A
família Leme, dentre as tratadas por Taques e Silva Leme, é,
certamente uma das famílias mais célebres e conhecidas no Brasil.
Sua descendência é extremamente vasta, principalmente na região
centro-sul do país. E sua ascendência também é muito estudada,
seja em Brugges - Flandres (atual Bélgica) seja em Portugal e Ilha
da Madeira.
Em
Portugal, antigos genealogistas, como Soeiro, Montarroyo e Gayo,
estudaram a família. Sempre citavam a “nobreza desta família” e
os muitos estudos existentes sobre a sua origem na atual Bélgica.
Taques, nosso célebre pesquisador paulista, foi o primeiro
“brasileiro” a estuda-la, na grande obra “Nobiliarchia
Paulistana”, desenvolvida no século XVIII, com posteriores
contribuições do cônego Roque de Macedo Leme e, mais tardiamente,
Silva Leme, na clássica “Genealogia Paulistana”. Embora tais
pesquisadores desenvolveram com grandiosidade a genealogia dos Lemes,
principalmente quanto aos ramos paulistas, faltava-se exatidão nas
origens da família na sua gênese em Portugal, Ilha da Madeira e
Flandres.
Nestas
genealogias, as dificuldades são peculiares. Há considerável
repetição de homônimos, como “Martim Leme” e Antônio/Antão
Leme. Os registros e datas escassos, e as viagens e transferências
destes Lemes entre Flandres, Portugal e Ilha da Madeira só
aumentavam as dúvidas e equívocos, gerando consideráveis
incertezas. Na internet mesmo, há uma considerável “variedade”
de genealogias dos Lemes. Eu mesmo, em postagem neste blog, realizada
no dia 30/01/2016, sob o título “Os Lemes e a ligação aos Barros
e Câmaras na Ilha da Madeira”, realizo longa reflexão sobre
apenas uma das dúvidas acerca da família.
Felizmente,
pesquisadores recentes/modernos, como Margarida Ortigão Ramos Paes
Leme, Marta Amato, Douglas Fazolatto, Manoel Valente Borbas, Manuel
Abranches de Soveral, Phillipe Garnier e os flamengos André Claeys e
Ruud Lem desenvolveram trabalhos recentes, embasados em documentação
concreta e sólida, que não só corrigem diversos erros das antigas
genealogias como permitem entendermos a origem dos Lemes em Portugal
(todos citados na Bibliografia), apesar de ainda existirem alguns
“conflitos” nestas construções modernas.
Nesta
postagem, o meu intuito é estudar os trabalhos dos pesquisadores
citados, fazer uma revisão bibliográfica e construir um esboço
familiar, compilando os estudos recentes, mas sem desprezar
informações trazidas por antigos genealogistas. Não pretendo
desenvolver a descendência paulista, visto que os mesmos já estão
detalhadamente descritos nas obras de Taques, Silva Leme e na revisão
de Marta Amato. O foco deste estudo será a gênese dos Lemes em
Flandres, Portugal e Ilha da Madeira a partir da revisão literária
dos citados estudos. A formatação deste estudo será no modelo que
Gayo e outros antigos genealogistas utilizavam, em parágrafos e
números. Além desta metodologia adota, esclareço a adoção de
“numerar” homônimos, a minha maneira, no intuito de evitar
equívocos e confusões.
Nos
trabalhos de pesquisa, além das elucidações, surgem dúvidas.
Enquanto escrevia este texto e as primeiras gerações dos Lemes,
surgiu um questionamento: Mesmo com a reconhecida nobreza da família,
poderia haver algum “vínculo” com cristãos-novos?
Segue
o estudo:
LEMES:
§
1
N1
– LEM GILLES é o primeiro “Leem/Leme” conhecido, mencionado em
documento referente ao filho:
N.2: Lem
Baldwin, que segue.
N2
– LEM BALDWIN, documentado em 1338, natural de Saint Winoksbergen,
atual fronteira franco-belga. Este, foi pai de:
N.3:
Guilhen (William) Lem, que segue.
N3
– GUILHEN LEM, natural de Saint Winoksbergen, nascido
aproximadamente em 1365. Em 1383, com o ataque das tropas do Rei da
França Carlos VI a S. Winoksbergen, teria deixado a localidade,
imigrando para Brugges. Por volta de 1384, se casou com CLAIRE VAN
BEERNEM, filha de JAN, Senhor de Beernem, fundadora da Capela de S°
Juliano na Catedral de S. Donau em Brugges. Seus filhos foram:
N.4:
Maerten Lem 1º, que segue.
