domingo, 29 de novembro de 2015

Estudos quanto à genealogia de Balthazar de Moraes a Antas

Uma das figuras mais marcantes da Genealogia Paulistana, sem sombra de dúvida, é o português Balthazar de Moraes D’Antas. Oriundo de Vimioso, região norte de Portugal, passou para o Brasil em 1556. Casou-se no Brasil com Brites Rodrigues Annes, e gerou descendência [entre os muitos, o autor deste blog].
Em 1578, Balthazar foi eleito juiz ordinário da Vila de São Paulo e a posse ocorreu em 30/01/1579. Nesta ocasião, e, posteriormente, parece que pairavam sobre o juiz recém-escolhido uma série de suspeitas sobre sua origem, alegando que o mesmo era cristão-novo.
Para provar sua origem, Balthazar de Moraes D’Antas decide deixar o posto e seguir para Portugal, para comprovar sua nobre origem. A partir deste momento, o nosso nobre juiz inicia uma verdadeira peregrinação burocrática e singular: em 11/09/1579, em Mogadouro, Portugal, apresenta petição para a comprovação de sua filiação e origem; três dias depois, obtêm o documento; até 16/06/1580, obtém uma série de reconhecimentos do documento em várias localidades (Monxagate, Mirandella, Vila Pouca), reconhecimento de sinais no Porto (15/12/1579) e, por fim, justificação dos instrumentos em Funchal, Ilha da Madeira. Em 23/11/1580, ele finalmente obteve o aval de Cosme Rangel de Macedo, ouvidor de todo o litoral brasileiro, provando a sua vinculação com a nobreza portuguesa. Como escrivães reconheciam apenas a assinatura de outro colega, eram necessárias tais “peregrinações”. Esta documentação só foi registrada em São Vicente em 1600, pelo filho Pedro de Moraes, copiada e reconhecida das fontes originais. Tudo indica, que o nosso “herói” Balthazar de Moraes D’Antas faleceu sem usufruir, de fato, dos seus direitos.
No documento comprobatório, obtido em Portugal, consta que Balthazar era filho de Pedro de Moraes e Ignez Navarra Dantas, sendo esta filha de Nuno Navarro e Isabel Mendes Dantas, sendo esta filha de Mendo Affonso Dantas, fidalgo e Senhor da vila de Vimioso. Foram registradas várias testemunhas que comprovaram sua origem.

Pedro Taques, ao copiar o título dos Braganções de Montarroyo, expôs a genealogia de Baltazar de Moraes D’Antas do seguinte modo (vou resumir aqui):

14 – Balthazar de Moraes e Antas, Belchior de Moraes de Antas (justificou fidalguia em 1575 perante Luiz do Valle, juiz da vila de Mogadouro) e irmã desconhecida, casada com Jorge Álvares Meirelles, fidalgo da casa de D. Antônio. Filhos de:
13 – Ignez Navarro de Antas, c.c. Pedro de Moraes, descendente dos Moraes, de Trás-os-Montes. Serviu nas comarcas de Beira e Trás-os-montes. Filha de:
12 – Isabel Mendes de Antas, c.c. Nuno Navarro. Filha de:
11 – Mendo Affonso de Antas, Senhor de Vimioso, sem filhos varões. Por esta razão, Vimioso passou á Coroa, como condado de D. Francisco. A partir daí, surgiu as questões judiciais entre os descendentes dos D’Antas e a coroa. Não é conhecido o nome de sua esposa. Filho de:
10 – Affonso Mendes de Antas, sucedeu ao tio como Senhor de Vimioso. Casou com D. Aldonsa Gonçalves de Moreira. Filho de:
09 – Mendo Esteves de Antas, c.c. Ignez Rodrigues de Moraes, neta de Ruy Martins de Moraes. Seu irmão, Gonçalo Esteves, era Senhor de Vimioso. Filhos de:
08 – Estevão Annes de Bragança. Segundo Monte Arroyo, D. Pedro, em seu nobiliário, o menciona, e sua filiação é comprovada em um documento da Câmara de Vimioso, que seu neto João Mendes de Moraes apresentou para requerer uma herança. Era filho de:
07 – João Vasques de Antas, Senhor de Vimioso. Vivia pelos anos de 1242. Era filho de (3º filho, segundo Nobiliário de D. Pedro):
06 – Vasco Peres, o Beirão, c.c. Urraca Esteves, filha de Estevão Annes, Senhor do Passo de Antas, no concelho de Coura. Filho de:
05 – D. Pedro Fernandes, o Braganção, c.c. D. Froile Sanches, filha de Sancho Nunes Barbosa e [Tereza ou Sancha] [Afonso ou Henriques], filha ou irmã de D. Afonso Henriques. OBS: inclusões minhas. Filho de:
04 – Fernando Mendes, rico homem, Senhor de Bragança, servo de D. Afonso Henriques (vivenciou o episódio das “natas na barba”), c.c. D. Theresa Soares, filha de D. Soeiro Mendes da Maia, o Bom. Filho de:
03 – Mendo Fernandes, Senhor de Bragança, c.c. Sancha Viegas de Bayão, filha de D. Egas Gozende, Senhor de Bayão, e sua mulher, D. Gotinha Nunes. Filho de:
02 – D. Fernando Mendes de Bragança, o velho, Senhor de Bragança. Não há certeza sobre seu casamento. Filho de:
01 – Mendo Alão, Senhor de Bragança. Viveu nos tempos de D. Afonso VI, Rei de Leão. Casou com uma “princesa da Armênia”. Fundador da linhagem.


