[uma poesia genealógica]
Raízes do sangue e do nome
Raízes de família e História
Raízes de poder e dor
Raízes de riqueza e servidão
Raízes da nossa construção
Dos simples avós roceiros
Até velhos coronéis
Passando pelo tropeiro e escravo
Cujo sangue ilustrou o ouro
E suor a lavoura irrigou
E o Caminho Novo cavou
Dos brutos bandeirantes
Do qual andou reinóis e ilhéus
Para formar as Minas Gerais
De São Paulo surgiu
Pela força e astúcia
Os mestiços bandeirantes
De luso sangue e brasílica língua
Brutos e rudes
Forjados pela luta
Com gotas de fidalguia
E um mar de gentios
Regados a impureza de Abraão
Com temor do Santo Ofício
Todos filhos de Portugal
Do Tejo e do Douro
De Trás-os-Montes e Alentejo
Saíram os Heróis do Mar
De todas virtudes e crimes
De todas qualidades e vícios
De todas as naturezas
De todas classes e ofícios
Da nação valente e imortal
Rumo ao desconhecido
Dos sem fidalguia
Das origens não se sabe
E seus velhos avós
Na História não mais existem
E os filhos da gente simples
Gonçalves, Lopes, Pires, Rodrigues
Jogaram uma pitada
De Viana, Braga, Porto e Lisboa
Para mostrar a sua origem
E seus nomes melhorar
E em fiapos de raízes
Surgem alguns Filhos de Algo
Conhecidos por Fidalgos
Cuja memória se conserva
Pelos suspeitos brasões
E incertos Nobiliários
Dos senhores de solares
Aos Fidalgos do Paço
Servidores D’El Rei
Da Nobre e Leal Lisboa
Guardada pelos Cavaleiros
E todo o Reino com as bençãos
De seus Homens de Deus
Muitos destes fidalgos
Com suas servas e mancebas
Semearam suas sementes
E na terra lusa
De tantos feitos e dívidas
Surgiu a cegueira fanática
Que condenou as Sinagogas
No infame decreto Venturoso
Os filhos de Abraão
Que pelas águas se espalharam
Doutros se fizeram
Novos nomes e nova crença
Mas as raízes continuam
E nas sombras há Judá
Até o vil vizinho entregar
O parente delatar
E a fogueira revelar
E no passado ficou
As brumas da memória
Dos tempos de João boa memória
E da glória de Aljubarrota
Donde antigos nobres caíram
E novos nobres vieram
Se recria a velha nação
Por Afonso Henriques fundada
Por Viriato concebida
Por Roma batizada
Forjada na mão bárbara
Conquistada pelo mouro
Retomada por Leão
No espólio de Sousões
E dos brutos Braganções
De Ribadouros, Maias e Baiões
Surge a nação-mãe
De Brasil, Portugal e Algarve!
Saulo Franco
25 de junho de 2023