domingo, 13 de janeiro de 2019

HERANÇA GENÉTICA x HERANÇA GENEALÓGICA


Nos dias atuais, há a ampla divulgação de exames genéticos, ofertados por uma variedade de sites. Estes exames, a preços relativamente módicos, enviam ampolas e instruções ao usuário, que, por sua vez, faz a coleta do material e o laboratório (empresa/instituição) realiza o “mapeamento” dos cromossomos, fornecendo percentuais de sua “composição étnica” (Ex.: você pode ser 50% ibérico, 25% escandinavo/germânico, 25% africano; um breve exemplo).

Muitas pessoas, seja por propaganda dos próprios sites, seja por desconhecimento, confundem tais experimentos genéticos com o Estudo da Genealogia. Para genealogistas, isto é óbvio, mas, para iniciantes, faz-se a confusão. Em “nome” dos genealogistas, digo categoricamente: EXAMES GENÉTICOS NÃO REFLETEM EM NADA O ESTUDO DA GENEALOGIA, E MUITO MENOS O SUBSTITUI. E isto não é lobby deste genealogista amador. As explicações, seguem abaixo:

Nossa herança genética, vem dos antepassados diretos. Desta herança, 50% vêm de nosso pai, e 50% de nossa mãe; Se recuarmos mais uma geração, teremos 25% para cada avô e avó; Se irmos para os nossos bisavós, temos 12,5% de herança de cada bisavô e bisavó; e assim sucessivamente.

Se não levarmos em conta a endogamia (implexo), ou seja, não considerarmos ascendências repetidas / parentescos entre os nossos antepassados, na geração de nossos décimos avós, onde seriam 2.048 indivíduos, teríamos uma herança inferior a 0,05% por indivíduo. EM SÍNTESE: quando recuamos para antepassados mais remotos, em razão do grande número de ascendentes que temos, é remota a probabilidade de termos “traços genéticos” do mesmo, visto o grande número de antepassados que temos. Esta probabilidade apenas aumentará a medida que descendermos repetidamente deste indivíduo, com maior frequência e incidência (endogamia). Esta “redução de força” dos antepassados remotos, quanto a herança genética, entendo como um importantíssimo instrumento de adaptação das espécies: os genes (traços) dominantes, são transmitidos, ao longo da descendência, e sua herança será “mais forte e incisiva” nas gerações de antepassados mais próximas a você, onde, estes, por viverem em um ambiente de maior semelhança a você, transmitirão os genes que melhor se adaptarão a sua realidade ambiental. Esta breve demonstração matemática mostra, em termos práticos e simples, a evolução e adaptação das espécies em diferentes ambientes.

Portanto, aqui faz-se o “ponto chave”: você pode ser descendente de um indivíduo a várias gerações “atrás”, mas dificilmente, terá “herança genética” deste indivíduo. Vejamos, por exemplo, o caso de Carlos Magno, Imperador Franco. Este, viveu entre 742-814 de nossa era cristã. Eu, por exemplo, sou descendente algumas vezes deste, situando-o como 35º a 40º avô, dependendo da genealogia em estudo; Mesmo que eu seja descendente deste mais de cem vezes, ou até mil, ainda assim, numericamente, Carlos Magno ainda não teria “força genética” diante de bilhões de outros antepassados (número teórico, sem levar em conta as infindáveis endogamias) que teria vivido a seu tempo. Talvez, quem teria maior probabilidade de carregar sua herança genética nos dias atuais seriam os descendentes próximos das Casas Reais, em razão dos elevadíssimos casos de implexo e endogamia em ascendências reais; ainda assim, são remotas as chances desta herança se fazer presente com frequência nos dias atuais.

No entanto, apesar da grande afinidade com a genealogia, e aplicação em seus estudos, considerando-a insubstituível, fiz um exame de DNA, do My Heritage. Minha intenção, ao fazer este exame, foi verificar se o mesmo era preciso na descrição da história da formação dos povos que compõe minha ancestralidade.

Recebi, pelo correio, os cotonetes e as ampolas, fiz a coleta do material e enviei a amostra. O resultado, no geral, não me trouxe grandes surpresas (exceto uma), visto que, a GENEALOGIA, antes, já tinha me mostrado o caminho da história e formação dos povos brasileiro e português.




Com relação aos povos encontrados, faz-se necessárias breves observações:

IBÉRICO (47,90%): consiste nos povoadores iniciais da península ibérica. Os Lusitanos estão neste grupo; logo, é natural o elevado percentual destes;

NIGERIANO (16,80%): na verdade, entendo esta denominação como genérica, referindo-se provavelmente aos sudaneses, grande grupo povoador da porção sudoeste e central da África. Os bantos (outro povo africano) situava-se no centro sul do continente, englobando Angola, por exemplo. De ambos os povos, são descendentes grande parte dos homens e mulheres que foram escravizados e trazidos para o Brasil, na vergonhosa e lamentável escravidão, tão duradoura em nosso país. Eu já conhecia a minha ancestralidade africana, em meu ramo materno. Infelizmente, a escassez de documentos e registros não me permitiram “ir longe” nas pesquisas genealógicas.