Felgueiras Gayo, no Nobiliário das Famílias de Portugal (ttº Antas § 69 N 7), expõe diferente configuração genealógica (figura acima):

08) Balthazar de Moraes De Antas, casado com D. Maria Fonseca do Mogadouro. Teve o filho Gaspar de Moraes e Antas, em Vimioso. Não há nenhuma menção sobre sua vinda ao Brasil ou qualquer vínculo com a colônia. Filho de:
07) Pedro de Moraes Antas, c.c. Ignez Navarro, sua prima, filha de Leonor Mendes de Moraes e B. Mendes [Genealogia divergente de Monte Arroyo]. A Leonor Mendes é filha de Estevão Mendes de Moraes de Antas, descrito abaixo, no nº 4. Filho de:
06) Vasco Rodrigues de Moraes e Antas, c.c. Micaella de Albuquerque (ambos de Vimioso). Filho de:
05) Estevão Mendes de Moraes de Antas, Senhor de Vimioso, com demandas de recuperação de terras junto á D. Francisco, c.c. Maria de Madureira. Filho de: 
04) Mendo Affonso de Moraes de Antas, Senhor de Vimioso. Teve um quinto neto, chamado Belchior de Moraes de Antas, que tirou brasão em 1586. Casou com Margarida de Vasconcelos. Filho de:
03) Affonso Pires de Moraes de Antas, Senhor de Vimioso, nos tempos de D. João I. Casou com D. Aldonsa Gonçalves de Moraes, fª de Luís Pires de Távora, 2º Senhor de Morgadouro e D. Alda de Moraes (ttº Távoras, § 1 N 11, na obra de Felgueiras Gayo). Filho de:
02) Vasco Pires de Antas, Senhor de Vimioso, c.c. Ignez Rodrigues de Moraes, filha de Ruy Mendes de Moraes e D. Alda Gonçalves. Felgueiras Gayo, comenta que existe uma genealogia diferente (semelhante á que foi apresentada por Monte Arroyo), mas não o segue por não haver de onde surgir o apelido de Antas. Filho de:
01) Vasco de Antas, vassalo de D. Afonso VI, de Leão, participou de muitas ações com D. Henrique. Fundador da linhagem.    