N.4: [?]
Karl Lem. Certamente, é o “Carlos Lems”, almirante na França,
conforme descrito por Silva Leme. Genealogistas modernos não o
confirmam.
N4
– MAERTEN LEM, nascido por volta de 1385 ou 1395, provavelmente em
Brugges, foi moço da câmara de Maximiliano. Mencionado como
benfeitor de muitas obras de caridade. Pesquisadores antigos e
modernos, como Amato et al e Margarida Ortigão Paes Leme e
até mesmo Silva Leme, em sua Genealogista Paulistana, não mencionam
a esposa deste Maerten Lem 1°. Houve o filho:
N.5:
Maerten Lem 1º (Martim Leme 1°), o PATRIARCA, que segue.
Brasão
de Martim Leme 1º, in Margarida Paes Leme (2008)
N5
– MAERTEN LEM 1° (ou MARTIM LEME 1°)
nasceu em Brugges, por volta de 1420. Assim como o pai, era dedicado
a negócios. Durante o Reinado de Afonso V, em Portugal, mudou-se
para Lisboa, provavelmente, pelos idos de 1440-45, com cartas de
recomendação ao Rei de Portugal, irmão de Isabela, esposa de
Felipe o Bom, Conde de Flandres. Certamente, nestes primeiros anos em
Portugal, obteve Brasão de Armas, conforme exposto nos livros do
armeiro-mór. Em 07 de junho de 1456, obteve o monopólio da compra e
exportação de cortiça por dez anos. Em 1457, aparece como
procurador de mercadores flamengos, holandeses e zelandeses em
Lisboa, visto que falava português. Em 25/02/1463, se documenta como
Escudeiro da Casa de D. Afonso V e morador da cidade de Lisboa,
obtendo carta régia de licença de porte de armas para seis dos seus
homens, como garantia de escolta de mercadores abastados. Martim
Leme, ao que parece, junto com seus filhos, realizou também
empreendimentos quanto ao açúcar na Ilha da Madeira, além de
empréstimos ao Reino. Em 1463, junto com parceiros, ajudou a Coroa
Portuguesa a financiar a primeira expedição de Tânger
(fracassada), em mais de 3 milhões de Réis. Por volta de 1466,
regressou a Brugges, com os filhos portugueses Antônio e Martim 2°.
Em 1470, serviu de fiador do negociante João Esteves, referido como
“mercador da nação de Portugal, morador na cidade de Brugges”.
Em 1471, financiou, armou e enviou uma Urca na expedição de Afonso
V contra Tânger e Arzila, capitaneada por seu filho Antônio. Não é
conhecida a data e local de seu falecimento. Talvez, tenha se casado
primeiro com uma “senhora BARROSO”, citada por Soeiro, e
pesquisadores flamengos modernos, como Claeys e Ruud Lem. Na versão
destes, o filho Martim Leme 2º (abaixo) seria fruto
deste primeiro casamento. Entretanto, o mesmo, segundo Margarida Paes
Leme, consta dentre os filhos legitimados na segunda união de Martim
Leme 1º, e, por esta razão, prefiro seguir esta
reconstituição, colocando Leonor Rodrigues como mãe do Martim Leme
2º. Certo e confirmado é que, entre aproximados
1450 até 1466, teria vivido em Lisboa, com LEONOR RODRIGUES, mulher
solteira, falecida entre 1512 a 1521, tendo os seguintes filhos,
legitimados em cartas na data de 06/09/1464:
N.6: Luís
Leme.
N.6:
Martim Leme 2°, que segue.
N.6: João
Leme, nascido em 20/11/1459, em Lisboa. Faleceu em Funchal, na Ilha
da Madeira. Foi enterrado no Convento da Igreja de S. Francisco.
N.6:
Rodrigo (Ruy) Leme, nascido em 20/11/1460. Em 1494, aparece como
Testemunha do TRATADO DE TORDESILHAS. Em carta de 19/09/1497, recebe
o Foro de Cavaleiro, de D. Manuel. Foi rendeiro da Alfândega de
Funchal. Faleceu antes de 1521.
