Uma das famílias mais antigas de
São Paulo e do Brasil são os “Prados”, descendentes de João do Prado, português
que imigrou para o Brasil, na companhia do donatário Martim Afonso de Sousa. Muitas
famílias da região Sudeste são descendentes deste João do Prado, o que o faz
uma figura singular na genealogia brasileira.
Sobre este povoador pioneiro,
sabe-se que era de Olivença, província do Alentejo (hoje, a localidade pertence
a Espanha, mas na época, era de domínios portugueses), veio para o Brasil e
faleceu no arraial do capitão João Pereira de Sousa Botafogo, em 1597. Foi
casado com Felipa Vicente e teve onze filhos.
Na Genealogia Paulistana de Silva
Leme (títulos dos Prados), e outras fontes sobre este pioneiro, consta que o
mesmo era de “nobreza muito conhecida”, ou de “família cuja nobreza é muito
conhecida” (Instituto Histórico e Geográphico Brasileiro – volume 33; volumes
40 – 41; títulos Prados).
Mas, QUAIS SÃO
ESSAS ORIGENS? QUAL É A SUA LIGAÇÃO COM A NOBREZA PORTUGUESA? Não
encontramos os nomes dos pais ou avôs/avós de João do Prado. O que sabemos, é
apenas sua procedência (Olivença) e período que viveu (entre 1550 – 1600,
aproximadamente). Eis o nosso ponto de partida nesta investigação.
Maria Cecília de Sousa cita,
entre os documentos sobre Olivença nos arquivos de Lisboa, que, em 23/06/1527,
houve uma carta da Câmara de Olivença ao Rei (na época, D. João III), expondo
que Antônio do Prado não era capaz de exercer qualquer cargo naquela capitânia.
Seria este Antônio do Prado parente ou
antepassado (pai ou avô) de nosso João do Prado? É possível.
Ao consultar o título dos
“Prados”, na grande obra de Felgueiras Gayo, encontramos um Antônio do Prado (§
4 N 8), casado com Ignez Gonçalves, cujos pais deste eram Gil de Prado, fidalgo
de D. Afonso V e dos Duques de Bragança, com cartas que o menciona em 1475 e
1497. Sua esposa era Brites de OLIVENÇA da Gama, cuja família era presente e
tradicional em Olivença (Gamas). Provavelmente, a proximidade de Vila Viçosa
(reduto dos duques de Bragança) e Olivença favoreceu a união entre Gil de Prado
e Brites de Olivença da Gama. O grande
questionamento que fazemos: seria este Antônio de Prado, descrito por
Felgueiras Gayo, o mesmo Antônio do Prado que foi “rejeitado” pela Câmara de
Olivença (carta encontrada por Maria Cecília de Sousa)? A cronologia
estabelecida entre as cartas que mencionam o suposto pai (Gil do Prado – 1475 e
1497) e àquela que menciona Antônio do Prado em Olivença (1527) favorece essa
hipótese.
O Antônio de Prado, citado por
Felgueiras Gayo, tem sua genealogia descrita (ver figura acima), sendo descendente de
D. Afonso III, Rei de Portugal e Beatriz de Castela.
Não podemos afirmar, se estes
“Antônios de Prado” eram os mesmos, e não sabemos se o nosso João do Prado é
parente ou descendentes destes, mas os indícios apontam essas possibilidades.
Se os Antônios fossem o mesmo indivíduo e João do Prado fosse seu filho ou
neto, não seria difícil estabelecer o porquê de sua vinda ao Brasil: Como
Antônio de Prado foi “execrado” pelos habitantes de Olivença, seu suposto
filho/neto ou parente (João do Prado), em busca de prestígio e reconhecimento,
rumou para o Brasil, em companhia do nobre donatário Martim Afonso de Sousa. É
uma conjectura tentadora, e com algum sentido; no entanto, jamais teremos
certeza e convicção sobre as exatas origens de nosso João do Prado.