No entanto, quanto ás Genealogias apresentadas, é conveniente fazer algumas observações:
De Balthazar de Moraes D’Antas até o casal Afonso Mendes de Antas e Aldonsa Gonçalves de Moraes, é possível conciliar as genealogias. Monte Arroyo (vou abreviar para MA), explorou a genealogia materna de Balthazar, descrevendo a ascendência de Inês Navarro, enquanto Felgueiras Gayo (vou abreviar para FG) desenvolveu o ramo paterno de Balthazar, com a descrição de Pedro de Moraes.
Quanto á genealogia de Aldonsa Gonçalves de Moraes, podemos seguir FG, no título de Távoras § 1 N 11, apesar das observações e possíveis inconsistências que o Nobiliário apresenta em algumas situações.
No entanto, quanto aos antepassados de Afonso Mendes de Antas, há consideráveis divergências entre MA e FG, inclusive, no próprio sobrenome. Enquanto MA o denomina conforme apresentado acima, FG o chama de Afonso Pires de Moraes e Antas. Creio que a genealogia de FG é demasiadamente curta, visto que, de Balthazar de Moraes de Antas até Vasco de Antas, o fundador da linhagem, são apenas oito indivíduos em um espaço de quinhentos anos! Portanto, sobre Afonso Mendes (ou Pires de Moraes) Antas, creio que o mais prudente é seguir MA, visto que há maior número de indivíduos, além de ser explicada a origem do apelido “Antas”. Outro problema da genealogia apresentada por FG é a ausência do irmão Belchior (talvez, a presença do mesmo seja a linha em branco), e, este casamento de Balthazar com Mª da Fonseca, com o filho Gaspar é desconhecido por MA e outras fontes. O genealogista Francisco Antônio Dória esclarece a questão no seu trabalho genealógico dos Antas Moraes, expondo que Belchior foi de fato, casado com Maria da Fonseca, e Gaspar de Moraes Dantas era irmão de ambos, não filho de Balthazar. Em resumo: parece que há grandes equívocos no título de Antas apresentado por Felgueiras Gayo.

Se considerarmos a genealogia apresentada por Monte Arroyo como o modelo mais plausível, é prudente analisarmos a cronologia. Mendo Alão, provavelmente, nasceu por volta do ano 1010. Balthazar de Moraes e Antas, pode ter nascido em 1540 ou 1550 (vamos supor esta última data). A diferença entre as datas de nascimento é de 540 anos. São 14 indivíduos. Portanto temos:

PatMe = (Nas Ant – Nas Rec) / N – 1
= (1550 – 1010) / 14 – 1 = 41,53 anos

Quarenta e um anos de idade é um valor elevado para a paternidade média, principalmente se levarmos em conta que estamos falando da Idade Média. Para fins de comparação, se fizermos a mesma análise entre D. Afonso Henriques e D. João IV, o restaurador da Dinastia de Bragança (é também uma linhagem por varonia), encontramos exatos 33 anos de paternidade média. Portanto, provavelmente, há alguma inconsistência na genealogia de Balthazar de Moraes e Antas. Talvez, a ligação entre os Antas e os Braganções apresente algum erro, que impactou na cronologia.

Se fizermos a análise cronológica de Balthazar até Sancha Henriques, a provável irmã de D. Afonso Henriques que deixou descendência com Sancho Nunes Barbosa [ou Celanova], encontramos:

PatMe = (Nas Ant – Nas Rec) / N – 1
= (1550 – 1100) / 14 – 1 = 34,61 anos

O valor encontrado ainda é demasiadamente alto, pois há mulheres nesta ligação genealógica. Para fins de demonstração, segue a exposição da genealogia de D. Aldonsa de Moraes, segundo Felgueiras Gayo:

Aldonsa Gonçalves de Moraes, c.c. Afonso Mendes de Antas, filha de:
Luís Pires de Távora, c.c. Alda Gonçalves de Moraes, filho de:
Lourenço Pires de Távora, c.c. Guiomar Rodrigues da Fonseca, filha de:
Ruy Paes Garcéz, c.c. Mór Esteves da Fonseca, filha de:
Estevão Rodrigues da Fonseca, c.c. Tereza Rodrigues [de Souza], filha de:
Ruy Vasques de Panoyas, filho de:
Vasco Mendes de Souza, filho de:
Mendo de Souza, Conde, chamado “o Souzão”, filho de:
Gonçalo Mendes de Souza, c.c. Urraca Sanches, filha de:
Sancho Nunes Barbosa [ou Celanova], c.c. SANCHA HENRIQUES (irmã de D. Afonso I)

Não creio que Balthazar de Moraes D’Antas era cristão-novo, pois, caso fosse, correria riscos em sua exaustiva “peregrinação”, visto os processos burocráticos existentes e as testemunhas. E seu processo de reconhecimento parece bem fundamentado. Mas sua genealogia, pelo menos, cronologicamente, apresenta inconsistências.
Este texto, tem, por objetivo principal, chamar atenção de historiadores e genealogistas, para desenvolvimento maior do assunto. Comentários são sempre bem-vindos!