N.6:
Catarina Leme, casada, primeira vez, com Fernão Gomes da Mina. Viúva
se casou segunda vez com João Rodrigues Paes, com descendência, em
Portugal.
N.6:
Isabela Leme. É citada na carta, mas não há informações sobre
sua existência.
N.6:
Maria Leme, casada em Lisboa com Martim Diniz, com descendência, em
Portugal. Não é citada na carta, mas cogita-se a possibilidade de
esta Maria Leme ser a mesma pessoa que Isabel Leme. Ou seria esta
Maria Leme filha da “senhora Barroso”, suposto primeiro casamento
de Martim Leme 2º? [Minha hipótese]
N.6:
Antônio Leme. Sua Descrição e Descendência segue no § 2.
Quadro
de Martim Leme 2º,
em Bruges. Observa-se
o Brasão, no canto, diferente de seu pai.
Reproduzido
por Margarida Paes Leme (2008)
N.6:
Martim Leme 2°, nascido em 12/11/1450, em Lisboa. Ao ir a Flandres,
com o irmão, se casou em Setembro de 1467, em Louvain, com ADRIENNE
VAN NIEUWENHOVE, nascida em 01/03/1448, filha de Nicolas van
Nieuwenhove e Agnes de Metteneye, falecida em 1492. Silva Leme e
outros genealogistas o fazem presente na Campanha de Arzila em 1471,
com o irmão Antônio, mas não há comprovação de sua presença,
ao contrário de seu irmão, cuja presença é documentada.
Substituiu o pai em muitos dos negócios, em especial, em casas
comerciais em Brugges, Lisboa e Ilha da Madeira. Algumas genealogias
o fazem casado na Ilha da Madeira com Maria Adão, filha de Adão
Ferreira, neta de Gonçalo Ayres Ferreira; no entanto, não há
nenhuma comprovação formal/documental deste matrimônio. Se houve
algum matrimônio de um Martim Leme com uma Maria Adão na dita ilha,
este pode, talvez, se referir ao seu seu sobrinho homônimo, filho
de Antônio Leme. Foi burgomestre de Brugges, tutor do Hôpital de La
Potterie [onde há o seu quadro] e dirigiu importante casa comercial.
Foi também conselheiro, mordomo e camareiro do arquiduque
Maximiliano da Áustria. Nos períodos de 1472-73, 1477-78 e 1480-81
foi burgomestre. Em 1477, instituiu, com a mulher a capela de
Nôtre Dame de La Miséricorde na Igreja de Saint Donatien. Seu
último mandato foi marcado por crises de escassez de grãos e
aumento da pobreza, o que o tornou impopular, e, por isso, exilou-se
de Brugges. Segundo Garnier, neste período, possivelmente, esteve na
Ilha da Madeira, em dezembro de 1481, jogando cartas por dinheiro.
Logo após este episódio, em 18/02/1482, já em Bruges, ofereceu um
banquete em honra de Maximiliano da Áustria, acompanhado de sua
esposa Maria de Borgonha e Margarida de York, terceira esposa de
Carlos, o Temerário. No dia seguinte, chegou um grande carregamento
de grãos no porto de Bruges. Este Martim Leme, passou por problemas
para honrar compromissos com fornecimento de trigo na Ilha da
Madeira, e foi pressionado pelas autoridades locais, mas, o mesmo não
estava mais presente na ilha e praticamente não tinha bens na dita
ilha, e priorizou o fornecimento em Bruges, local onde
concentravam-se suas posses e gozava de prestígio político junto a
nobreza flamenga. Mesmo assim, em 1483, é demitido de suas funções
em Bruges, muito em razão das desordens e rebeliões populares,
devido a questões de abastecimento. Em Faleceu em 27/03/1485, em
Louvain, sendo sepultado na Igreja de São Donato, em Brugges.
