Uma das figuras mais marcantes da
Genealogia Paulistana, sem sombra de dúvida, é o português Balthazar de Moraes
D’Antas. Oriundo de Vimioso, região norte de Portugal, passou para o Brasil em
1556. Casou-se no Brasil com Brites Rodrigues Annes, e gerou descendência [entre
os muitos, o autor deste blog].
Em 1578, Balthazar foi eleito juiz
ordinário da Vila de São Paulo e a posse ocorreu em 30/01/1579. Nesta ocasião,
e, posteriormente, parece que pairavam sobre o juiz recém-escolhido uma série
de suspeitas sobre sua origem, alegando que o mesmo era cristão-novo.
Para provar sua origem, Balthazar
de Moraes D’Antas decide deixar o posto e seguir para Portugal, para comprovar
sua nobre origem. A partir deste momento, o nosso nobre juiz inicia uma
verdadeira peregrinação burocrática e singular: em 11/09/1579, em Mogadouro,
Portugal, apresenta petição para a comprovação de sua filiação e origem; três
dias depois, obtêm o documento; até 16/06/1580, obtém uma série de
reconhecimentos do documento em várias localidades (Monxagate, Mirandella, Vila
Pouca), reconhecimento de sinais no Porto (15/12/1579) e, por fim, justificação
dos instrumentos em Funchal, Ilha da Madeira. Em 23/11/1580, ele finalmente
obteve o aval de Cosme Rangel de Macedo, ouvidor de todo o litoral brasileiro,
provando a sua vinculação com a nobreza portuguesa. Como escrivães reconheciam
apenas a assinatura de outro colega, eram necessárias tais “peregrinações”. Esta
documentação só foi registrada em São Vicente em 1600, pelo filho Pedro de
Moraes, copiada e reconhecida das fontes originais. Tudo indica, que o nosso
“herói” Balthazar de Moraes D’Antas faleceu sem usufruir, de fato, dos seus
direitos.
No documento comprobatório, obtido
em Portugal, consta que Balthazar era filho de Pedro de Moraes e Ignez Navarra
Dantas, sendo esta filha de Nuno Navarro e Isabel Mendes Dantas, sendo esta
filha de Mendo Affonso Dantas, fidalgo e Senhor da vila de Vimioso. Foram
registradas várias testemunhas que comprovaram sua origem.
Pedro Taques, ao copiar o título dos Braganções de Montarroyo, expôs
a genealogia de Baltazar de Moraes D’Antas do seguinte modo (vou resumir aqui):
14 – Balthazar de Moraes e Antas,
Belchior de Moraes de Antas (justificou fidalguia em 1575 perante Luiz do
Valle, juiz da vila de Mogadouro) e irmã desconhecida, casada com Jorge Álvares
Meirelles, fidalgo da casa de D. Antônio. Filhos de:
13 – Ignez Navarro de Antas, c.c.
Pedro de Moraes, descendente dos Moraes, de Trás-os-Montes. Serviu nas comarcas
de Beira e Trás-os-montes. Filha de:
12 – Isabel Mendes de Antas, c.c.
Nuno Navarro. Filha de:
11 – Mendo Affonso de Antas, Senhor
de Vimioso, sem filhos varões. Por esta razão, Vimioso passou á Coroa, como
condado de D. Francisco. A partir daí, surgiu as questões judiciais entre os
descendentes dos D’Antas e a coroa. Não é conhecido o nome de sua esposa. Filho
de:
10 – Affonso Mendes de Antas,
sucedeu ao tio como Senhor de Vimioso. Casou com D. Aldonsa Gonçalves de
Moreira. Filho de:
09 – Mendo Esteves de Antas, c.c.
Ignez Rodrigues de Moraes, neta de Ruy Martins de Moraes. Seu irmão, Gonçalo
Esteves, era Senhor de Vimioso. Filhos de:
08 – Estevão Annes de Bragança.
Segundo Monte Arroyo, D. Pedro, em seu nobiliário, o menciona, e sua filiação é
comprovada em um documento da Câmara de Vimioso, que seu neto João Mendes de
Moraes apresentou para requerer uma herança. Era filho de:
07 – João Vasques de Antas, Senhor
de Vimioso. Vivia pelos anos de 1242. Era filho de (3º filho, segundo
Nobiliário de D. Pedro):
06 – Vasco Peres, o Beirão, c.c.