FONTES:
Genealogia dos Antas Moraes. Francisco Antônio Dória. Disponível em:

Genealogia e Historia – Autor: Aníbal de Almeida Fernandes; Disponível em:

PROJETO COMPARTILHAR: O instrumento de Baltazar de Moraes (Regina Moraes Junqueira)

GAIO, Felgueiras, 1750-1831
Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em:
http://purl.pt/12151



Título dos Braganções, José Freire Monte Arroio Mascarenhas, Lisboa, 1757, in Título dos Antas Moraes, da Capitania de São Paulo. Nobiliarchia Paulistana: histórica e genealógica. Pedro Taques de Almeida Paes Leme. Belo Horizonte, Brazil : Ed. Itatiaia, 1980. São Paulo : Ed. da Universidade de São Paulo, 3 v. : retrs., tabelas geneal. 5ª ed. 981.61 D2 Série Reconquista do Brasil ; nova sér.; v. 5-7

sábado, 21 de novembro de 2015

Os “dez mandamentos” da Genealogia:

Há aproximadamente dez anos, faço pesquisas em genealogia (geralmente, parte dos finais de semana). Nesta caminhada, lendo diversos textos e realizando pesquisas, aprendi muito. Creio ser interessante expor aqui alguns pontos básicos, ou, até mesmo “mandamentos” sobre a pesquisa genealógica:

1 – NÃO UTILIZE OU CONFIE EM ÁRVORES GENEALÓGICAS DISPONÍVEIS NA INTERNET.
Na internet, há uma infinidade de genealogias pessoais, em diversos sites especializados. Algumas são bem fundamentadas e detalhadas. Mas são poucas. O grande inconveniente destas genealogias é a repetição de erros, de forma contínua. Eu mesmo já publiquei uma genealogia com inconsistências (se sua árvore têm o Pascoal Leite Furtado com seus antepassados açorianos e Pedro Gonçalves da Câmara ligado aos Leme, você também é um).

2 – QUANDO ENCONTRAR UM ANTEPASSADO NOBRE, SEJA “INCRÉDULO” DE INÍCIO, E INVESTIGUE, MUITO.
Antes das Revoluções Liberais eclodirem pela Europa e impactar em todo o globo, as sociedades do “Ancient Regime” (Idade Média e Absolutismo) eram marcadas pela quase inexistente mobilidade social. A Nobreza era uma casta com privilégios, posses e prerrogativas; o alto clero, muitas vezes, era ocupado pela nobreza também; e os ricos comerciantes e proprietários emergentes na atividade comercial e profissionais liberais e urbanos (muitos dos quais judeus e cristãos-novos), apesar das posses, viviam paralelamente, em relação á nobreza. Em resumo: filhos de nobres, eram nobres; e, na grande maioria dos casos, nobres se casavam com nobres. E ponto.
Se você, nos seus trabalhos de pesquisa, correlacionar um bandeirante, imigrante ou colono (ou antepassados deste) a uma família nobre, tenha cuidado. Pesquise por documentos e nobiliários renomados; depois, pesquise por opiniões de genealogistas renomados (em fóruns, há postagens interessantes).
No passado, muitos genealogistas, escritores e até mesmo os próprios indivíduos que estão sendo estudados, forjavam documentos e genealogias para serem inclusos como nobres. Estes casos não são raros. Muitos proprietários e ricos comerciantes “se incluíram” na nobreza, para obterem privilégios, cargos e concessões; em alguns casos, a “inclusão” era bem feita; em outros, existem erros grosseiros de cronologia e informações.