NOTA:
Algumas genealogias, em especial, modernas (Margarida Paes Leme,
Marta Amato, Soveral entre outros) de autores flamengos, colocam esta
Adrienne van Nieuwenhove se casando com o Martim Leme 1º,
logo após seu retorno a Bruges, pai deste Martim Leme 2º,
muito em razão de registros de 1481 mostrarem um Martim Leme jogando
cartas na Ilha Madeira, além de Henrique Henriques de Noronha
informar a existência um Martim Leme casado com Maria Adão Ferreira
na dita ilha. No entanto, vou seguir aqui a opinião dos
pesquisadores estrangeiros André Claeys e Garnier. Este último, em
publicação na revista da ASBRAP, apresentou argumentos sólidos e
críveis para entendermos este Martim Leme 2º de
Bruges, como o mesmo indivíduo que esteve na Ilha da Madeira em
1481. Inclusive, nas versões supra citadas, que dão Martim Leme 1º
c.c. Adrienne van Nieuwenhove e seu filho Martim Leme 2º
na Ilha da Madeira, é extremamente curioso o falecimento de pai e
filho por volta de 1485, “coincidentemente”. Além disso, este
Martim Leme com cargos em Bruges e casado com Adrienne, em seu quadro
na dita cidade, demonstra ter um brasão diferente do Martim Leme 1º,
ou seja, se há divergência heráldica, certamente são indivíduos
diferentes. Estes são sólidos argumentos em favor da tese de
Garnier, na minha opinião. O referido pesquisador, em artigo da
ASBRAP, expôs uma linha do tempo que mostra como os eventos
envolvendo um Martim Leme na Ilha da Madeira e um Martim Leme em
Bruges são correlacionados e certamente se referem ao mesmo
indivíduo, no caso, Martim Leme 2º.
Martim
Leme 2° e Adrienne tiveram os seguintes filhos:
N.7:
Charles Lem. Nascido em 12/01/1468 [Foi concebido antes do casamento
dos pais?], ocupou cargos na Administração de Brugges, em altos
cargos. Se casou em 1503 com Cornélia Veyse, filha de Jan Veyse e
Isabela de La Douve. Tiveram uma filha, Adrienne Lem, que se casou
duas vezes, mas, sem geração.
N.7:
Eleonore Lem. Nascida em 1469, casou-se com Charles De Clercq,
Cavaleiro. Tiveram uma filha, Adewyck De Clercq, casada com o
Cavaleiro Luís Van Heileweghe, Senhor de Sart.
N.7:
Adriaan Lem. Nascido em 02/05/1470, falecido em 17/11/1502. Ocupou
cargos e ordens em Brugges. Se casou com Margaret Ritsaert, mas não
é documentada geração deste casamento.
N.7:
Adrienne Lem. Gêmea do antecessor. Sem informações.
N.7: Jean
Lem. Nascido em 09/05/1472, também ocupou posições elevadas na
administração de Brugges. Casou-se com Josine Van Wulfsberghe, mas,
sem filhos.
N.7:
Marie Lem. Nascida em 03/06/1473, falecida em 08/04/1521. Casou-se
com Willem Hugonet, de Ypres. Com geração e descendência.
N.7:
Martine Lem. Nascida em 1474, falecida em 1511. Casou-se com Rolando
Van Moerkerke. Com geração e descendência.
N.7:
Agnes Lem. Casou-se com Jan Pascal. Ao que parece, houve três filhos
do casal, dos quais dois seguiram vocação eclesiástica.
N.7:
Catherine Lem. Casou-se em 05/05/1497, com Peter Van Der Meersch. Com
descendência.
N.7:
Martim Lem 3°, que segue.
N.7
Martim Lem 3º, filho de Maerten Lem 2º, N 6 do § 1, nascido em
08/09/1476, falecido em 15/10/1539, foi conselheiro de Bruges em 1505
e 1532 e obteve as mais altas posições administrativas em Bruges.
Se casou duas vezes. A primeira, com Catharina D'Hamere, falecida
antes de 1529, filha de Jan D'Hamere, cavaleiro. Posteriormente, em
1538, casou-se com Joana van Ydeghem, falecida em 04/10/1595, em
Saint Andries. Do primeiro matrimônio, houveram os filhos:
N.8:
Cornelia Lem;
N.8:
Ludovicus Lem;
N.8:
Catharina Lem;
N.8:
Claudine Lem;
N.8:
Louisa Lem;
N.8:
Joannes Lem;
N.8:
Maerten Lem IV, que segue.
Quadro
de Maerten
Lem 4º,
em Bruges. Reproduzido por André
Claeys
(2012)
N.8
Maerten Lem 4º, filho de Maerten Lem 3º, N 7 do § 1, nascido por
volta de 1516, falecido em 13/07/1597, Bruges, foi o mais proeminente
Leme, em Bruges. Foi membro da Congregação do Sangue Sagrado (Holy
Blood) em 1553, Prefeito de Bruges e Schepenen em diversas
administrações entre 1560 e 1585. Foi casado, primeira vez, com
Catharina van Hecke. Segunda vez, em 1579, com Barbara De Boodt,
falecida 23/06/1615.
