652 (1º dez): Duarte da Silva, financiador da causa portuguesa, apesar de tudo, sai em auto-de-fé, com finanças diminuídas e desorganizadas; Manuel Fernandes Vieira, um dos paladinos da Restauração, é condenado à fogueira. Foi evidenciado conflito de interesses entre a Igreja e o Estado português; foi um “aviso” do Santo Ofício a D. João IV (p. 358-359).

 

VISITAÇÕES DO SANTO OFÍCIO AO BRASIL:

- Visitações do Santo Ofício (BA e PE): 1591, 1618 e 1627 (p.63).

- Visitação em São Paulo em 1628, licenciado Pires da Veiga. Paulistas tinham má-fama (p.147).

 

RIVALIDADE PIRES-GARCIA x CAMARGOS:

- Não são conhecidas as intrigas iniciais; até 1635 os Pires possuem maior influência. Camargos afastam Raposo Tavares (genro de Manuel Pires) da ouvidoria e Simão Borges de Cerqueira (ligados aos Lemes, Dias Pais e Taques). Aclamação de Amador Bueno (1640) foi gerida pelos Camargos (p. 10).

- Os Pires tinham muitos apoiadores XNs (p. 10).

- Aclamação de Amador Bueno, suportada pelos Camargos e espanhóis em 1640 foi uma “rebelião” contra a recém-empossada Dinastia de Bragança (p.297).

 

CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS DAS BANDEIRAS:

- Branco (XV ou XN) no comando; indígenas, mamelucos como auxiliares, e sacerdote. Expertise indígena na exploração do sertão, obtenção de alimentos, localização. Cultivo de milho, feijão, mandioca, amendoim; canjica, mingau e farinha. Frutas silvestres, caça, pesca, uso de canoas/troncos (p.268).

- Para o Ibérico, era desonroso o trabalho servil e braçal. Por isso, a busca de indígenas, para o trabalho nas lavouras (p.292).

- 1562: descoberta de ouro no Jaraguá, próximo a vila de São Paulo (p.269).

- 1570: ouro em Paranaguá (Curitiba) (p.269).

- 1573 a 1578: expedições pelo Rio São Francisco. Sebastião Fernandes Tourinho pode ter encontrado pedras em Diamantina; Antônio Dias Adorno captura 7 mil indígenas e obtém pedras preciosas (p.269).

- 1601: expedição de Wilhelm Jost Glimmer, mineiro holandês, pelo vale do Paraíba e Mantiqueira (p.274).

- Vale do Paraíba e Bacia do Paraguai: corredores de bandeiras. Devastação e ocupação (p.274).

- Maria da Costa [madrasta de Antônio Raposo Tavares] em 1618 é presa com o pai, quando tentaram embarcar em Lisboa. Pobre, passa 6 anos presa. Bens foram confiscados, em razão do desvio de 600$000 de Fernão Vieira Tavares da Bula da Cruzada, quando tesoureiro em Beja. Profundos ressentimentos na família (p. 146).

- 1604 e 1618: Belchior Dias Moréia (neto do Caramuru) atingiu Chapada Diamantina (p.271).

- Antônio Raposo e o pai residiam na Bahia, de início, onde Fernão Tavares, o pai, era contador; vai em 1622 com o filho para o sul, em designação (p. 145);

- Missões (seis povos): entrave aos planos de expansão paulista (p.294); significava menos territórios, menos escravos e embaraços para se alcançar os territórios paraguaios e peruanos (p. 307).

- 1628: expedição de Raposo Tavares (p. 307). Noventa homens (mamelucos na maioria) e 2.200 índios, aliados. Chefes: Antônio Raposo Tavares, Brás Leme, André Fernandes, Manuel Pires (sogro de Raposo Tavares), Pascoal (meio-irmão de Raposo Tavares), alguns Bicudos, Sebastião de Freitas (p.308-309).

- Sobre a expedição (1628), D. Luís Xería, governador, foi conivente, apesar de ser representante da Espanha. Ele recebeu 200 escravos das Missões e tinha relações de “presentes” com os bandeirantes. Graças aos estragos causados pelos bandeirantes, D. Luís foi submetido a processo (p. 308).

- 1637-1641: grandes expedições de Raposo Tavares e Manuel Pires na região Sul e Paraguai. Após esta data, os paulistas focaram o Nordeste, contra invasores holandeses (p.288-289).