3 – TENHA CUIDADO COM HOMÔNIMOS.
Em suas pesquisas, você pode encontrar um indivíduo ou casal em determinada localidade, em determinada época e com os mesmos nomes, e não ser, necessariamente, quem você procura. No Brasil e em Portugal, em períodos anteriores ao Século XIX, só existiam registros de batismo (em que consta apenas o primeiro nome do indivíduo) e casamento, o que, de certa forma, torna escasso o acesso às informações. Além disso, a elevada frequência de nomes Manoel, João, Antônio, Maria e Ana são observáveis, combinando-se a existência de sobrenomes iguais e parentesco entre indivíduos de uma mesma localidade.

4 – TENHA CUIDADO COM A CRONOLOGIA.
Sempre observe as datas de nascimento, casamento e óbito dos indivíduos pesquisados, assim como outros documentos e registros pertinentes á vida dos mesmos. Se sua fonte de informação (nobiliários, por exemplo) não informa datas e eventos de seus antepassados, em determinada linha, calcule a média de idade dos mesmos para a paternidade/maternidade; médias abaixo de 25 anos merecem ressalvas e cuidados.

Por exemplo:

Afonso nasceu no ano 1200; Gerou a
Francisco; este gerou a
Antônio; este gerou a
João, bisneto de Afonso, nascido em 1300;

Paternidade média = (nascimento mais recente – nascimento mais antigo)/ N – 1, onde
N = n° de indivíduos

Temos: PatMe = (1300-1200)/4-1 = 33,33 anos , o que, neste caso, é plausível.

5 – FIQUE ATENTO AOS SOBRENOMES DOS ANTEPASSADOS E DOS DESCENDENTES DE UM INDIVÍDUO.
Em determinada linha genealógica, se atente aos sobrenomes, em especial, patronímicos. Estes nomes servem de considerável indício de veracidade, pelo menos, em genealogias anteriores ao ano 1500, aproximadamente. Se houver algum nome patronímico que não se ajuste aos demais, tome cuidado, investigue esta linha genealógica.
Ex.: se o indivíduo, neste período, se chamava Antônio Rodrigues, é possível que o primeiro nome de seu pai era Ruy (antiga forma portuguesa de “Rodrigo”); se seu pai era Ruy Vasques, era provável que seu pai se chamasse Vasco; se este era Vasco Martins, por exemplo, talvez seu pai se chamava Martim. Se este era Martim Fernandes, provavelmente, seu pai seria chamado Fernão (antiga forma portuguesa de “Fernando”).
Quanto aos sobrenomes toponímicos, observe os pais e avós do indivíduo; em determinadas épocas, era comum o indivíduo herdar o sobrenome da linha materna, ao invés de seu pai; no entanto, em períodos mais remotos em Portugal, o apelido de senhorio (posse das terras) era transmitido por varonia, semelhante aos padrões modernos.
OBS: alguns historiadores e genealogistas já me disseram que a pessoa poderia herdar o sobrenome de padrinhos; todavia, nunca vi isto, em minhas pesquisas.
Breve adendo:
Sobrenomes Patronímicos: deveriam da filiação (Ex.: Fernandes – filho de Fernão/Fernando; Lopes – filho de Lopo; Martins – filho de Martim; Henriques – filho de Henrique, etc.).
Sobrenomes Toponímicos: são apelidos que derivam do lugar de procedência ou senhorio que a família possuía, e, com o tempo, foi incorporado a denominação individual (Ex.: Guido Viegas, Sr de Azevedo – passou a ser chamado de Guido Viegas de Azevedo).

