Neste
esboço, faço a reconstituição da descendência de Violante Loba, cristã-nova
natural e residente em Beja-PT, no século XVI. Todas as informações aqui
constantes foram extraídas das sessões de genealogia dos processos de Maria das
Neves (presa a 23/08/1628), Isabel Ramos (21/10/1625), Francisca Dias
(30/04/1626), Estêvão Banha (16/09/1624) e certidão de casamento de Manoel
Preto de Moraes com Inês Ribeira (28/11/1642).
SIGLAS: F: filho, N: neto, B: bisneto,
TR: trineto.
DESCRIÇÃO DA DESCENDÊNCIA
Violante Loba, cristã-nova, foi filha
de Manuel Rodrigues e Maria Lopes, moradores de Beja. Violante casou duas vezes: a primeira com Manuel
Rodrigues, cristão-novo, e a segunda vez com Gaspar Banha, cristão-velho,
sapateiro, filho de Pedro Banha, também sapateiro, morador em Beja e Isabel
Jorge.
Do
primeiro matrimônio, com Manuel
Rodrigues (cristão-novo), houve a filha:
F1 – Maria Lopes, falecida antes de
29/08/1624, cc Manuel Luís Preto, cristão-velho, sapateiro, filho de Luís Dias,
“dizimeiro” e Francisca Dias. Manuel Luís tinha por irmãos Thomé Dias,
sacerdote, falecido em São Tomé, Gaspar Dias, Maria Dias e Isabel Luís. Filhos
de Maria Lopes e Manuel Luís:
F1N1 – Brás Manuel, nascido
aprox. em 1599. Com 25 anos, onde se ausentou não se sabe para onde em 1624. No
processo da irmã Francisca Dias, é mencionada como boticário e residente em
Sevilha, Espanha, casado com a castelhana e cristã-velha Isabel. Falecido antes
de 18/06/1628. Filhos:
F1N1B1 – Antônio, com 7 anos em 1626.
F1N1B2 – uma filha de 9 anos.
F1N1B3 – uma filha de 4 anos.
F1N2 – Maria Luís, casada com
João Fernandes, sapateiro de obra-grossa, com os filhos:
F1N2B1 – Manuel, de 7 anos em
1626.
F1N2B2 – Inês, de 9 anos.
F1N2B3 – Maria de 4 anos.
F1N3 – Isabel Luís, viúva de
Domingos Fernandes, cristão-velho, sapateiro de obra-grossa. Presa a 21/10/1625
e auto-de-fé a 30/11/1626. Do casamento, houve os filhos:
F1N3B1 – Francisca, casada com um
lavrador, cristão-velho. Não foi citada no depoimento da prima Isabel Ramos.
F1N2B2 – Maria, solteira, com 12
anos em 1626.
F1N2B3 – Joana, de 7 anos.
F1N2B4 – Manuel Luís, morador de
Beja casado com uma cristã-velha, de nome desconhecido pela depoente Isabel
Ramos. Teve sete filhos.
F1N2B5 – Brás, “moço de pouca
idade”, segundo Isabel Ramos.
F1N4 – Francisca Dias, nascida aprox. em 1566 em Beja. Batizada na Igreja
de Salvador de Beja, tendo por padrinhos Fernão Paes e Maria Lopes. Seu
padrinho de crisma foi Gaspar Rodrigues. Já viúva antes de 29/08/1624 de Manuel Rodrigues Barroso, filho de
Fernão Rodrigues e Isabel Ramos (o processo de Estêvão Banha equivocadamente o
chama de Fernão), cristão-velho e lavrador. Francisca foi presa a 30/04/1626 e
auto-de-fé a 22/09/1626. Sofreu tormento (tortura). Filhos do casal:
F1N4B1 – Fernão Rodrigues.
Lavrador, casado com Maria Dias, cristã-velha, com os filhos em 1626:
F1N4B1TR1 – Luísa, com 10 anos.
13 anos em 1629.
F1N4B1TR2 – Francisca, de 7 anos.
Provavelmente falecida antes de 1629.
F1N4B1TR3 – Isabel, de 2 anos. 7
anos informados pela prima Maria das Neves, em 1629.
F1N4B2 – André Rodrigues.
Sapateiro de obra-grossa, casado com Maria [Terneira] cristã-velha, com os
filhos:
F1N4B2TR1 – Manuel, com 3 anos em
1626. 6 anos citados em 1629, pela prima Maria das Neves.
F1N4B2TR2 – Maria, de 5 anos em
1626, 7 anos em 1629.
F1N4B2TR3 – Violante, com 2 meses
em 1626, 2 anos em 1629.
F1N4B3 – Isabel Ramos. Casada primeira vez com Manuel Dias, cristão-velho e
lavrador, filho de João Fernandes e Leonor Dias, falecido antes de 1621. Isabel
casou segunda vez com Francisco Fernandes, cristão-velho, barbeiro. Já viúva em
1626.
Do
1º casamento com Manuel Dias,
houveram os filhos:
F1N4B3TR1 – Maria, com 15 anos em
1626. É a Maria das Neves, presa a
23/08/1628 e auto-de-fé a 01/04/1629, solteira.