- Período pouco anterior a Restauração: intenções de instaurar o Santo Ofício na Bahia e Rio de Janeiro; criação da Diocese do Rio de Janeiro; restauração das Missões e ordem de prisão a Raposo Tavares, para julgamento pela Inquisição. A aclamação de D. João IV foi uma grande vitória para os paulistas (p. 313). NOTA de SAULO FRANCO: não foi dado prosseguimento na ordem de prisão a Raposo Tavares, graças a sua influência.

- 1665: expedição de Brás Rodrigues de Arzão e Fernão Pais de Barros, em busca de riquezas nos sertões do Sabaraboçu. Incentivos de Afonso VI para novas expedições (p.275).

- 1674: expedição de Fernão Dias Paes, o filho Garcia Rodrigues Pais e o genro Borba Gato a Minas Gerais. Locais de roças deram origem a povoados. Fernão Dias morre em 1681, no retorno, a margem do Rio das Velhas, em delírio por supostamente ter encontrado esmeraldas (p.276).

- Assassinato de Rodrigo de Castelo Branco, administrador das Minas, por Borba Gato (p.277).

- Legado do Sertanismo: envolvimento de todos os elementos étnicos e sociais da sociedade paulista, espírito de liberdade e desenvolvimento nos paulistas, exportação de excedentes das lavouras paulistas, desbravamento dos sertões, descobrimento de minérios; porém, grande redução populacional e aniquilamento da cultura indígena (p. 314).

 

MINAS GERAIS – EXPEDIÇÕES e POVOAMENTO:

- Paulistas consagraram-se a mineração, e substituíram o indígena pelo negro africano (p.278);

- Grande povoamento das vilas, abalando a estrutura das vilas sulinas (paulistas);

- Maiores cuidados na Administração do Rio de Janeiro, por ser o porto das Minas;

- Caminho Novo, por Garcia Rodrigues Pais. Ataques franceses no litoral, em 1710 e 1711;

- Ligação Bahia-Minas pelo Rio São Francisco;

- Deslocamento de muitos sefarditas para a região das Minas. Diluição da crença e do sangue;

- Guerra dos Emboabas. Manual Nunes Viana (XN), proclamado governador pelos Emboabas e o sargento-mór Bento do Amaral Coutinho participam em 1708-fev do “Capão da Traição”. Viana, por ser rico, escapa da justiça. Bento morre no Rio, lutando contra os franceses. NOTA de SAULO FRANCO: não pesquisei ainda a suposta origem XN de Manuel Nunes Viana.

- Ação rigorosa do Santo Ofício no Rio após 1705, em razão do surto aurífero nas Minas (p.279).

 

RIO DE JANEIRO: MISCIGENAÇÃO, ECONOMIA e CRISTÃOS-NOVOS:

- Maior miscigenação que São Paulo, em especial, com africanos (p. 373).

- Economia carioca: riqueza imobiliária, engenhos. Diferente de São Paulo, que predominava a policultura, sertanismo e comércio (p. 374).

- Século XVIII: em razão de ser o porto de escoamento do ouro, o Santo Ofício apertou o cerco contra os XNs lá residentes (p. 375).

 

INVASÕES DE OUTRAS NAÇÕES EUROPÉIAS:


FRANCESES:

- Francisco Casado de Paris, Luís Fernandes Francês, Estevão Furquim e João Porrate: poderiam ser XNs, visto que conquistaram a amizade de portugueses (p.87).

- Sempre incursionaram no litoral brasileiro. Maior ameaça, em termo de pirataria. Muitas relações, inclusive de mestiçagem, com indígenas (p. 324-325).

- França Antártica (Rio de Janeiro, 1555). Ações de Mem de Sá e Jerônimo Leitão, no Cabo Frio (p. 326); Ocupantes da Paraíba; expulsos em 1585 por Martim Leitão, e, início do povoamento português na dita região (p. 326); França Equinocial (Maranhão, 1594-1615): derrotados por Diogo de Campos e Jerônimo de Albuquerque (p. 327).

 

INGLESES:

- Quando instaurada a União Ibérica, havia uma comunidade de judeus na Inglaterra, dos quais a maioria nascidos em Portugal e Holanda (p. 320).

- Foram raros os ingleses, principalmente em razão da inimizade com espanhóis. Henry Barrawell é citado na Genealogia Paulistana (p.87).