Urraca Esteves, filha de Estevão Annes, Senhor do Passo de Antas, no
concelho de Coura. Filho de:
05 – D. Pedro Fernandes, o
Braganção, c.c. D. Froile Sanches, filha de Sancho Nunes Barbosa e [Tereza ou
Sancha] [Afonso ou Henriques], filha ou irmã de D. Afonso Henriques. OBS:
inclusões minhas. Filho de:
04 – Fernando Mendes, rico homem,
Senhor de Bragança, servo de D. Afonso Henriques (vivenciou o episódio
das “natas na barba”), c.c. D. Theresa Soares, filha de D. Soeiro Mendes da
Maia, o Bom. Filho de:
03 – Mendo Fernandes, Senhor
de Bragança, c.c. Sancha Viegas de Bayão, filha de D. Egas Gozende, Senhor
de Bayão, e sua mulher, D. Gotinha Nunes. Filho de:
02 – D. Fernando Mendes de
Bragança, o velho, Senhor de Bragança. Não há certeza sobre seu
casamento. Filho de:
01 – Mendo Alão, Senhor de
Bragança. Viveu nos tempos de D. Afonso VI, Rei de Leão. Casou com uma
“princesa da Armênia”. Fundador da linhagem.
Felgueiras Gayo, no Nobiliário das Famílias de Portugal (ttº Antas §
69 N 7), expõe diferente configuração genealógica (figura acima):
08) Balthazar de Moraes De Antas,
casado com D. Maria Fonseca do Mogadouro. Teve o filho Gaspar de Moraes e
Antas, em Vimioso. Não há nenhuma menção sobre sua vinda ao Brasil ou qualquer
vínculo com a colônia. Filho de:
07) Pedro de Moraes Antas, c.c.
Ignez Navarro, sua prima, filha de Leonor Mendes de Moraes e B. Mendes
[Genealogia divergente de Monte Arroyo]. A Leonor Mendes é filha de Estevão
Mendes de Moraes de Antas, descrito abaixo, no nº 4. Filho de:
06) Vasco Rodrigues de Moraes e
Antas, c.c. Micaella de Albuquerque (ambos de Vimioso). Filho de:
05) Estevão Mendes de Moraes de
Antas, Senhor de Vimioso, com demandas de recuperação de terras junto á
D. Francisco, c.c. Maria de Madureira. Filho de:
04) Mendo Affonso de Moraes de
Antas, Senhor de Vimioso. Teve um quinto neto, chamado Belchior de
Moraes de Antas, que tirou brasão em 1586. Casou com Margarida de Vasconcelos.
Filho de:
03) Affonso Pires de Moraes de
Antas, Senhor de Vimioso, nos tempos de D. João I. Casou com D. Aldonsa
Gonçalves de Moraes, fª de Luís Pires de Távora, 2º Senhor de Morgadouro
e D. Alda de Moraes (ttº Távoras, § 1 N 11, na obra de Felgueiras Gayo). Filho
de:
02) Vasco Pires de Antas, Senhor
de Vimioso, c.c. Ignez Rodrigues de Moraes, filha de Ruy Mendes de Moraes e D.
Alda Gonçalves. Felgueiras Gayo, comenta que existe uma genealogia diferente
(semelhante á que foi apresentada por Monte Arroyo), mas não o segue por não
haver de onde surgir o apelido de Antas. Filho de:
01) Vasco de Antas, vassalo de D.
Afonso VI, de Leão, participou de muitas ações com D. Henrique. Fundador da
linhagem.
No entanto, quanto ás Genealogias apresentadas, é conveniente fazer
algumas observações:
De Balthazar de Moraes D’Antas até
o casal Afonso Mendes de Antas e Aldonsa Gonçalves de Moraes, é possível
conciliar as genealogias. Monte Arroyo (vou abreviar para MA), explorou a
genealogia materna de Balthazar, descrevendo a ascendência de Inês Navarro,
enquanto Felgueiras Gayo (vou abreviar para FG) desenvolveu o ramo paterno de
Balthazar, com a descrição de Pedro de Moraes.
Quanto á genealogia de Aldonsa
Gonçalves de Moraes, podemos seguir FG, no título de Távoras § 1 N 11, apesar
das observações e possíveis inconsistências que o Nobiliário apresenta em
algumas situações.
No entanto, quanto aos
antepassados de Afonso Mendes de Antas, há consideráveis divergências entre MA e
FG, inclusive, no próprio sobrenome. Enquanto MA o denomina conforme
apresentado acima, FG o chama de Afonso Pires de Moraes e Antas. Creio que a
genealogia de FG é demasiadamente curta, visto que, de Balthazar de Moraes de
Antas até Vasco de Antas, o fundador da linhagem, são apenas oito indivíduos em
um espaço de quinhentos anos! Portanto, sobre Afonso Mendes (ou Pires de Moraes)
Antas, creio que o mais prudente é seguir MA, visto que há maior número de
indivíduos, além de ser explicada a origem do apelido “Antas”. Outro problema
da genealogia apresentada por FG é a ausência do irmão Belchior (talvez, a
presença do mesmo seja a linha em branco), e, este casamento de Balthazar com
Mª da Fonseca, com o filho Gaspar é desconhecido por MA e outras fontes. O
genealogista Francisco Antônio Dória esclarece a questão no seu trabalho
genealógico dos Antas Moraes, expondo que Belchior foi de fato, casado com
Maria da Fonseca, e Gaspar de Moraes Dantas era irmão de ambos, não filho de
Balthazar. Em resumo: parece que há grandes equívocos no título de Antas
apresentado por Felgueiras Gayo.