Sobre a origem dos Prados, em
Portugal, convém expor as considerações de Carlos Barata e Antônio Cunha, no
clássico “Dicionário das Famílias Brasileiras”, de Carlos Barata e Antônio
Cunha [grifos meus]:
“Sobrenome de origem luso-espanhola de prováveis
raízes toponímicas, parece ter sido fundada a família que o usou por
sobrenome por Dom Frei João Nunes do Prado, Mestre de Calatrava, que foi pai de
João Nunes do Prado, de quem descendem os deste sobrenome. Aquele primeiro João
Nunes era neto materno de Dom Afonso III Rei de Portugal.
Sobrenome de origem toponímica, tomado da propriedade da
família. De prado, subst. comum - campo coberto de plantas herbáceas que servem
para pastagem, campo revolto; hipódromo (Antenor Nascentes, II, 251; Silveira
Bueno, Dic. Escolar, 1057). Procede esta família de D. Nuno Fruela, filho de
D. Fruela II, fal. em 925, rei de Leão, e de D. Branca Gutierres da Silva,
senhora da vila do Prado (Anuário Genealógico Latino, I, 78). Portugal:
Felgueiras Gayo trata da antigüidade desta família em seu Nobiliário das
Famílias de Portugal, onde informa existirem opiniões diferentes sobre a sua
origem. «Huns
querem q elles descendão de D. Branca f.ª 3.ª do Rey D. Aff.º 3 de Portugal; a
qual foi Sr.ª de Lorvão, Campo Mayor e Monte-Mor o Velho e em Castella Abadeca de Huelgas a qual
teve um filho de hum Fidalgo chamado Pedro Esteves Carpinteiro o
qual teve por filho D. João Nunes do Prado q foi M.e de
Calatrava de q ficou geração fundando-se em Rodes de Andrade e D.
Fr. Prodencio de Sandoval q dizem q houve desta familia a Sinalados Cavalheiros
no Reyno de Leão, Galiza e Astúrias a m.tas casas sollares e ricas: D. João
Nunes de Prado Mestre de Calatrava q foi assinalado cavaleiro no tempo do Rey D. Aff.º 11 e do Rey D.
Pedro seu f.º q teve a fronteira de Grabada contra os Mouros q foi filho do d.º Pedro Esteves Carpinteiro e D.
Branca f.ª do Rey D. Aff.º de Portugal e irmão do Rey D. Deniz..». Em
seguida, Gayo trata das outras versões sobre a origem desta família, no
entanto, sua genealogia apresenta aquela primeira versão. Principia em Estevão
Carpinteiro, que diz ser descendente de D. Ramiro Nunes do Prado, que vinha a
ser bisneto de D. Nuno, conde de Alvites e outras terras nas montanhas de Leão
e, este último, filho de D. Bernardo, 1.º Rei de Leão. O dito Estevão
Carpinteiro foi pai do já citado Pedro Esteves Carpinteiro, portanto, avô de D.
João Nunes de Prado, Mestre de Calatrava, onde alguns autores principiam esta
família. Entre os descendentes deste último, registram-se: I - o neto,
João Afonso de Prado, que tomou o apelido de Prado de seu avô. Embaixador de
Portugal junto à França; II - o terceiro neto, Gil de Prado, Fidalgo da Casa
Real do Rei D. Afonso V, por Carta de 1475, conformada ou confirmada? pelo Rei
D. Manuel, em 1497; III - o décimo primeiro neto, Manuel Barbosa (da Costa
Prado), Capitão de Infantaria na Bahia; IV - o décimo primeiro neto, João de
Andrade Pereira [05.09.1650 -], Capitão de Ordenanças, que deixou geração do
seu cas. com Luiza de Oliveira, filha de Francisco Velho, natural de Caminha, e
de sua mulher, .. (?) de Oliveira, natural da Bahia. Brasil: No Rio de Janeiro,
entre as mais antigas, registra-se a família de João do Prado, que deixou
descendência, a partir de 1677, com Joana Machado (Rheingantz, III, 71). Importante
família, de origem portuguesa, estabelecida em São Paulo, para onde passou João
do Prado [c.1553, Olivença, Portugal - 1597], de nobreza ali muito conhecida.