- Ataques de Edward Fenton (1583) e Thomas Cavendish (1588, 1591 e 1592) no litoral paulista, em razão de boatos de ouro e prata em São Vincente [na verdade, no Jaraguá] – (p.272).

- João Gago e Manoel de Oliveira Gago estiveram envolvidos no contrabando de pau-Brasil com ingleses (p.323).

 

HOLANDESES – PRIMÓRDIOS até 1640:

- Tinham boas relações com Portugal até a ascensão de Felipe II. Os Lemes, os Taques, Cornélio D’Arzão, Manuel Vandale são exemplos. Trabalhos com siderurgia (p.89).

- Entre 1600 – 1650: persistência dos holandeses no corso na costa brasileira. Em 1616, os holandeses prenderam 28 navios de carreira no Brasil (p. 330).

- 1624: poderosa expedição a Bahia, com pouca resistência dos baianos (Brasil e Portugal sob domínio Habsburgo). Grande auxílio de judeus em toda a empreitada, em especial, Diogo Lopes de Abrantes, Gonçalo Homem de Almeida e Manoel Rodrigues Sanches. Abandono de Madrid e culpa atribuída aos judeus (p. 333, 334 e 335).

- Tentativa de conquista da Angola (suprimento de escravos), mas forte resistência e retorno. Tentam na volta a conquista do Espírito Santo, mas são derrotados por Salvador Correia de Sá (p. 336).

- Reconquista da Bahia pelos portugueses, por volta de 1626. Amizades, prestígio e dinheiro conseguiram salvar os judeus (p. 337).

- 1628: fragilidade de Pernambuco, grande produtor de açúcar: milícia de menos de 400 homens a serviço de Portugal. Cartas interceptadas pelos holandeses (p. 339).

- 1630 (14 fev): 67 navios, 3 mil homens, conquista de Olinda. Auxílio de XNs (pag. 340). Temores espanhóis de futuro ataque no Peru (prata). Pernambuco vivenciava problemas, com fuga de comerciantes, aumento de taxas e descaso espanhol (p. 341).

- 1631: Armada 5 navios portugueses e 16 navios espanhóis. Recrutamento de criminosos. Comando de D. Antônio de Oquendo. Luta no litoral baiano. Morte do comandante holandês Adrian Pater e vitória luso-espanhola. Porém, holandeses mantém Recife.

- 1633: Holanda, que já tinha a posse de feitorias no Oriente, conquista a Mina (África) – (p. 342).

- 1638: esquadra de Fernando de Mascarenhas, Conde da Torre, vai para a Bahia, ao invés de Pernambuco, em socorro as investidas anteriores do Conde Maurício de Nassau.

- 1640: derrota sofrida por Fernando de Mascarenhas. Holandeses planejam assalto a Santos. Fernão Dias Paes e Garcia Rodrigues Paes ficam de sobreaviso (p. 347).

- Revés sofrido por expedição terrestre de paulistas ao Nordeste, entre eles, os Vaz de Barros e Raposo Tavares (p. 350).

- 1641-1648: conquista e domínio de Luanda (Angola) pelos holandeses. Portugueses ficam com poucos redutos no interior (p. 351).

- D. João IV: aconselhado a aproximação com Holanda, por Jerônimo Henrique da Veiga, possivelmente cristão-novo (p. 352). Dois meses de conferência, tratado de 35 artigos. Mas as cláusulas não preveem devolução dos territórios conquistados.

- Apesar do Tratado, holandeses se apossam de São Tomé, Luanda e Maranhão (p. 353).

- Levante do Maranhão em 1644 (fev); ocupação de Olinda em 1645 (set); porém, derrota portuguesa no mar, sob comando de Serrão de Paiva (p. 354).

- Empréstimos de XNs a D. João IV. Assumem também o fornecimento de alimentos e suprimentos aos exércitos portugueses (p. 355).

- 1645: Bernardo Aires de Aguirre e João Mendes de Vasconcelos chefiam força de 500 soldados, para socorrer Pernambuco. Vitória na batalha das Tabocas [3 de Agosto] – (p. 356).

- 1648 (19 de abril): grande vitória luso-brasileira em Guararapes, próximo a Recife (p. 357).

- 1648 (agosto): Salvador Correia de Sá ataca Angola e a reconquista, contra holandeses (p.357).

- Fatores da vitória lusa: participação de brasileiros, suporte financeiro de judeus, desgaste dos holandeses em conflito naval com a Inglaterra (p. 360).