6 – UTILIZE, COMO FONTES, DOCUMENTOS/REGISTROS OFICIAIS E NOBILIÁRIOS DE RENOME (mesmo assim, com cautela).
Este tópico se correlaciona com o primeiro ponto, ou seja, CUIDADO COM AS FONTES DE INFORMAÇÕES. Pesquise e procure por evidências concretas, antes de tomar qualquer informação como referência.
Procure, sempre, por registros pessoais e familiares (batismo, casamento, óbito, inventários, etc), “provanças” (documentos de habilitação de indivíduos a determinado cargo público ou eclesiástico), nomeações e documentos reais; Mesmo assim, procure por trabalhos, informações e comentários sobre determinada genealogia.
Os Nobiliários são fontes muito consultadas e renomadas. Como muitos documentos antigos se perdem (principalmente no caso de Portugal, em que houve o terremoto de Lisboa, no século XVIII), estes se tornam fontes únicas. No entanto, conforme destaca o renomado genealogista Manuel Abranches de Soveral, estes nobiliários possuem muitos erros, principalmente, em períodos anteriores ao ano 1500. Sobre os nobiliários, deixo aqui minha opinião: utilize-os, mas investigue as informações expostas pelo mesmo.

7 – PROCURE “MAPEAR” OS LOCAIS ONDE SEU ANTEPASSADO PASSOU.
Sempre procure conhecer detalhadamente os locais geográficos por onde seu antepassado passou (local de nascimento, cargos, atividade profissional e falecimento). Em períodos antigos, principalmente na Idade Média, as pessoas eram “geograficamente limitadas”, ou seja, não conheciam e visitavam muitas localidades além de sua origem. Portanto, se o indivíduo pesquisado exerce cargo longe de sua localidade de nascimento, ou se casa em local muito divergente, sem nenhum fato exposto, é estranho. Tome cuidado!

8 – SEMPRE CORRELACIONE SUA GENEALOGIA AO CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO.
Seus antepassados viveram em determinada época e em determinado local, ou seja, estes estavam inseridos em um contexto social, econômico e cultural específico de determinada região em determinado tempo. Por esta razão, seu cargo/ofício e família são correlacionados a este determinado local. Em suas investigações, procure compreender o contexto em que o mesmo vivia.

9 – SEMPRE PESQUISE O MÁXIMO DE INFORMAÇÕES SOBRE O ANTEPASSADO, SEUS IRMÃOS E PARENTES PRÓXIMOS.
Muitas vezes, nos focamos apenas nos nossos antepassados diretos; é um erro. Muitas vezes, descobrimos vínculos familiares e fatos através dos irmãos, primos ou parentes próximos de nossos antepassados. Portanto, fica a dica: PROCURE ESTUDAR OS IRMÃOS E PARENTES PRÓXIMOS DE SEUS ANTEPASSADOS. Os mesmos podem fornecer informações e detalhes pertinentes à família que você jamais poderia imaginar.

10 – VEJA SEMPRE A IDADE DOS CONJUGÊS: DE REGRA, AS MULHERES ERAM MAIS JOVENS QUE OS MARIDOS.
Em sua genealogia, compare a linha por varonia com as linhagens femininas; de regra, os antepassados do sexo masculino são mais velhos. Se você encontrar esposa mais velha que o marido, investigue a veracidade (hoje, é comum esposas mais velhas que os maridos, mas, antigamente, não era).

quinta-feira, 28 de maio de 2015

A “oculta e misteriosa” nobreza de João de Prado, de Olivença – Parte II

Após escrever o post sobre as prováveis origens de João do Prado, em fevereiro de 2015, tive o prazer e a satisfação de receber um e-mail do Dr. Fernando Prado Ferreira, com excelentes complementos de informações, extraídos, sobretudo, da Torre do Tombo. Seguem as novas informações:

 Em 1527, em Olivença, havia um “creado” do Bispo de Ceuta, Henrique de Coimbra, chamado JOÃO DO PRADO. Além desta informação, é de extrema importância ressaltar que o Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa no Brasil, em 1500!

-  Em 10/02/1563, em Olivença, foi formalizado um testamento, de um João do Prado, casado com Margarida Fróes; Era uma família abastadas, e, na transcrição do testamento, que recebi do Dr. Fernando Prado, consta a existência de 02 filhos: um chamado Antônio e outro sem denominação; este segundo filho, não tem prioridade na herança.

Seria o “nosso” João do Prado (que imigrou para o Brasil) filho de João do Prado e Margarida Fróes? Seria parente próximo? O que é de fato, constatado, é o registro do Jovem João do Prado, em Olivença, auxiliar do Bispo que, em 1500, realizou a primeira missa no Brasil, e, provavelmente, fez narrativas ao jovem João sobre aquela nova terra.