Se considerarmos a genealogia
apresentada por Monte Arroyo como o modelo mais plausível, é prudente
analisarmos a cronologia. Mendo Alão, provavelmente, nasceu
por volta do ano 1010. Balthazar de Moraes e Antas, pode ter nascido em 1540 ou
1550 (vamos supor esta última data). A diferença entre as datas de nascimento é
de 540 anos. São 14 indivíduos. Portanto temos:
PatMe = (Nas Ant – Nas Rec) / N –
1
= (1550 – 1010) / 14 – 1 = 41,53
anos
Quarenta e um anos de idade é um
valor elevado para a paternidade média, principalmente se levarmos em conta que
estamos falando da Idade Média. Para fins de comparação, se fizermos a mesma
análise entre D. Afonso Henriques e D. João IV, o restaurador da Dinastia de
Bragança (é também uma linhagem por varonia), encontramos exatos 33 anos de
paternidade média. Portanto, provavelmente, há alguma inconsistência na
genealogia de Balthazar de Moraes e Antas. Talvez, a ligação entre os Antas e
os Braganções apresente algum erro, que impactou na cronologia.
Se fizermos a análise cronológica
de Balthazar até Sancha Henriques, a provável irmã de D. Afonso Henriques que
deixou descendência com Sancho Nunes Barbosa [ou Celanova], encontramos:
PatMe = (Nas Ant – Nas Rec) / N –
1
= (1550 – 1100) / 14 – 1 = 34,61
anos
O valor encontrado ainda é
demasiadamente alto, pois há mulheres nesta ligação genealógica. Para fins de
demonstração, segue a exposição da genealogia de D. Aldonsa de Moraes, segundo
Felgueiras Gayo:
Aldonsa Gonçalves de Moraes, c.c.
Afonso Mendes de Antas, filha de:
Luís Pires de Távora, c.c. Alda
Gonçalves de Moraes, filho de:
Lourenço Pires de Távora, c.c.
Guiomar Rodrigues da Fonseca, filha de:
Ruy Paes Garcéz, c.c. Mór Esteves
da Fonseca, filha de:
Estevão Rodrigues da Fonseca,
c.c. Tereza Rodrigues [de Souza], filha de:
Ruy Vasques de Panoyas, filho de:
Vasco Mendes de Souza, filho de:
Mendo de Souza, Conde, chamado “o
Souzão”, filho de:
Gonçalo Mendes de Souza, c.c.
Urraca Sanches, filha de:
Sancho Nunes Barbosa [ou
Celanova], c.c. SANCHA HENRIQUES (irmã de D. Afonso I)
Não creio que Balthazar de Moraes
D’Antas era cristão-novo, pois, caso fosse, correria riscos em sua exaustiva “peregrinação”,
visto os processos burocráticos existentes e as testemunhas. E seu processo de
reconhecimento parece bem fundamentado. Mas sua genealogia, pelo menos,
cronologicamente, apresenta inconsistências.
Este texto, tem, por objetivo
principal, chamar atenção de historiadores e genealogistas, para
desenvolvimento maior do assunto. Comentários são sempre bem-vindos!
FONTES:
Genealogia dos Antas Moraes. Francisco Antônio Dória. Disponível em:
Genealogia e Historia – Autor: Aníbal de Almeida Fernandes; Disponível
em:
PROJETO COMPARTILHAR:
O instrumento de Baltazar de Moraes (Regina Moraes Junqueira)
GAIO, Felgueiras, 1750-1831
Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em: http://purl.pt/12151
Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em: http://purl.pt/12151
Título dos Braganções,
José Freire Monte Arroio Mascarenhas, Lisboa, 1757, in Título dos Antas
Moraes, da Capitania de São Paulo. Nobiliarchia Paulistana: histórica e
genealógica. Pedro Taques de Almeida Paes Leme. Belo Horizonte, Brazil : Ed.
Itatiaia, 1980. São Paulo : Ed. da Universidade de São Paulo, 3 v. : retrs., tabelas geneal. 5ª ed. 981.61 D2
Série Reconquista do Brasil ; nova sér.; v. 5-7