sábado, 21 de novembro de 2015

Os “dez mandamentos” da Genealogia:

Há aproximadamente dez anos, faço pesquisas em genealogia (geralmente, parte dos finais de semana). Nesta caminhada, lendo diversos textos e realizando pesquisas, aprendi muito. Creio ser interessante expor aqui alguns pontos básicos, ou, até mesmo “mandamentos” sobre a pesquisa genealógica:

1 – NÃO UTILIZE OU CONFIE EM ÁRVORES GENEALÓGICAS DISPONÍVEIS NA INTERNET.
Na internet, há uma infinidade de genealogias pessoais, em diversos sites especializados. Algumas são bem fundamentadas e detalhadas. Mas são poucas. O grande inconveniente destas genealogias é a repetição de erros, de forma contínua. Eu mesmo já publiquei uma genealogia com inconsistências (se sua árvore têm o Pascoal Leite Furtado com seus antepassados açorianos e Pedro Gonçalves da Câmara ligado aos Leme, você também é um).

2 – QUANDO ENCONTRAR UM ANTEPASSADO NOBRE, SEJA “INCRÉDULO” DE INÍCIO, E INVESTIGUE, MUITO.
Antes das Revoluções Liberais eclodirem pela Europa e impactar em todo o globo, as sociedades do “Ancient Regime” (Idade Média e Absolutismo) eram marcadas pela quase inexistente mobilidade social. A Nobreza era uma casta com privilégios, posses e prerrogativas; o alto clero, muitas vezes, era ocupado pela nobreza também; e os ricos comerciantes e proprietários emergentes na atividade comercial e profissionais liberais e urbanos (muitos dos quais judeus e cristãos-novos), apesar das posses, viviam paralelamente, em relação á nobreza. Em resumo: filhos de nobres, eram nobres; e, na grande maioria dos casos, nobres se casavam com nobres. E ponto.
Se você, nos seus trabalhos de pesquisa, correlacionar um bandeirante, imigrante ou colono (ou antepassados deste) a uma família nobre, tenha cuidado. Pesquise por documentos e nobiliários renomados; depois, pesquise por opiniões de genealogistas renomados (em fóruns, há postagens interessantes).
No passado, muitos genealogistas, escritores e até mesmo os próprios indivíduos que estão sendo estudados, forjavam documentos e genealogias para serem inclusos como nobres. Estes casos não são raros. Muitos proprietários e ricos comerciantes “se incluíram” na nobreza, para obterem privilégios, cargos e concessões; em alguns casos, a “inclusão” era bem feita; em outros, existem erros grosseiros de cronologia e informações.

3 – TENHA CUIDADO COM HOMÔNIMOS.
Em suas pesquisas, você pode encontrar um indivíduo ou casal em determinada localidade, em determinada época e com os mesmos nomes, e não ser, necessariamente, quem você procura. No Brasil e em Portugal, em períodos anteriores ao Século XIX, só existiam registros de batismo (em que consta apenas o primeiro nome do indivíduo) e casamento, o que, de certa forma, torna escasso o acesso às informações. Além disso, a elevada frequência de nomes Manoel, João, Antônio, Maria e Ana são observáveis, combinando-se a existência de sobrenomes iguais e parentesco entre indivíduos de uma mesma localidade.

4 – TENHA CUIDADO COM A CRONOLOGIA.
Sempre observe as datas de nascimento, casamento e óbito dos indivíduos pesquisados, assim como outros documentos e registros pertinentes á vida dos mesmos. Se sua fonte de informação (nobiliários, por exemplo) não informa datas e eventos de seus antepassados, em determinada linha, calcule a média de idade dos mesmos para a paternidade/maternidade; médias abaixo de 25 anos merecem ressalvas e cuidados.

Por exemplo:

Afonso nasceu no ano 1200; Gerou a
Francisco; este gerou a
Antônio; este gerou a
João, bisneto de Afonso, nascido em 1300;

Paternidade média = (nascimento mais recente – nascimento mais antigo)/ N – 1, onde
N = n° de indivíduos

Temos: PatMe = (1300-1200)/4-1 = 33,33 anos , o que, neste caso, é plausível.