Na Torre do Tombo, realizei algumas buscas, encontrando alguns fatos em Olivença:

-   Em 1541, foi presa Catarina de Lourenço, esposa de Estevão do Prado. Eles tinham uma filha, chamada Leonor do Prado, casada com Francisco Franco. A prisão ocorreu em razão de “práticas” de judaísmo. Em 1567, a filha Leonor foi também sentenciada.

Surge, neste sentido, outra possibilidade: seria o nosso “João do Prado” cristão-novo? Deve-se ressaltar a maciça presença de judeus em São Vicente e São Paulo, onde muitos alegavam origens na nobreza e “pureza de sangue”; era apenas um artifício, para fugir dos tribunais do Santo Ofício. No entanto, se o jovem João do Prado, em Olivença, era cristão-novo, penso que seria “ousadia” se aproximar de Henrique de Coimbra, o bispo de Ceuta. Mesmo se o bispo fosse benevolente e praticasse os princípios cristãos, haveria muitos indivíduos próximos que o pressionariam a denunciar o jovem judeu.

Diante de todos os fatos, penso ser apropriado apresentar uma cronologia, relacionada aos Prados em Olivença:

1475 - 1497 – Registros do fidalgo Gil do Prado (filho de João do Prado e Izabel Pinheiro), casado com Brites de Olivença da Gama. Serviu aos Duques de Bragança. Era descendente de D. Afonso III, rei de Portugal.
FILHOS (Felgueiras Gayo):
Ana da Costa
???? [filha?], com filhas (Ana e Izabel)
Antônio do Prado, casado com Inês Gonçalves
Francisco de Prado

1500 (26 de Abril) – O frei Henrique de Coimbra celebra a primeira missa no Brasil.

1510 – Nascimento de João do Prado, em Olivença.

1527 – Carta da Câmara de Olivença ao Rei, expondo que Antônio do Prado não é capaz de exercer cargos na capitania.

1527 – Há um jovem, João do Prado, em Olivença, criado do Bispo de Ceuta (Henrique de Coimbra).

1531 – João do Prado, imigra para o Brasil, com Martim Afonso de Sousa.
Filhos de João do Prado e Filipa Vicente (filha de Pedro Vicente e Maria de Faria) no Brasil:
Cap. 1.º Izabel do Prado
Cap. 2.º Helena do Prado
Cap. 3.º Domingos do Prado
Cap. 4.º João do Prado
Cap. 5.º Catharina do Prado
Cap. 6.º Filippa Vicente do Prado
Cap. 7.º Maria do Prado
Cap. 8.º Martim do Prado
Cap. 9.º Pedro do Prado
Cap. 10.º Anna Maria do Prado
Cap. 11.º Clara do Prado

1532 (14 de Setembro) – em Olivença, morre o D. Henrique de Coimbra.

1541 – Sentença de prisão de Catarina Lourenço, de Olivença, por crime de Judaísmo. Seu marido era Estevão do Prado. Tinha uma filha, Leonor do Prado, casada com Francisco Franco.

1563 – testamento em Olivença: João do Prado, c.c. Margarida Fróes. Família abastada.

1567 – prisão de Leonor do Prado, de Olivença, por crime de Judaísmo.

1570 – morte de João do Prado, que fez testamento em 1563. Este tinha 02 filhos:
01)   Antônio do Prado, provavelmente clérigo (solicitação dos pais no testamento).
02)   ??????? do Prado.

1588 a 1592 (BRA) – João do Prado exerce função de juiz ordinário, até a data de seu falecimento.

1597 (BRA) – falecimento de João do Prado.


São estes os novos fatos, de fato, interessantes. As dúvidas, permanecem, mas com indícios de um possível elo entre o nosso “avô” João do Prado e a família Prado de Olivença.
Quero aqui registrar meu agradecimento ao Dr. Fernando Prado Ferreira, que apresentou informações importantíssimas na investigação das origens de João do Prado.

Meus cumprimentos,

Saulo