Veio nos princípios da povoação de S. Vicente, como muitos outros nobres
povoadores, na companhia do donatário Martim Affonso de Souza pelos anos de
1531. Juiz Ordinário [1588 e 1592]. Deixou numerosa descendência de seu cas.,
c.1579, com Felipa Vicente [? - 1627, SP], filha de Pedro Vicente de Maria de
Faria, naturais de Portugal, que foram também dos primeiros povoadores e que em
1554 eram lavradores de grandes canaviais e tinham parte no engenho de açúcar
de S. Jorge dos Esramos. Morava em São Paulo em 1584, com fazenda da banda de
Pinheiros (AM, Piratininga, 147; SL, III, 90). Foram quartos avós do padre
Faustino Xavier do Prado, nat. de Mogy, Cônego da Sé de São Paulo, Familiar do
Santo Ofício [1790]. Família de origem argentina, à qual pertence Mercedes
Prado, costureira, que passou para o Rio Grande (Rio Grande do Sul) em 1814
(Registro de Estrangeiros, 1808, 248). No sul de Minas Gerais, principalmente
na atual região de Paraguassu, a penetração dos descendentes do citado João do
Prado (de São Paulo) foi muito numerosa. É de ressaltar Manuel Luiz Ferreira do
Prado, conhecido como “Prado Velho” nascido em São Paulo e estabelecido em
Campanha da Princesa por ter recebido carta de sesmaria. Casado com Tereza
Maria de Jesus Ferreira do Prado, destaca-se, entre os oito filhos do casal, o
filho mais velho, homônimo do pai, casado com Ana Jacinta Pereira de Magalhães,
pais de Manuel Galdino do Prado, esposo de Luisa Amália Horta de Lemos Lemos,
neta do barão do Rio Verde (ver Lemos). Deram origem à família Prado Ferreira,
que retornou retornados a São Paulo após dois séculos e meio em MG. A família
Prado Pereira originou-se do casamento de uma descendente do Prado Velho com um
filho de José de Sousa Ferreira, integrante da cavalaria de S. Majestade El-Rei
D. Carlos, último Rei de Portugal, nascido em 1889 em Valverde, Maceira,
Leiria, Portugal e imigrado para São Paulo em 1910 [Fonte: Silva Leme, Vol. IV
- Prados / O Sertão dos Mandibóias - Fundação de Paraguaçu - Autor: Oscar
Ferreira Prado - 1981 / Certidões originais no arquivo de Fernando J. Prado
Ferreira]. Sobrenome de uma família estabelecida em Mato Grosso do Sul, para
onde transferiu-se Afonso Garcia Prado, nasc. em 04.06.1946, em Pereira
Barreto, São Paulo - Agricultor. Residente na Dourados - MS. Casado com Hitomi
Moura, nasc. em 06.11.48 [Associação Cultura Nopo-Brasileira
Sulmatogrossense - 1988]. Sobrenome de uma família de origem espanhola,
estabelecida em São Paulo, procedente de Lisboa. Veio a 19.02.1885, a bordo do
vapor Tamar, José Prado, natural da Espanha, 40 anos de idade - com destino a
Campinas, SP [Hospedaria dos Imigrantes - São Paulo, Livro 002, pág. 134 -
19.02.1885].
Cristãos Novos: Sobrenome também adotado
por judeus, desde o batismo forçado à religião Cristã, a partir de 1497 [Raízes
Judaicas, 319].
Heráldica: um escudo em campo de
ouro, com um pinheiro de verde arrancado de prata; acompanhado, à esquerda, de
um leão passante de negro (Armando de Mattos - Brasonário de Portugal, II,
86)”.
FONTES:
Dicionário das Famílias Brasileiras. Carlos Barata
e Antônio Cunha. Título: Prados.
Documentos sobre Olivença nos Arquivos de Lisboa.
Maria Cecília Guerreiro de Sousa. Disponível em: www.bibliotecaspublicas.es/olivenza/imagenes/MARIA_CECILIA.pdf
Felgueiras Gayo. Nobiliário de Famílias de
Portugal. Reedição de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Araújo
Afonso, 1938. Título: Prados. Tomo XXIV. Disponível em:
Genealogia Paulistana – Luiz Gonzaga da Silva Leme
– Vol. III – pág. 90 a 136 – títulos Prados
PROJETO COMPARTILHAR – João do Prado