- 1661 (6 de agosto): Tradado de paz com Holanda. Indenização por 16 anos, custoso. Mas Portugal pôde reaver os territórios no Brasil e na África, integralmente.

 

Aqui encerro o resumo da obra de Gonçalves Salvador, de grande valor histórico e informações acerca do povoamento brasileiro no centro-sul, com considerável riqueza nos assuntos referentes a Portugal e Espanha.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Decreto Legislativo nº 456 de 04 de março de 1993. Prefeitura de São Bernardo do Campo-SP. Concessão de Título de cidadão são-bernardense ao Sr. José Gonçalves Salvador. Consulta em 01/05/2023. Disponível em:

https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-bernardo-do-campo/decreto-legislativo/1993/46/456/decreto-legislativo-n-456-1993-dispoe-sobre-concessao-de-titulo-de-cidadao-sao-bernardense-ao-sr-jose-goncalves-salvador

 

SALVADOR, J.G. Os cristãos-Novos: Povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-1680). São Paulo: Editora Pioneira, 1976. 406 p.

sábado, 9 de abril de 2022

Lopes da Silva e Pereira Lisboa: Duas Famílias, Uma Origem (LIVRO)

 

Caros leitores,

Com grande satisfação, anúncio a disponibilidade para vendas de livro recentemente lançado:


LOPES DA SILVA E PEREIRA LISBOA: DUAS FAMÍLIAS, UMA ORIGEM





A publicação, de minha autoria, descreve a origem comum e a [enorme] descendência das referidas famílias (Lopes da Silva e Pereira Lisboa) nas regiões das Vertentes e Zona da Mata Mineira, em especial nos municípios de Bias Fortes, Ewbank da Câmara, Piau e Juiz de Fora (distritos de Rosário, Paula Lima e Chapéu D’Uvas).

O livro é resultado de anos de pesquisa, com contribuições pontuais e importantes de diversos pesquisadores.

 

Os interessados em adquirir um exemplar podem me escrever, para o e-mail saulo.franco@ufjf.br .

O valor de cada exemplar é R$ 39,00 (trinta e nove reais) + Despesas de Postagem.

 

Se o leitor preferir, poderá adquirir um exemplar através dos sites abaixo relacionados:


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ESTANTE VIRTUAL:

https://www.estantevirtual.com.br/umlivro/franco-saulo-lopes-da-silva-pereira-lisboa-3091634155?show_suggestion=0

 

LOJA UM LIVRO:

https://loja.umlivro.com.br/lopes-da-silva---pereira-lisboa-6292708/p

 

CASAS BAHIA:

https://www.casasbahia.com.br/livros/BiografiasCartasMemorias/Biografias/lopes-da-silva-pereira-lisboa-1531282108.html?IdSku=1531282108

 

Agradeço a todos, e espero que, nos próximos anos, novas publicações possam surgir.

 

Abraço a todos!

sábado, 6 de novembro de 2021

Descrição da descendência de Violante Loba

 

Neste esboço, faço a reconstituição da descendência de Violante Loba, cristã-nova natural e residente em Beja-PT, no século XVI. Todas as informações aqui constantes foram extraídas das sessões de genealogia dos processos de Maria das Neves (presa a 23/08/1628), Isabel Ramos (21/10/1625), Francisca Dias (30/04/1626), Estêvão Banha (16/09/1624) e certidão de casamento de Manoel Preto de Moraes com Inês Ribeira (28/11/1642).

 

SIGLAS: F: filho, N: neto, B: bisneto, TR: trineto.

 

DESCRIÇÃO DA DESCENDÊNCIA

 

Violante Loba, cristã-nova, foi filha de Manuel Rodrigues e Maria Lopes, moradores de Beja. Violante casou duas vezes: a primeira com Manuel Rodrigues, cristão-novo, e a segunda vez com Gaspar Banha, cristão-velho, sapateiro, filho de Pedro Banha, também sapateiro, morador em Beja e Isabel Jorge.