Do
primeiro matrimônio, surgiu vasta descendência, presente em
Flandres. O pesquisador André Claeys, em seu trabalho, desenvolveu a
continuidade da linhagem em Bruges.
LEMES
DA ILHA DA MADEIRA
Brasão
de Antônio Leme, in Margarida Paes Leme (2008)
§
2
N.6
ANTÔNIO LEME, filho de Martim Leme 1º, no § 1 N 5, nasceu por
volta de 1450, em Lisboa. Em 1466, aproximadamente, foi para Brugges,
com o pai, possivelmente acompanhado do irmão Martim Leme 2º. Em
razão desta viagem, recebeu a alcunha de “o flamengo”, apesar de
ser português. Em 1471, foi capitão da urca enviada por seu pai a
Tânger e Arzila, no Marrocos. Em 12/11/1471, recebeu Carta de Brasão
de Armas de D. Afonso V, por seus serviços na guerra,
diferenciando-se de seu pai na Heráldica. Posteriormente, imigrou
para o Funchal, na Ilha da Madeira, com o objetivo de continuar os
negócios açucareiros da família. Foi vereador diversas vezes,
entre 1485 e 1491. Conforme documentos, teria falecido após 1514. Na
Ilha da Madeira, se casou com CATARINA DE BARROS, filha de PEDRO
GONÇALVES “DA CLARA” e IZABEL DE BARROS. Tiveram os seguintes
filhos:
N.7:
Martim Leme. Sem maiores informações. Talvez, este seja o Martim
Leme da Ilha da Madeira, casado com Maria Adão Ferreira. Ou, pode
ser este o Martim Leme que fora surpreendido no Funchal jogando
cartas, ao invés de ser seu tio homônimo, Martim Leme 2º. Não há
informações seguras sobre a vida deste Martim Leme, filho de
Antônio Leme.
N.7:
Pedro Leme, falecido em 1556.
N.7:
Aleixo Leme, c.c. Mécia de Melo. Falecido em 1544.
N.7: Rui
Leme, c.c. Leonor Vieira, e, posteriormente, com Maria Franco.
Falecido em 1566.
N.7:
Antônia Leme, c.c. Pedro Afonso de Aguiar. Com descendência.
N.7:
Leonor Leme, c.c. André de Aguiar. Este era irmão de Pedro Afonso
de Aguiar, supra. Ambos os casais foram citados na sentença
de abonação e fidalguia de Pedro Leme, sobrinho-neto destes, no
documento de 02/10/1564. A descendência do casal encontra-se na obra
de Gayo, no título de Aguiares, § 1 N 6.
N.7:
Antão Leme, com descendência no § 3º.
§
3
N.7
ANTÃO LEME, filho de Antônio Leme, no § 4 N 6. Embora não seja
citado no Nobiliário da Ilha da Madeira, de Henrique Henriques de
Noronha, sua filiação é indiretamente citada, no instrumento de
fidalguia de seu filho, Pedro Leme, quando este menciona Antônia e
Leonor Leme como irmãs de seu pai. Teria nascido por volta de
1490-95, na Ilha da Madeira, e, possivelmente, ainda jovem, teria ido
ao continente. Por esta razão, memórias posteriores, que serviram
bibliograficamente a Henrique Henriques de Noronha, podem tê-lo
omitido. Na Ilha da Madeira, ou, no continente, teve o filho Pedro
Leme, com mulher desconhecida. Ao que parece, viveu em Óbidos,
arredores de Lisboa, e, por volta de 1542-43, mudou-se para o Brasil,
com o filho, Pedro Leme, a nora, Luzia Fernandes e a neta, Leonor
Leme. Em 1544, foi Juiz Ordinário em São Vicente, e foi sócio do
Engenho de São Jorge de Erasmos. Seu filho:
N.8:
Pedro Leme, abaixo.