5 – FIQUE ATENTO AOS SOBRENOMES DOS ANTEPASSADOS E DOS DESCENDENTES DE UM INDIVÍDUO.
Em determinada linha genealógica, se atente aos sobrenomes, em especial, patronímicos. Estes nomes servem de considerável indício de veracidade, pelo menos, em genealogias anteriores ao ano 1500, aproximadamente. Se houver algum nome patronímico que não se ajuste aos demais, tome cuidado, investigue esta linha genealógica.
Ex.: se o indivíduo, neste período, se chamava Antônio Rodrigues, é possível que o primeiro nome de seu pai era Ruy (antiga forma portuguesa de “Rodrigo”); se seu pai era Ruy Vasques, era provável que seu pai se chamasse Vasco; se este era Vasco Martins, por exemplo, talvez seu pai se chamava Martim. Se este era Martim Fernandes, provavelmente, seu pai seria chamado Fernão (antiga forma portuguesa de “Fernando”).
Quanto aos sobrenomes toponímicos, observe os pais e avós do indivíduo; em determinadas épocas, era comum o indivíduo herdar o sobrenome da linha materna, ao invés de seu pai; no entanto, em períodos mais remotos em Portugal, o apelido de senhorio (posse das terras) era transmitido por varonia, semelhante aos padrões modernos.
OBS: alguns historiadores e genealogistas já me disseram que a pessoa poderia herdar o sobrenome de padrinhos; todavia, nunca vi isto, em minhas pesquisas.
Breve adendo:
Sobrenomes Patronímicos: deveriam da filiação (Ex.: Fernandes – filho de Fernão/Fernando; Lopes – filho de Lopo; Martins – filho de Martim; Henriques – filho de Henrique, etc.).
Sobrenomes Toponímicos: são apelidos que derivam do lugar de procedência ou senhorio que a família possuía, e, com o tempo, foi incorporado a denominação individual (Ex.: Guido Viegas, Sr de Azevedo – passou a ser chamado de Guido Viegas de Azevedo).

6 – UTILIZE, COMO FONTES, DOCUMENTOS/REGISTROS OFICIAIS E NOBILIÁRIOS DE RENOME (mesmo assim, com cautela).
Este tópico se correlaciona com o primeiro ponto, ou seja, CUIDADO COM AS FONTES DE INFORMAÇÕES. Pesquise e procure por evidências concretas, antes de tomar qualquer informação como referência.
Procure, sempre, por registros pessoais e familiares (batismo, casamento, óbito, inventários, etc), “provanças” (documentos de habilitação de indivíduos a determinado cargo público ou eclesiástico), nomeações e documentos reais; Mesmo assim, procure por trabalhos, informações e comentários sobre determinada genealogia.
Os Nobiliários são fontes muito consultadas e renomadas. Como muitos documentos antigos se perdem (principalmente no caso de Portugal, em que houve o terremoto de Lisboa, no século XVIII), estes se tornam fontes únicas. No entanto, conforme destaca o renomado genealogista Manuel Abranches de Soveral, estes nobiliários possuem muitos erros, principalmente, em períodos anteriores ao ano 1500. Sobre os nobiliários, deixo aqui minha opinião: utilize-os, mas investigue as informações expostas pelo mesmo.

7 – PROCURE “MAPEAR” OS LOCAIS ONDE SEU ANTEPASSADO PASSOU.
Sempre procure conhecer detalhadamente os locais geográficos por onde seu antepassado passou (local de nascimento, cargos, atividade profissional e falecimento). Em períodos antigos, principalmente na Idade Média, as pessoas eram “geograficamente limitadas”, ou seja, não conheciam e visitavam muitas localidades além de sua origem. Portanto, se o indivíduo pesquisado exerce cargo longe de sua localidade de nascimento, ou se casa em local muito divergente, sem nenhum fato exposto, é estranho. Tome cuidado!

8 – SEMPRE CORRELACIONE SUA GENEALOGIA AO CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO.
Seus antepassados viveram em determinada época e em determinado local, ou seja, estes estavam inseridos em um contexto social, econômico e cultural específico de determinada região em determinado tempo. Por esta razão, seu cargo/ofício e família são correlacionados a este determinado local. Em suas investigações, procure compreender o contexto em que o mesmo vivia.

9 – SEMPRE PESQUISE O MÁXIMO DE INFORMAÇÕES SOBRE O ANTEPASSADO, SEUS IRMÃOS E PARENTES PRÓXIMOS.
Muitas vezes, nos focamos apenas nos nossos antepassados diretos; é um erro. Muitas vezes, descobrimos vínculos familiares e fatos através dos irmãos, primos ou parentes próximos de nossos antepassados. Portanto, fica a dica: PROCURE ESTUDAR OS IRMÃOS E PARENTES PRÓXIMOS DE SEUS ANTEPASSADOS. Os mesmos podem fornecer informações e detalhes pertinentes à família que você jamais poderia imaginar.

10 – VEJA SEMPRE A IDADE DOS CONJUGÊS: DE REGRA, AS MULHERES ERAM MAIS JOVENS QUE OS MARIDOS.
Em sua genealogia, compare a linha por varonia com as linhagens femininas; de regra, os antepassados do sexo masculino são mais velhos. Se você encontrar esposa mais velha que o marido, investigue a veracidade (hoje, é comum esposas mais velhas que os maridos, mas, antigamente, não era).

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