Do primeiro matrimônio, com Manuel Rodrigues (cristão-novo), houve a filha:

 

F1 – Maria Lopes, falecida antes de 29/08/1624, cc Manuel Luís Preto, cristão-velho, sapateiro, filho de Luís Dias, “dizimeiro” e Francisca Dias. Manuel Luís tinha por irmãos Thomé Dias, sacerdote, falecido em São Tomé, Gaspar Dias, Maria Dias e Isabel Luís. Filhos de Maria Lopes e Manuel Luís:

 

F1N1 – Brás Manuel, nascido aprox. em 1599. Com 25 anos, onde se ausentou não se sabe para onde em 1624. No processo da irmã Francisca Dias, é mencionada como boticário e residente em Sevilha, Espanha, casado com a castelhana e cristã-velha Isabel. Falecido antes de 18/06/1628. Filhos:

F1N1B1 – Antônio, com 7 anos em 1626.

F1N1B2 – uma filha de 9 anos.

F1N1B3 – uma filha de 4 anos.

 

F1N2 – Maria Luís, casada com João Fernandes, sapateiro de obra-grossa, com os filhos:

F1N2B1 – Manuel, de 7 anos em 1626.

F1N2B2 – Inês, de 9 anos.

F1N2B3 – Maria de 4 anos.

 

F1N3 – Isabel Luís, viúva de Domingos Fernandes, cristão-velho, sapateiro de obra-grossa. Presa a 21/10/1625 e auto-de-fé a 30/11/1626. Do casamento, houve os filhos:

F1N3B1 – Francisca, casada com um lavrador, cristão-velho. Não foi citada no depoimento da prima Isabel Ramos.

F1N2B2 – Maria, solteira, com 12 anos em 1626.

F1N2B3 – Joana, de 7 anos.

F1N2B4 – Manuel Luís, morador de Beja casado com uma cristã-velha, de nome desconhecido pela depoente Isabel Ramos. Teve sete filhos.

F1N2B5 – Brás, “moço de pouca idade”, segundo Isabel Ramos.

 

F1N4 – Francisca Dias, nascida aprox. em 1566 em Beja. Batizada na Igreja de Salvador de Beja, tendo por padrinhos Fernão Paes e Maria Lopes. Seu padrinho de crisma foi Gaspar Rodrigues. Já viúva antes de 29/08/1624 de Manuel Rodrigues Barroso, filho de Fernão Rodrigues e Isabel Ramos (o processo de Estêvão Banha equivocadamente o chama de Fernão), cristão-velho e lavrador. Francisca foi presa a 30/04/1626 e auto-de-fé a 22/09/1626. Sofreu tormento (tortura).  Filhos do casal:

 

F1N4B1 – Fernão Rodrigues. Lavrador, casado com Maria Dias, cristã-velha, com os filhos em 1626:

F1N4B1TR1 – Luísa, com 10 anos. 13 anos em 1629.

F1N4B1TR2 – Francisca, de 7 anos. Provavelmente falecida antes de 1629.

F1N4B1TR3 – Isabel, de 2 anos. 7 anos informados pela prima Maria das Neves, em 1629.

 

F1N4B2 – André Rodrigues. Sapateiro de obra-grossa, casado com Maria [Terneira] cristã-velha, com os filhos:

F1N4B2TR1 – Manuel, com 3 anos em 1626. 6 anos citados em 1629, pela prima Maria das Neves.

F1N4B2TR2 – Maria, de 5 anos em 1626, 7 anos em 1629.

F1N4B2TR3 – Violante, com 2 meses em 1626, 2 anos em 1629.

 

F1N4B3 – Isabel Ramos. Casada primeira vez com Manuel Dias, cristão-velho e lavrador, filho de João Fernandes e Leonor Dias, falecido antes de 1621. Isabel casou segunda vez com Francisco Fernandes, cristão-velho, barbeiro. Já viúva em 1626.

Do 1º casamento com Manuel Dias, houveram os filhos:

F1N4B3TR1 – Maria, com 15 anos em 1626. É a Maria das Neves, presa a 23/08/1628 e auto-de-fé a 01/04/1629, solteira.

F1N4B3TR2 – Manuel, com 13 anos em 1626. Citado com 16 anos de idade pela irmã em 1629, como “Manoel Preto, sapateiro, que se ausentou de Beja não se sabe para onde nem se é vivo”. Este é Manuel Preto de Moraes, que imigrou para São Paulo-BR e casou a 28/11/1642 com Inês Ribeira, onde é declarada sua naturalidade e filiação. De seu matrimônio houve numerosa descendência no Brasil.

Do 2º casamento com Francisco Fernandes, houve a filha:

F1N4B3TR3 – Maria, com 5 anos em 1626.