LEMES
“BRASILEIROS”
N.8
PEDRO LEME, filho de Antão Leme, supra, nasceu na Ilha da
Madeira ou em Óbidos, Lisboa, provavelmente, entre 1515-20. Silva
Leme e outras genealogias, mencionam um primeiro casamento com ISABEL
PAES, mas, certamente, o mesmo não ocorreu, visto que não há
menção em seu testamento deste primeiro casamento e suposto filho,
que seria Fernão Dias Paes. Se o mesmo realmente tivesse um filho
varão, jamais esqueceria de citá-lo em seu testamento. Marta Amato,
em sua revisão da Genealogia Paulistana, faz tal observação. Em
Óbidos, se casou com LUZIA FERNANDES, natural de São Mamede,
Óbidos, filha de FERNANDO EANES. Em 1542, Luzia Fernandes vendeu as
propriedades herdadas do pai, consistindo de vinhedos, terras e casa,
em Óbidos, e veio com o marido e a filha para São Vicente. Em
02/10/1564, obteve instrumento de nobreza. Também foi sócio do
Engenho S. Jorge de Eramos, junto com seu genro, Brás Esteves. Por
volta de 1591, teria se mudado para São Paulo, visto a decadência
do setor açucareiro e incursões de piratas ingleses no litoral
paulista, em especial, do corsário Thomas Cavendish. Luzia faleceu
antes de 1592, e, depois, Pedro Leme se casou, pela terceira vez, com
GRACIA RODRIGUES, filha de GASPAR RODRIGUES DE MOURA. Pedro Leme, em
27/03/1600, teve seu inventário aberto/iniciado. Não sabemos,
precisamente, a data de seu falecimento, mas, sabe-se, através da
transcrição de seu testamento no Projeto Compartilhar, que o mesmo
estava cego, entre 1592-96, com idade relativamente avançada (mais
de 70 anos), para os padrões da época. Quanto aos bens, deixados em
herança, além das “roupas usadas e pouca tralha de casa”,
deixou 50 cruzados referentes a venda de um escravo, de nome Diogo, e
3 $ 520 em moedas de ouro. Seus filhos:
Do 1º
matrimônio, com Luzia Fernandes:
N.9:
Leonor Leme, cuja descendência segue.
Do 2º
matrimônio, com Gracia Rodrigues:
N.9:
Antônia
N.
9 LEONOR LEME, “a velha”, filha de Pedro Leme, acima. Nasceu em
Óbidos, em aproximados 1540, imigrando para o Brasil com os pais e o
avô Antão Leme, aos 2 anos de idade. Em São Vicente ou São Paulo,
casou-se com BRÁS ESTEVES, provavelmente paulista, filho de um Paulo
Rodrigues, segundo pesquisas recentes expostas no sítio do Projeto
Compartilhar. É equívoca a informação de antigas genealogias,
onde Brás Esteves seria português e o casamento de ambos teria
ocorrido na Ilha da Madeira. Seu inventário/testamento é datado de
31/01/1633, estando Leonor Leme ainda viva, com aproximados e
impressionantes 93 anos de idade. Todo o seu patrimônio foi avaliado
em 115 $ 580. Leonor Leme é a matriarca dos Lemes paulistas, onde
seus filhos constituem os capítulos da Genealogia Paulistana. Seus
filhos foram:
N.10:
Pedro Leme, na G. Paulistana, TTº Lemes, Capº
1º
N.10:
Matheus Leme, na G. Paulistana, TTº Lemes, Capº
2º
N.10:
Aleixo Leme, na G. Paulistana, TTº Lemes, Capº
3º
N.10:
Brás Esteves Leme, na G. Paulistana, TTº Lemes,
Capº 4º.
N.10:
Lucrécia Leme, na G. Paulistana, TTº Lemes,
Capº 5º.
NOS
CAPÍTULOS ACIMA CITADOS, CONSTA A DESCENDÊNCIA DOS LEMES, NA
GENEALOGIA PAULISTANA, DE SILVA LEME. NAS REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS, O LEITOR PODERÁ ACESSAR O LINK PERTINENTE A CITADA
OBRA.
UMA
REFLEXÃO: TERIAM OS LEMES ASCENDÊNCIA JUDAIZANTE/CRISTÃ-NOVA?