F1N4B3TR2 – Manuel, com 13 anos
em 1626. Citado com 16 anos de idade pela irmã em 1629, como “Manoel Preto,
sapateiro, que se ausentou de Beja não se sabe para onde nem se é vivo”. Este é Manuel Preto de Moraes, que imigrou
para São Paulo-BR e casou a 28/11/1642 com Inês Ribeira, onde é declarada sua
naturalidade e filiação. De seu matrimônio houve numerosa descendência no
Brasil.
Do
2º casamento com Francisco Fernandes,
houve a filha:
F1N4B3TR3 – Maria, com 5 anos em
1626.
F1N4B4 – Maria José, casada com Manuel
de Souza, sapateiro de obra-prima, ⅛ cristão-novo (procº de Francisca Dias) ou
¼ cristão-novo (procº de Isabel Ramos), com o filho:
F1N4B4TR1 – Fernando, com 5 anos
em 1626.
F1N4B5 – Manuel Rodrigues,
falecido antes de 1628, solteiro. Citado no processo da irmã Isabel Ramos.
Do
segundo matrimônio, com Gaspar Banha
(cristão-velho), houveram os filhos:
F2 – Estêvão Banha, nascido aprox.
em 1559, batizado na igreja de Salvador de Beja pelo
mestre Manuel Feio.
Teve por padrinho de crisma Brás das Neves, cristão-velho. Preso em 19/06/1624
por judaísmo, com 65 anos de idade declarados a 29/08/1624 (depoimento
constante na sessão de genealogia do seu processo). Auto-de-fé a 29/11/1626.
Era rendeiro, casado com Catarina de Souza (ou Serra), cristã-velha, sem
filhos. Estêvão sabia latim e estudou um ano de filosofia e três anos de “casos
de consciência” na universidade “desta cidade” [Évora ou Beja?]; nunca saiu do reino e nele esteve em Lisboa, Montemor e Mertola.
F3 – Isabel Jorge (ou Lobo), já
falecida a 29/08/1624. Foi casada com Brás Dias, oleiro, cristão-velho. Filhos:
F3N1 – Diogo Dias, oleiro, cc
Maria Corrêa, cristã-velha. Filhos:
F3N1B1 - Brás, com 12 anos em
29/08/1624.
F3N1B2 - Manuel, com 5 anos.
F3N1B3 - Gaspar, com 3 anos.
F3N1B4 - Maria, com 10 anos.
F3N2 – Estêvão Banha, oleiro, cc Inês
(ou Maria) Vaz, cristã-velha, falecida entre 1624 a 1626; tiveram o filho:
F3N2B1 - Brás, com 8 anos em
29/08/1624.
F3N3 – Maria Cochilha, com 25
anos em 29/08/1624, solteira, residente em Beja. Em 1626, no processo de
Francisca Dias é mencionada casada, mas o nome do marido era desconhecido.
Outros
filhos de Violante Loba, cujo nome do pai não é confirmado com exatidão:
F4 – Gabriel Lobo. Falecido antes
de 1626. Foi sapateiro, solteiro.
F5 – Antônio Rodrigues. Casado com
Maria Rodrigues, cristã-nova. Falecido antes de 1626. Sem filhos.
OBSERVAÇÕES:
1) Nos processos de Isabel Ramos e Francisca Dias, consta
que Gaspar Banha seria o avô materno de Francisca Dias. No entanto, no processo
de Estêvão Banha, tio de Francisca Dias, consta a informação de que Maria Lopes
(mãe de Francisca Dias) seria filha de um primeiro casamento de Violante Loba,
com o cristão-novo Manoel Rodrigues, e o depoente Estêvão Banha, seria filho do
segundo casamento de Violante Loba, com Gaspar Banha. Entendo que é prudente
seguirmos o depoimento de Estêvão, por este ser mais velho que Francisca Dias e
Isabel Ramos e estar “mais próximo” dos fatos pertinentes à própria mãe
(Violante Loba). É interessante a seguinte reflexão: será que Francisca Dias
pensou que Gaspar Banha realmente seria seu avô materno ou o citou como tal em
razão deste ser cristão-velho, e, com isso, “reduzir” sua fração cristã-nova?
2) Sapateiro de “obra-grossa” seria o ofício responsável pela fabricação das solas dos calçados; sapateiro de “obra-fina” seria o responsável pelos acabamentos do calçado, na parte superior.
Referências
Bibliográficas:
PROCESSOS DO TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO (Torre do
Tombo):
Maria das Neves:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363489
Isabel Ramos:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366803
Francisca Dias:
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366837
Estêvão Banha:
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2363334
CERTIDÃO de CASAMENTO (São Paulo, 28/11/1642): Manoel Preto de Moraes e Inês
Ribeira. O registro informa a naturalidade e filiação dos noivos.
Os gestos que nós perdemos. Dissertação de Mestrado de João Manuel Lagarto de Brito. Universidade do Porto, 2006. 114 p.