 

F1N4B4 – Maria José, casada com Manuel de Souza, sapateiro de obra-prima, ⅛ cristão-novo (procº de Francisca Dias) ou ¼ cristão-novo (procº de Isabel Ramos), com o filho:

F1N4B4TR1 – Fernando, com 5 anos em 1626.

 

F1N4B5 – Manuel Rodrigues, falecido antes de 1628, solteiro. Citado no processo da irmã Isabel Ramos.

 

Do segundo matrimônio, com Gaspar Banha (cristão-velho), houveram os filhos:

 

F2 – Estêvão Banha, nascido aprox. em 1559, batizado na igreja de Salvador de Beja pelo mestre Manuel Feio. Teve por padrinho de crisma Brás das Neves, cristão-velho. Preso em 19/06/1624 por judaísmo, com 65 anos de idade declarados a 29/08/1624 (depoimento constante na sessão de genealogia do seu processo). Auto-de-fé a 29/11/1626. Era rendeiro, casado com Catarina de Souza (ou Serra), cristã-velha, sem filhos. Estêvão sabia latim e estudou um ano de filosofia e três anos de “casos de consciência” na universidade “desta cidade” [Évora ou Beja?]; nunca saiu do reino e nele esteve em Lisboa, Montemor e Mertola.

 

F3 – Isabel Jorge (ou Lobo), já falecida a 29/08/1624. Foi casada com Brás Dias, oleiro, cristão-velho. Filhos:

 

F3N1 – Diogo Dias, oleiro, cc Maria Corrêa, cristã-velha. Filhos:

F3N1B1 - Brás, com 12 anos em 29/08/1624.

F3N1B2 - Manuel, com 5 anos.

F3N1B3 - Gaspar, com 3 anos.

F3N1B4 - Maria, com 10 anos.

 

F3N2 – Estêvão Banha, oleiro, cc Inês (ou Maria) Vaz, cristã-velha, falecida entre 1624 a 1626; tiveram o filho:

F3N2B1 - Brás, com 8 anos em 29/08/1624.

 

F3N3 – Maria Cochilha, com 25 anos em 29/08/1624, solteira, residente em Beja. Em 1626, no processo de Francisca Dias é mencionada casada, mas o nome do marido era desconhecido.

Outros filhos de Violante Loba, cujo nome do pai não é confirmado com exatidão:

 

F4 – Gabriel Lobo. Falecido antes de 1626. Foi sapateiro, solteiro.

 

F5 – Antônio Rodrigues. Casado com Maria Rodrigues, cristã-nova. Falecido antes de 1626. Sem filhos.

 

 

OBSERVAÇÕES:

 

1) Nos processos de Isabel Ramos e Francisca Dias, consta que Gaspar Banha seria o avô materno de Francisca Dias. No entanto, no processo de Estêvão Banha, tio de Francisca Dias, consta a informação de que Maria Lopes (mãe de Francisca Dias) seria filha de um primeiro casamento de Violante Loba, com o cristão-novo Manoel Rodrigues, e o depoente Estêvão Banha, seria filho do segundo casamento de Violante Loba, com Gaspar Banha. Entendo que é prudente seguirmos o depoimento de Estêvão, por este ser mais velho que Francisca Dias e Isabel Ramos e estar “mais próximo” dos fatos pertinentes à própria mãe (Violante Loba). É interessante a seguinte reflexão: será que Francisca Dias pensou que Gaspar Banha realmente seria seu avô materno ou o citou como tal em razão deste ser cristão-velho, e, com isso, “reduzir” sua fração cristã-nova?

 

2) Sapateiro de “obra-grossa” seria o ofício responsável pela fabricação das solas dos calçados; sapateiro de “obra-fina” seria o responsável pelos acabamentos do calçado, na parte superior.

 

 


Referências Bibliográficas:


 

PROCESSOS DO TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO (Torre do Tombo):

 

Maria das Neves:

http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363489

 

Isabel Ramos:

http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366803

 

Francisca Dias:

http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366837

 

Estêvão Banha:

https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363334

 

CERTIDÃO de CASAMENTO (São Paulo, 28/11/1642): Manoel Preto de Moraes e Inês Ribeira. O registro informa a naturalidade e filiação dos noivos.


Os gestos que nós perdemos. Dissertação de Mestrado de João Manuel Lagarto de Brito. Universidade do Porto, 2006. 114 p.