Gonçalves
Salvador, em seu livro “Os Cristãos-Novos” (vide referências),
na página 34 da referida obra, cogita uma possível “ascendência
judaizante” dos Lemes, em especial, via Leonor Rodrigues. Vejamos,
por exemplo, a citação abaixo:
“Muitos,
pois, dos fidalgos que viveram outrora em nosso país não eram de
pura linhagem cristã-velha e alguns, até, haviam-se nobilitado
recentemente, a exemplo dos Leme, dos Cubas e, sobretudo, dos Correia
de Sá, relacionados com as Capitanias do Sul. Martim Leme, tronco da
família, vivera em Bruges, entregue ao comércio com o parceiro Pero
Dinis. Suas transações efetuavam-se com negociantes hebreus,
especialmente. Por volta de 1456 fixou morada em Lisboa, e teve de
Leonor Rodrigues, mulher solteira e talvez judia, sete filhos,
legitimados por cartas régias em 1464, onde, então, é qualificado
como escudeiro do rei.” (p. 34)
Os
autores modernos, jamais cogitaram a ascendência cristã-nova por
parte dos Lemes, muito provavelmente, em razão da comprovação de
nobreza/fidalguia de Pedro Leme e o próprio status quo desses
Lemes em Portugal e Flandres. No entanto, creio ser interessante e
oportuna uma reflexão, embasada em alguns pontos.
- Martim Leme “1º”, veio de Flandres, e, em Lisboa, antes de 1463, obteve uma carta de brasão de armas, e aparece, em Portugal, como representante de comerciantes flamengos, holandeses e zelandeses, muito em razão de poder comunicar-se em ambos os idiomas. Além disso, conforme citações no trabalho de Margarida Ortigão Paes Leme, o mesmo parece ter certo trânsito em negócios com mercadores judeus, e também aparece em empréstimos ao Reino de Portugal. Em Lisboa, ele tem filhos com uma Leonor Rodrigues, mulher solteira. É interessante notarmos que o mesmo não se casou em Portugal, e talvez tenha retornado a Bruges acompanhado de seus filhos Antônio e Martim, deixando a dita Leonor em Portugal, ainda em vida, com os filhos. Quem seria esta Leonor Rodrigues?
- Antônio Leme, filho do casal Martim Leme 1º e Leonor Rodrigues, em 12/11/1471, junto com centenas de outros homens, recebeu C.B.A., diferenciando-se, na heráldica, de seu pai. O documento, obviamente, foi uma forma da Coroa Portuguesa “agradecer” a seus homens os serviços em Tânger e Arzila. Em resumo: A C.B.A. de Antônio Leme não foi um “privilégio” exclusivista de elevada nobreza, mas sim uma “gratificação” em honra de sua participação na campanha militar.
Portanto,
verifica-se que não há nenhuma “fidalguia genuína e antiga”
nos Lemes, em especial, quanto ao Antônio Leme e seus irmãos
portugueses. No próprio instrumento de nobreza de Pedro Leme, no
Brasil, são citados os casamentos de suas tias Antônia e Leonor
Leme, com os irmãos Aguiar, o que não deixa de ser curioso. Estes
Lemes, eram comerciantes e homens de negócios de origem estrangeira,
ricos, ousados, e que muito contribuíram para o Reino. Suas
ascendências maternas, quando lusitanas, são
obscuras/desconhecidas. Os filhos de Martim Leme 2º e Antônio Leme
possuem grande mobilidade dentro do Reino, seja no continente, seja
na Madeira, seja no Brasil. Nos negócios, aparecem como credores do
Reino em empréstimos, monopolistas no comércio de cortiça e
presentes no ramo açucareiro na Ilha da Madeira e São Vicente.
Nestes locais, se relacionam, em matrimônios, com senhores e
proprietários locais, integrando-se nas mais “seletas” famílias.
Este modus operandi, marcado por grande dinamismo, com membros
de uma família em localidades diferentes, em campos de atuação
distintos, mas, com o açúcar entre eles e a prestação de serviços
“de usura” ao Reino é, de fato, semelhante à atuação de
judeus e cristãos-novos neste período.
Diante
das razões aqui expostas, creio ser pertinente as suspeitas
elencadas por Gonçalves Salvador, sobre uma possível origem
judaizante dos Lemes. No entanto, são apenas SUSPEITAS. Para todos
os efeitos, os Lemes são devidamente Nobilitados em Portugal, e,
integrados em altos círculos sociais e da nobreza, seja nas terras
lusas, seja em Flandres.
FONTES:
OBRAS
MODERNAS:
Salvador,
José Gonçalves. Os Cristãos-novos: povoamento e conquista do solo
brasileiro, 1530-1680. São Paulo, Pioneira, Ed. Da Universidade de
São Paulo, 1976. (Biblioteca pioneira de estudos brasileiros).