ESCANDINAVO (12,50%): certamente, esta denominação se refere as tribos germânicas que invadiram o Império Romano, após o século V, cuja ocupação também ocorreu na península ibérica. Deve-se salientar que estes invasores/povoadores se constituíram na casta militar e nobreza portucalense e ibérica, visto que estes eram descendentes diretos dos visigodos e suevos. Obviamente, além destes, entendo que este grupo também poderia representar invasores vikings e a nobreza franco-germânica, que porventura ajudaram a formar a identidade portuguesa.

CENTRO-AMERICANO (7,70%): são os indígenas da porção centro-sul de nosso continente. Salvo engano, já li, há algum tempo atrás, que os grupos indígenas do centro-sul do Brasil não possuem relações étnicas com as tribos da Amazônia. Os Tupi e Guarani, neste caso, possuiriam relações genéticas/étnicas mais próximas dos Incas e Maias do que os índios Amazonenses. No meu caso, este percentual (7,7%) reflete quase que perfeitamente a minha ascendência com minha trisavó Luiza Maria D’Assumpção (6,25%), onde há relatos orais que esta seria indígena. O percentual restante (1,45%), seria oriundo dos antigos paulistas e bandeirantes.

GREGO (6,10%): certamente, refere-se a colonos que povoaram a Hispânia, na Idade Antiga. O que me surpreende, neste caso, é o elevado percentual. É uma herança significativa, se levarmos em conta a provável antiguidade desta ascendência.

NORTE-AFRICANO (2,80%): certamente, são cartagineses e mouros, que colaboraram no povoamento e formação da identidade dos povos ibéricos.

ITALIANO (2,30%): acredito que são povoadores romanos, que colonizaram a Hispânia e a Lusitânia. Até tenho um antepassado italiano, povoador da Ilha Terceira, no século XVI, mas, entendo que este, por si só, não teria “força genética”, entre tantos antepassados, para ser representado por percentual tão significativo.

SOMALI (2,20%): estes foram intrigantes! Embora conheça a minha ancestralidade africana, da costa oeste do continente, os somalis foi uma surpresa, justamente por estarem na costa oposta (leste) do continente, sendo também um percentual significativo. Pelo que sei, os africanos escravizados no Brasil eram, basicamente, bantos e sudaneses, não somalis. Em pesquisa rápida e informal na internet, percebi que portugueses possuem, na média, alguma herança somali. Minha “interpretação” é uma expansão destes genes via Islão. Poderiam ser soldados ou escravos, onde teriam expandido a medida que o rápido avanço dos muçulmanos ocorreu no Egito e no norte da África. Não consegui ainda achar literaturas que poderiam ajudar a entender a presença somali.

ORIENTE MÉDIO (1,70%): Certamente, são povos semitas (árabes e judeus). Se referem a povoadores muito antigos da península ibérica, onde os judeus, até pouco antes das conversões forçadas, conseguiram manter sua identidade. É de amplo conhecimento o grande fluxo migratório de cristãos-novos para o Brasil, em especial, para Minas Gerais.

Como comentado anteriormente, todos os povos, aqui descritos, e presentes em minha ancestralidade, demonstram tudo que a genealogia já tinha exposto. Em minhas pesquisas, já tinha conhecimento da ascendência indígena, africana e portuguesa. Quanto aos portugueses, em meu ramo paterno, consegui avançar até períodos remotos, na formação da Europa e de Portugal. Os resultados de DNA confirmaram toda a gênese das monarquias e nações estudadas na genealogia. 

Faço aqui uma observação: não tenho conhecimentos profundos de Biologia; portanto, se eu cometi algum equívoco quanto a nomenclatura genética e biológica, peço antecipadamente desculpas.


BIBLIOGRAFIA:

MY HERITAGE TEST (Saulo Henrique de Azevedo Franco) – Consultado em 24/09/2007


YOUTUBE VIDEOS:

Are You Genetically Related to Charlemagne? - DNA and Genealogy
https://www.youtube.com/watch?v=_vm6almBFEo

DNA Ethnicity Results Aren't What You Think

https://www.youtube.com/watch?v=u8lMfGqSrwg

 

Why am I only genetically related to 120 ancestors? - A Segment of DNA

https://www.youtube.com/watch?v=9g-VwtRd8ks

How many unique ancestors do you have?

https://www.youtube.com/watch?v=tgXu19LNYEk




4 comentários:

  1. Caro amigo Saulo.
    Muito boa explicação. Concordo contigo.
    Muito mais do que a herança genética, a herança moral-cultural-educacional é a que vale. O adotado em uma família de elevado rank cultural-educacional-moral é muito mais descendente desta família do que o próprio filho genético, criado por outra com um rank menos proeminente. Genealogia tem muito mais que ver com capital humano-social-cultural do que, biológico.
    Abs e sucesso em suas ótimas postagens.

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    1. Caro Sandro, obrigado meu amigo! Por algum erro de notificação de e-mail, não pude visualizar sua mensagem antes. Abç!

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  2. Boa tarde
    É possível descobrir alguma fraude genealógica em uma diligência de habilitação para se tornar membro da inquisição ?

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    1. Caro Rodrigues, creio que a investigação cronológica e documentaal (batismos, casamentos e óbitos) do indivíduo contemplado pela genealogia levantada no processo de habilitação de genere et moribus pode revelar algum erro, caso este exista. Cada caso deve ser verificado. Se desejar ajuda, estou a disposição. Abç!

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