CDD-981.021-301.45296081
Martin
Lem(e), a carta do Duque, o Contrato de Trigo, Bruges e Madeira.
Philippe Garnier. Revista da ASBRAP nº 12. Pág. 55 a 82. ISSN
1809-2446.
Os
Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca. Margarida Ortigão
Ramos Paes Leme. Seminário de História Política do Mestrado em
História, área de História e Arqueologia Medievais, no ano letivo
de 2005-2006. SAPIENS -
Revista de História,
Património e Arqueologia, n.º 0, 2008. Página 27. Disponível em:
http://www.revistasapiens.org/Biblioteca/numero0/ oslemes.pdf
Antão
Leme e Pedro Leme rumo ao Brasil. Margarida Ortigão Ramos Paes Leme.
Revista da ASBRAP nº 22. Pág. 09 a 20. Disponível em:
http://www.asbrap.org.br/areavip/arquivos/b-%20Ant%C3%A3o%20Leme%20e%20Pedro%20Leme%20rumo%20ao%20Brasil.pdf
Genealogia
Paulistana - Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919)
– REEDIÇÃO COORDENADA POR M. AMATO, 2012
Vol
10 – páginas 154 e 155 – Correções e acréscimos ao TTº
Lemes, vol. 2º, pág. 179 (de Silva Leme), feitas por
Douglas Fazolatto, Manoel Valente Borbas e Marta Amato.
BASE
GENEALÓGICA ROGLO. Páginas Consultadas: António Leme, Martim Leme
(irmão), Leonor Rodrigues, Martim
Leme (pai), Martim Leme (avô).
Autores: Manuel Abranches de Soveral e D. Bataille [em consulta a
obras complementares]. Base Roglo: http://roglo.eu/roglo
Quadro
genealógico dos “LEM B01 BRUGGE”, de Ruud Lem. Elaboração:
Novembro de 2012.
Geschiedenis
van de Brugse Lem/Lems (1337-1900). André L. Fr. Claeys. De
Luso-Vlaamse afstammelingen Leme van
ridder Lem Maerten I
(1385-1471). Wereldwijd verspreid sinds 1470. Brugge, 2012.
Disponível em:
http://www.bparah.azores.gov.pt/genealogias/genealogias+a.clayes/pdfs/andre_claeys-
geschiedenis_van_de_brugse_Lem_(1337-1900)-%5Bnieuw2012%5D.pdf
OBS:
utilizei o Google Tradutor, para a transcrição dos textos em
flamengo para o inglês.
A
Conquista de Arzila pelos portugueses – 1471. Paulo Alexandre
Mesquita Dias. Dissertação de Mestrado em História. Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas (FACSH). Universidade Nova de Lisboa –
Outubro 2015.
PROJETO
COMPARTILHAR. Disponível em: http://www.projetocompartilhar.org/
Consulta
realizada em 23/08/2017. TRABALHOS CONSULTADOS:
Pedro
Leme: Inventário e Testamento
Inventário
e Testamento de Leonor Leme, a Velha
Justificação
de Pedro Dias Paes Leme
OBRAS
ANTIGAS:
Nobiliário
da Ilha da Madeira, de Henrique Henriques de Noronha in
SITE do Capitão Domingos da Silva e Oliveira. Disponível em:
http://capitaodomingos.com/o-o-leme-na-nobiliarquia-nobiliario-genealogia-da-ilha-da-madeira-nao-tem-antao-leme/
Nobiliarquia
Paulistana Histórica e Genealógica. Pedro Taques de Almeida Paes
Leme. Tomo III. Título LEMES. Editora: USP. Ano: 1980. OBS: A obra
original, é do Século XVIII.
GAIO, Felgueiras, 1750-1831
Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em: http://purl.pt/12151
Nobiliário de famílias de Portugal / Felgueiras Gaio. - [Braga] : Agostinho de Azevedo Meirelles : Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941 (Braga : : Pax). - 17 v. : il. ; 30 cm; Digitalizado e disponível em: http://purl.pt/12151
Genealogia
Paulistana - Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919).
Vol II - Pág. 179 a 229 - Tit.
Lemes (Parte 1) – Versão
antiga/original – Digitada e disponível
em:
http://www.arvore.net.br/Paulistana/Lemes_1.htm